Foi Por Acaso

Capítulo 16 - Como assim?

Resolvo sair do quarto um pouco após almoçar. Calço meus chinelos e vou para a área principal. Apoio-me na proteção e fico observando o mar.

Era incrível como o mundo era tão grande e, ao mesmo tempo, tão pequeno. E era incrível também, como as pessoas eram idiotas para desperdiçar oportunidades num estalar de dedos.

Eu encontrei o cara certo para mim. Ele estava no mesmo barco (literalmente) que eu. E eu iria aproveitar para torná-lo meu? Não! Eu iria deixa-lo ir embora para sempre! E porquê? Por causa de um emprego idiota!

Varro para longe esses pensamentos e logo duas gêmeas loucas chegam.

Juni:- Oie, sua gata!

Carla:- Falaí!

Jeana:- Deixe-me ver se lembro? Juni - aponto para uma.- e Carla?!- aponto para outra.

Juni:- Lembrou melhor que a família!

Rimos umas das outras. Elas me arrastaram para um lugar mais reservado e ficamos conversando durante um bom tempo. Até então, elas não haviam tocado no assunto do Jack, mas de repente...

Juni:- Como vai seu relacionamento com o Jack?

Eu abri minha boca para dizer que ia tudo bem, até que uma mulher passa por nós.

Mulher:- Vocês conhecem o Jack?

Carla:- Sim, é nosso primo.

Jeana:- E meu namorado. Por quê?

Mulher:- Ah, que bom conhecer a namorada dele. Eu sou Anna.

Juni:- E de onde conhece nosso primo?

Jeana:- Alou! Eu sou namorada dele! Não sou prima!

Anna:- Hoje de manhã conversamos na área principal.

Jeana:- Não sabia que ele ficava dando bola para outras mulheres!- falo fervendo de reais ciúmes.

Anna:- Hein? Não, você não entendeu. Deixa eu explicar.

Jeana:- Quem vai explicar essa história agora é o Jack!

Saio de lá batendo o pé e vou direto para o meu quarto. Quando entro, o Jack está no telefone.

Jack:- Ela está amando sim. Mas ela vai ter que saber isso quando voltarmos. Escuta, Cristina, eu estou com medo de que ela descubra tudo antes de chegarmos e...

Jeana:- Então não é só com a tal Anna que você mantém algo escondido, mas também com minha prima?

Ele se vira assustado. Termina a ligação é diz que ligaria novamente depois. A prima é a mesma do baile de máscaras. Sim, ela se chama Cristina.

Jack:- Je, a quanto tempo você está aqui?

Jeana:- O suficiente pra saber de tudo! É incrível como mesmo me namorando, mesmo que de mentira -sussurro as últimas palavras.-, você é capaz de me trair! E com uma mulher qualquer do cruzeiro e minha PRIMA!

Jack:- Jeana, acalme-se. Deixe-me explicar.

Jeana:- Não me dirija mais a palavra até a volta do cruzeiro!

Saio do quarto indo para a área aberta. Eu só queria sentir aquele ar gelado da noite chegando. Por que quando eu encontro o cara que parece ser perfeito, ele se mostra só mais um cafajeste? Algumas lágrimas involuntárias escorrem e eu faço questão de limpá-las imediatamente.

Fico olhando para o mar logo abaixo de mim. Será que eu morreria se me jogasse daqui e fosse sugada pelo motor? Pode ser uma boa idéia. Logo alguém chega do meu lado.

Jack:- Você não entendeu nada e nem deixou-me explicar. Por que você tem esse gênio?

Jeana:- Eu só criei esse escudo durante a vida.- falo olhando-o nos olhos.

Jack:- Seu escudo é fugir e chorar? Vou ser sincero: o meu também é.

Jeana:- Quem diria, um homem metido a machão mulherengo chorar.- falo desviando o olhar.

Jack:- Homem também chora. Não é preciso ser gay pra isso. Um homem de verdade, que não se importam que digam mentiras, chora sim. E se você olhar para mim, perceberá que é verdade.

Quando o olho nos olhos, ele realmente estava contendo algumas lágrimas. Respiro fundo viro-me completamente para ele.

Jeana:- Olha, eu vou ser sincera. Cansei de mentiras na minha vida! Eu já menti muito! Eu menti para você quando disse que te via como um amigo. Eu vejo como muito mais!

Jack:- O que você...

Jeana:- Eu te amo, está bem?! Facilitando todo o seu processo: eu estou perdidamente apaixonada por você! Eu não poderia ter me apaixonado mas não posso escolher isso. Foi involuntário! E agora onde estou? Chorando num cruzeiro, ao lado do meu maior amor, por descobrir que ele é mais um cara igual a muitos outros.

Jack:- Espera...

Jeana:- No meu último trabalho, eu fui para o sítio de um homem que queria rever amigos. Um dos amigos dele quis me estuprar. Sabe em que eu pensei? Eu pensei em você ali, pra me proteger, Jack! Enquanto você devia está onde? Passando com uma outra mulher mais bela do que eu e que você ame mais.

Saio de lá e me jogo na cama. Ponho o travesseiro sobre o rosto e volto a chorar compulsivamente. Só paro de chorar quando pego no sono.

De repente, acordo de madrugada. Descubro minha cabeça e vejo que Jack não está na cama ao meu lado. Me levanto e vou até a área aberta. Ele estava sentado no chão, exposto ao vento tão gelado quanto mais cedo.

Jeana:- Jack, o que faz aqui fora? Está frio.

Jack:- Eu es-estou bem.- responde tremendo.

Jeana:- Não, não está. Você vai ficar gripado. Venha comigo agora, é uma ordem.

Vou até ele e o levanto, com muito esforço. O levo para dentro do quarto e fecho a porta que da acesso para a área. Levo Jack para a cama e o cubro com o lençol.

Jeana:- Você está gelado. Você não devia fazer isso.

Jack:- Você que não devia estar cuidando de um homem que te fez chorar.

Me levanto ignorando seu comentário e vou até sua mala. Pego uma blusa de frio e levo até ele. Visto nele a força.

Jeana:- Você é louco! Além de estar no vento frio da noite escura, ainda fica sem camisa.

Passa um tempo e ele não para de temer. Me sento ao seu lado e o puxo fazendo-o deitar em meu peito e o abraço. Pouco a pouco ele vai parando.

Jeana:- Está com menos frio agora?

Jack:- Um pouco.

Voltamos a ficar em silêncio. Eu simplesmente fico ali o abraçando, acariciando seus cabelos. Logo sinto seu corpo ficando mais pesado. Ele adormece ali e eu fico acordada a noite toda.