Capítulo 7 - Depois

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Hey little Unicórnios e Dragões *---*

BOA LEITURA!!!

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Uma característica do Sul da Flórida é que em todo lugar que se vai o ar- condicionado é forte, inclusive na igreja. Faz dezoito graus dentro da Nossa Senhora da Medalha Milagrosa quando entramos na igreja no domingo, e é assim desde que Deus inventou o sistema de ar-condicionado central. Para todo o sempre, amém.

Somos famílias da igreja, os Jauregui's e nós: batismos e crismas, jantares com espaguete e escola dominical. Meu pai e Sinu se casaram neste prédio. No ensino fundamental, eu costumava parar a fim de acender velas para minha mãe. Mesmo quando estava deprimida e grávida, eu me sentava logo atrás dos pais de Lauren todo fim de semana no sétimo banco, á direita, e, embora ache que a está altura a família dela e a minha se amem e se odeiem com igual intensidade, o Credo é apenas mais uma coisa que sempre fizemos juntos, até o fim.

Hoje, mal acabei de enfiar os braços gordinhos de Sofia no suéter que Sinu terminou está semana quando Lauren entra acompanhada por Mike e Clara, as mãos dentro dos bolsos do jeans escuro e os óculos escuros pendurados na abertura em V da camisa de botão. Todos, até mesmo Lauren, usam camisa social para ir á missa.

-Oi, gente- sussurra ela quando os Jauregui deslizam para a fileira diante de nós. Meu pai a ignora. Meu irmão apenas olha com raiva. A esposa dele, Taylor (N/A: A cantora Taylor Momsen, aqui ela não é gótica ok? kkkk mais quis coloca-lá pq eu amo muito essa mulher), esta boquiaberta de um modo que me faz querer socar sua cara redonda e estranha: Sim, Tay, ela é bonita. Sim, Tay, ela está de volta.

Meu Deus, gente. Recomponham-se.

Sinu é aparentemente o único membro da minha família com um mínimo de graça, não que isso seja novidade.

-Oi, Lauren- responde ela, a voz marcada, como sempre, por traços da infância passada em Cuba. Ao lado de Lauren, a mãe dela está radiante, iluminada, e por que não estaria? Exatamente como a história prometeu, a filha pródiga retornou- é bom ver você.

Lauren da um beijo na bochecha de Sinu antes de se virar e olhar para Sofia, e, por quase um minuto inteiro, as duas se encaram em silêncio. Não respiro por um momento. Lauren sempre foi cheia de hábitos nervosos, perpetuamente tamborilando os dedos ou esfregando com força um músculo no pescoço- é uma das coisas que encantam as garotas-, mas agora ela fica parada como uma estatua, parecendo que o sangue tinha secado em suas veias.

Clara pigarreia. Sofia se mexe. Lauren olha para mim como se eu tivesse partido o coração pulsante dela.

-Bom trabalho- é tudo o que diz, e dou risada.

Quando estávamos juntas, eu costumava passar as manhãs de domingo na igreja cutucando as costas de Lauren, esperava até que ninguém estivesse olhando e, em silêncio, puxava o elástico da cueca dela, que aparecia por cima da calça. Ela esticava o braço para trás e segurava minha mão, nos duas fazíamos uma guerra de polegares até que Sinu ou Clara reparassem e cutucassem uma de nós ou as duas na lateral do corpo.

-Preste atenção- ciciavam elas, e então se voltavam para o padre e nos deixavam em paz.

Éramos namoradinhas. Uma coisa que aconteceu. Agora acabou. Não tem problema.

No meio do salmo, a agitação de Sofi se transforma em choramingo; o corpo dela está morno e pesado em meus braços. Está de mau humor, só isso. Não dormiu bem na noite passada- nós duas dormimos mal ontem, na verdade- más neste segundo parece que ela sabe o que estou sentindo, toda aquela intuição infantil assustadora. Neste segundo, parece que ela sabe.

Pego-a no colo e sigo para o corredor, porque em mais um minuto nós duas vamos perder a calma, bem no meio de uma leitura da carta de Paulo para os Coríntios: Ouçam, conto-lhes um mistério. Saímos as pressas pelas portas dos fundos, direto para um choque de luz ofuscante.

-Eu nunca gostei muito de apóstolo Paulo mesmo- digo a Sofia depois que nos escondemos no pátio do lado de fora da igreja, feito de arenito e povoado por meia dúzia de estatuas em tamanho natural de anjos e santos, como um coquetel religioso esquisito cujo anfitrião é o apóstolo Bartolomeu. Coloco Sofia de pé e deixo que ela caminhe. O verão no condado de Broward é cruel e assombrado, todas as palmeiras e o emaranhado verde das uvas-bravas envolvem a gruta no gramado. Sofia segura um feixe de barba-de-velho com as mãos gordinhas.

-Minha nossa- digo- o que você pegou ai, menina?

-Mia noxa- repete ela, e sorrio. Sofia é uma criança linda, de cabelos escuros e olhos amendoados, mesmo levando em conta que sou suspeita, já que a gerei. Desconhecidos nos abordam e dizem isso o tempo todo- mia noxa!

Sento-me em um banco de madeira para observa-la. Uma Virgem Maria taciturna vigia do alto de uma fonte seca no canto do pátio, um pedaço de gesso faltando onde o véu deveria tocar o vestido. Penso em minha própria mãe, de quem mal me lembro- apenas uma cascata de cabelo preto e o leve cheiro de lavanda- e imagino se ela teria algum segredo para compartilhar. Passo o polegar pela ponta afiada da pedra, esperando. Sinu reza a Maria para praticamente tudo, e jura que Maria atende sempre, mas se essa mãe ou a minha tiverem algum conselho para dar, no momento, elas estão se contendo.

-Que grande ajuda vocês são- digo a elas e salto para pegar minha filha antes que ela caia.

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Até a próxima lindezas!!! *---*

Duas Vezes AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora