Capítulo 4 - Antes

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Hey little Unicórnios e Dragões *---*

BOA LEITURA!!!

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-Estamos ficando velhas demais para isso- declarou Dinah de súbito. Estávamos a manha toda no balanço do canto do jardim enorme e imaculado dos pais dela: só nós duas, como sempre, os cabelos amarelos como milho de Dinah roçando a grama conforme ela se lançava para trás o máximo que conseguia.

-Nós somos velhas demais para isso- falei. Eu estava de ponta-cabeça no escorrega de plástico, os joelhos dobrados, as mãos tateando, sem sorte, em busca de um dente-de-leão ou alguns capins para arrancar. O pai de Dinah era fanático pelo gramado. Tínhamos quinze anos naquele verão, não dirigiamos ainda, sempre pegavamos carona com dois amigos mais velhos de Dinah- essa é a questão. Cale a boca e balance.

-Esta bem- disse ela, rindo- talvez eu balance- então, pensando melhor e endireitando o corpo com uma sacudida na cabeça de dar tonteira- quer tomar um café?

Franzi a testa. Em um minuto, ficaria quente demais para continuar deitada daquele jeito, mas o motivo pelo qual Dinah queria tomar café era porque a amiga dela, Normani Kordei, trabalhava no Bump & Grind e dava iced mochas de graça, e eu odiava Normani Kordei.

-Você quer café?

Dinah pensou nisso por um momento, os olhos semicerrados por trás dos enormes óculos escuros de aro de tartaruga.

-Não- disse ela, por fim, com um suspiro de derrota- Só quero ir a algum lugar.

Eu estava prestes a sugerir um filme da matinê, ou talvez café na livraria, mas nesse momento a mãe dela surgiu á porta de correr da cozinha, o cabelo do mesmo loiro perfeito de Dinah, mas com um corte curto e sério.

-Meninas?- chamou ela, recostada contra o batente, um pé descalço erguido para coçar o joelho da outra perna- fiz muffins, se estiverem com fome!

-Não cai nessa- disse Dinah imediatamente- Estão cheios de linhaça.

-Não diga isso a ela!- respondeu a mãe de Dinah. A senhora Hansen tinha a audição de um morcego- não estão. Experimente um, Camila.

-Tudo bem- concordei depois de um momento. Eu costumava obedecer, e precisava fazer xixi. Virei o corpo para sair do escorregador e caminhei até a casa pelo verde forte e vivo da grama, o calor bem opressor já no começo do dia- já vou.

-Pegue o baralho também- gritou Dinah, e qualquer plano de deixar o jardim foi subitamente esquecido. Só estávamos jogando jogos de baralhos de idosos naquele verão: bridge, copas. Era uma coisa que Dinah nos colocava para fazer, a mais recente em uma longa sequencia de versões com temas como Tranças de maria-chiquinha e A filmografia de Katherine Hepburn- e papel e caneta!

-Mais alguma coisa, Vossa Majestade?- gritei para ela por cima do ombro.

Dinah deu seu maior e mais bobo sorriso, atirando um chinelo de borracha na minha direção.

-Por favooor?

-Veremos.

Fiz xixi, peguei as cartas no quarto dela e abri a caixa de maquiagem na cômoda de Dinah em busca do gloss labial Risky Business que ela havia comprado no início da semana no shopping. Peguei um pouco de sombra e dois absorventes internos, mas não vi o gloss e estava prestes a desistir quando meus dedos se enroscaram em uma meia lua de prata oxidada em uma corda fina que reconheci- imediatamente, sem nem pensar, como reconhece o próprio rosto no espelho- como sendo de Lauren Jauregui.

Pisquei. Engoli em seco. Fiquei de pé ali por nem sei quanto tempo, o ar-condicionado central zumbindo baixinho ao fundo e meus pés descalços afundando no tapete cinza-pálido que ia de uma parede á outra, com marcas recentes do aspirador de pó da faxineira dos Hansen, Valencia. Por fim, sai- passei direto pela Sra. Hansen, que estava segurando um prato de papel com dois muffins de mirtilo com linhaça, os quais, subitamente, me deixaram um pouco enjoada.

Duas Vezes AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora