conversa com um aquariano

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O horário marcado no meu rádio-relógio é 6:30, me enrolo entre o lençol e minhas milhares de almofadas espalhadas pela cama. Encaro o teto na tentativa frustada de criar coragem para levantar, mas também em tentar esquecer o pesadelo que tive essa noite.

Parecia tão real que me dá calafrios só de pensar, o medo que senti na ilusão me traz um certo pânico de acontecer de verdade.

Por outro lado penso que ficar me remoendo não irá me ajudar muito a esquecer, sei que é uma culpa que levo igual de quando quebrei o copo preferido da minha mãe e não contei até hoje. Pensado bem, se eu contasse é capaz dela me matar e por isso sinto tanto medo porque sou tão desastrada que é capaz de contar o que escondo sem querer.

Escuto uma batida na porta e a voz da minha mãe me chamando para levantar, coloco o lençol de lado para sentar na cama e me espreguiçar. Meu caminho até o banheiro é curto, já trago comigo meu uniforme e creme corporal.
A minha cara não está tão ruim para quem só conseguiu dormir por 3 horas.

Quando já estou devidamente arrumada vou para o outro cômodo da casa que cheira maravilhosamente à café, minha mãe aparece na sala com uma tigela na mão, ela tem o cabelo preso em um rabo de cavalo alto, as roupas bem passadas e o sorriso no rosto, como sempre. Mamãe se aproxima para me dar um beijo na testa no mesmo tempo em que meu pai se fez presente na sala também, como sempre atrapalhado com sua gravata no qual ele nunca acertava o nó, minha mãe revirou os olhos. Ela não sabia se ele fazia aquilo porque realmente não aprendeu, ou porque era mais cômodo pedir para ela, que em menos de minutos foi feita com perfeição

— Bom dia, Lena — ele deixa um beijo na minha bochecha, retribuo com um abraço desajeitado e vamos juntos para cozinha.

— Que carinha é essa? — minha mãe pergunta com os olhos cerrados, se tem algo em que ela é boa, isso se chama me decifrar apenas com o olhar.

— Não dormi essa noite — faço beicinho, ela me encara confusa, mas decide não perguntar nada.

Desde pequena eu sofro com crises de insônia, sempre pensando em algo ou planejando, então não é novidade se eu disser que passei a madrugada acordada.

Minha mãe deixa a cozinha, pego minha xícara preferida e meu pai me serve com café

— Quais suas aulas de hoje?

— Duas de literatura, sociologia, duas de história e a última de inglês — sorrio meio cansada, ele revira os olhos de brincadeira e bate no meu ombro.

— Boa sorte, literatura é um saco — dou risada junto com ele. Assim que todos terminam o café, cada um vai tomando o seu rumo e como sempre, meu pai é quem me deixa na frente do colégio.

— Bom trabalho! — digo depois de beijar a bochecha dele e saio do carro, já colocando os fones.

A entrada está vazia como de costume, sempre chego cedo demais assim como Gabs. Faço meu caminho até a cantina sem pressa, se pudesse dormiria ali no meio do pátio mesmo porque eu não sou a favor de acordar nesse horário da manhã.

Gabs diz que eu tenho uma mania estranha de interpretar as músicas no dia a dia, por exemplo, se estou escutando Pop normalmente eu chego no colégio sorrindo. Se eu opto por uma Indie, fico meio sombria e o que faz todo sentindo, mas eu nunca entendi o termo "sensualiza no boy" para falar a verdade nunca entenderei.

— Ahá, está escutando The Weeknd? — Gabs pergunta assim que a encontro escorada no balcão da cantina conversando com o Rodrigo.

— Acertou! — faço uma dancinha estranha e os dois caem na risada. Gabriela tem uma queda (enorme) no garoto da cantina, ele tem 21 anos, mas parece ser mais novo. Eu me dou super bem com o Rodrigo, nosso estilo musical é bem parecido o que nos faz ficar horas conversando enquanto Gabs baba por ele.

Dedilhando O AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora