Capítulo 5 - Depois

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Hey little Unicórnios e Dragões !!!

BOA LEITURA!!!

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Desço as escadas, distraída, após colocar Sofia para dormir á noite, pensando que posso ler o material da faculdade na mesa de piquenique do quintal. Esta úmido e abafado lá fora, cheio de pernilongos, mas, sinceramente, não é pior do que em qualquer outra noite, e, de toda forma, não consigo ficar dentro de casa.

Passo muito tempo do lado de fora todas as noites, colada á casa com um ouvido atento ao bebe, os pés para cima em uma espreguiçadeira e o lagarto esquisito subindo pelo tronco da laranjeira. O ar úmido faz as páginas dos livros se enroscarem. Faço o dever ou entro no Facebook, falo com Sinu quando ela esta com vontade de conversar. Eu costumava tentar escrever lá fora as vezes, até desistir e parar de me cobrar- a tela em branco era com uma acusação infinita de quem eu costumava ser no colégio, tudo o que disse que faria e não fiz.

Mas hoje meu pai chegou primeiro e já esta trabalhando com afinco no jardim que cultiva desde que Harry e eu éramos bebes, tirando os pulgões dos tomateiros. Papai está ouvindo Sarah Vaughan pela janela da cozinha. Há terra nas linhas das palmas das mãos dele.

Quase me viro e fujo do problema indo embora- ainda estou com raiva dele pelo que houve mais cedo, com certeza, mas essa não é a historia toda, nem de longe. Eu soube assim que o vi que o aparecimento de Lauren liberaria todo tipo de coisa ruim para meu pai, e só de ficar perto dele sou tomada por uma sensação familiar de frustração e vergonha. Por um segundo, tenho dezesseis anos de novo, estou grávida e desesperada, cada plano cuidadoso para meu futuro se desfaz como sementes ao vento.

Mesmo assim: isso foi antes.

-Como está?- arrisco, cruzando o quintal para ficar perto dele. O piso esta quente sob meus pés.

Meu pai ergue o rosto para mim, depois volta a olhar para as plantas altas e esguias. O médico dele diz que jardinagem faz bem para o coração, embora não seja por isso que meu pai mantém o hábito.

-Tudo bem, acho- ele suspira e esfrega uma folha verde espinhenta com o dedão- preocupado com o apodrecimento- observo-o ir até a abobrinha, de um amarelo forte. Vai terminar nos arbustos de rosas de Sinu, como sempre, podando-os antes que subam pela lateral da casa e tomem conta dela como trepadeiras dos contos de fadas.

Muitos tempos atrás tínhamos uma piscina elevada no quintal, mas meu pai tirou-a quando éramos crianças, alegando altos custos de manutenção e estatísticas de afogamento infantil.

-Além disso- dissera ele na época- Mike e Clara ficam felizes em receber vocês lá. Podem usar a piscina deles sempre que quiserem.

É verdade que Harry e eu passávamos horas lá quando éramos pequenos, pulando da plataforma de mergulho e dando cambalhotas na água azul cristalina. Tento imaginar isso agora, aparecer com Sofia de biquíni. Só vamos nadar. Talvez valha a pena só para ver a cara de Clara.

- O que foi?- pergunta papai, e começa a mexer nos pimentões. Poda tudo com precisão.

Recobro a atenção.

-Hum?

-Você estava rindo.

-Ah- nem percebi que ele estava olhando. Algo me diz que papai não se divertiria tanto com a imagem mental quanto eu- foi sem querer.

Contei a meu pai que estava grávida e ele não falou comigo por onze semanas. Só o culpo um pouco: os pais dele morreram quando tinha setes anos, e ele foi, literalmente, criado pelas freiras da Paróquia Saint Tammany, na Louisiana. Papai pretendia se tornar padre até conhecer minha mãe; ele se confessa toda sexta-feira e tem uma medalha de São Cristovão sob a camisa. No coração, papai é músico, mas, na alma, é o mais serio dos coroinhas, e o fato de ele não ter me mandado para um convento até que eu tivesse o bebê é provavelmente um testemunho da misericórdia do Deus para o qual sempre rezamos em minha casa.

Melhorou depois que Sofia nasceu- melhorou, suspeito, depois que eu não estava tão visível e agressivamente redonda- e no último ano, mais ou menos, chegamos a uma trégua desconfortável. Mesmo assim, a raiva que ele guarda de Lauren é quase infinita, e não me surpreende que eu seja pega nessa maré agora que minha suposta namorada voltou.

Penitência. Certo.

-Eu ia ler aqui fora um tempo- digo, por fim, por falta de coisa melhor. Ainda estou segurando o livro debaixo do braço.

Meu pai franze a testa.

-Esta escuro para isso, Camila.

Vá embora, é o que ele quer dizer. Não sei por que me sinto impelida a tentar.

-Esta escuro para catar pulgões também- observo.

Papai suspira de novo, como se eu estivesse sendo difícil de propósito, como se deliberadamente deixasse de entender.

-Bem- diz ele depois de um momento, e, quando por fim se vira para me olhar, esta tudo silencioso que consigo ouvir os sprinklers do gramado dos vizinhos ciciando sem papar ao lado- acho que tem razão.

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Até a próxima !!! *----*

Duas Vezes AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora