Trocamos de roupa e saímos para tomar café. Como estávamos em público, ele pegou na minha mão - o que me surpreendeu muito - e fomos andando para o salão.
Todos já estavam lá. Nos sentamos junto de todos e eu e Jack não trocamos olhares, não falamos nada um com o outro, mal nos tocávamos.
Juni:- Vocês estão estranhos.
Jack:- Quem?
Carla:- Você e a Jeana, óbvio!
Juliano:- É verdade. Mal se tocaram. O único toque que eu vi de vocês desde que chegaram, foi as mãos dadas. Fora isso, você não fizeram nada.
Clara:- Poderíamos até dizer que eram namorados falsos.
Me engasgo com o suco e quase cuspo tudo. Jack me ajuda a recuperar-me e logo se senta.
Jeana:- Que bobagem... (tosse), Clara. Seu irmão só acordou de mau humor hoje. Então nesses dias eu prefiro não fazer muita coisa, pois ele se estressa fácil.
Tio:- Verdade, ele parecia mulher de TPM quando dormia lá em casa e acordava assim.
Todos na mesa rimos. Logo terminamos o café e vou diretamente para meu quarto. Entro e fecho a porta, que é aberta em seguida por Jack e logo fechada novamente.
Jeana:- Isso é culpa sua.
Jack:- Isso o que?
Jeana:- Não se faça de desentendido! Quase fomos descobertos por seu "mau humor". Ninguém é bobo. Não iriam demorar muito para descobrir tudo de continuarmos assim.
Jack:- Não tenho mais direito de ficar de mau humor? E não fui eu que dei bandeira cuspindo o suco quando mencionaram "namorados falsos".
Jeana:- Quer dizer que a culpa é minha então?
Jack:- Quem disse isso? Não fui eu!
Me estresso com ele e simplesmente me tranco no banheiro. Me sento no chão e meu choro se inicia instantaneamente. Não tento fazê-lo parar, deixo que siga até que a vontade passe. Tem muito choro que eu reprimi em minha vida e agora ele poderia sair livre.
Não sei quanto tempo exatamente eu fiquei trancada no banheiro, mas depois de muito tempo eu me levantei, lavei meu rosto e saí. Jack estava sentado na cama lendo o mesmo livro da outra vez.
Imagens daquela noite vieram repentinamente a minha cabeça. Ele era, naquela noite, o Jack que eu conhecia. E agora ele se tornou um homem completamente diferente, só por causa da gravação. É certo que o que fiz foi errado, mas eu pedi desculpas e ele disse que estava tudo bem.
Jeana:- Jack, olhe para mim agora!
Ele abaixou o livro e me olhou.
Jack:- O que foi?
Jeana:- O que está havendo com você? Não vá me dizer que você está chateado ainda pela gravação?
Jack:- Não posso estar chateado porque a pessoa que eu amo acabou com uma surpresa que eu estava preparando fazia tempo num estalar de dedos? Por causa de ciúmes?
Ele não só estava chateado como queria que eu ficasse ainda mais chateada com tudo isso jogando na minha cara.
Jeana:- Quer saber? Eu vou lá agora procurar sua família e abrir o jogo todo.
Jack:- É o que? Jeana, você não pode fazer isso!
Jeana:- Por que não?
Jack:- Vai perder um grande lucro.
Jeana:- Você mesmo disse que me arrumaria um emprego novo onde você trabalha. Pronto, tem a oportunidade.
Saio do quarto e vou em direção a área principal. Eles estavam todos conversando. Dou o primeiro passo a frente e sou segurada pelo braço.
Jack:- Eu não vou deixar!
Jeana:- Você não precisa deixar nada! A vida é minha.
Jack:- Mas eu sei muito bem que meu coração é teu e o teu coração é meu. Eu sei muito bem que você me ama e não adianta esconder isso.
Ele me puxa fazendo com que nossos corpos colassem. Ele me prende com uma das mãos e passa a outra pelo meu cabelo. Ele tira uma mecha de cabelo do meu rosto e passa os dedos suavemente em meu rosto.
Fecho meus olhos e aprecio a sensação. Não importava se eu estivesse magoada, com raiva ou o que quer que fosse. Eu não consigo deixar de gostar dos toques, dos carinhos, de tudo dele. Tudo o que ele fizesse, eu iria aceitar e gostar.
Jack:- Eu sei que você me ama, que ama meus carinhos. Você não resiste a nada que eu faça.
Jeana:- Você só está fazendo isso para que eu não conte nada.
Ele me envolve a cintura com os dois braços agora.
Jack:- Ainda bem que você sabe.- responde sorrindo.
Jeana:- Por que esse medo todo?
Ele não me responde e seu sorriso some. Ele me leva pela mão até o quarto e tranca a porta. Me sento na cama e ele ao meu lado.
Jack:- Você não sabe o quanto está sendo difícil para mim, acordar ao seu lado todos os dias e me lembrar que você é quem eu amo e não me pertence. Você contando para todos, além de revoltá-los contra mim, fará com que joguem a cada dia na minha cara essa realidade. Por favor, deixe-me ter mais um pouquinho desse prazer. Pelo menos até o final do cruzeiro.
Jeana:- Você se envolveu demais, não é?!
Jack:- Muito.
Jeana:- Por quê?
Jack:- Simplesmente não mando no meu coração. Eu o deixo escolher sozinho as paixões.
Jeana:- Eu sei que isso é horrível.
Me deito na cama e ele logo se deita ao meu lado. Ficamos cara à cara.
Jack:- Como sabe? Já sofreu muito?
Jeana:- Sim. Principalmente quando era bem novinha.
Jack:- Eu posso saber o porquê?
Jeana:- Aos meus dez anos, tive minha primeira paixão. Foi justamente pelo único garoto que namorava na minha turma. Eu fiquei tão magoada na época. Alguns anos depois, com meus onze quase doze, namorei o primo da minha amiga. Terminei porque ele também me magoou. Logo me apaixonei novamente por um garoto que morava longe, com treze anos. E, em seguida, no mesmo ano, eu me reapaixonei pelo meu ex, ao mesmo tempo que continuei apaixonada pelo garoto que morava longe e me apaixonei pela primeira vez pelo irmão da minha melhor amiga.
Jack:- Nunca contou a ela?
Jeana:- Deixei que descobrisse sozinha.
Jack:- E ela descobriu?
Jeana:- Depois de um certo tempo, sim. Eu contei a ela.
Jack:- E vocês namoraram?
Jeana:- Não. Ele era muito mais velho. E quando eu achei ter encontrado o cara certo, ele mostrou que eu não devia ter dúvidas e sim a total certeza.
Sorri para Jack e ele entendeu o recado.
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Foi Por Acaso
RomanceSe Jeana estava tentando não se apaixonar pelo seus clientes e por ninguém... Não deu certo. Como não se apaixonar por ele? Um homem tão atencioso, carinhoso (talvez de verdade ou talvez de mentira), tão delicado... Creio que você também se apaixona...