Hi little Unicórnios e Dragões *---*
BOA LEITURA!!!
-------------------------------
Depois de voltar da casa de Lauren, fechei a porta do meu quarto e guardei todos os livros de viagem, joguei mapas na lixeira. Arranquei os pôsteres de Paris e de Praga. Peguei o casaco de inverno que tinha comprado para Chicago. (''sei que estou me adiantando um pouco'', dissera Sinu quando me mostrou um catálogo, ''mas é bom estar preparada''), e o enfiei no armário, bem no fundo, no lugar em que Lauren e eu tínhamos nos agarrado na tarde do casamento de Harry e Stef. Imaginei que conseguia sentir o cheiro dela, de leve, como sabonete.
Precisei fazer duas pausas para vomitar.
Quando enfim terminei, sentei no meio do chão do quarto por um tempo, olhei em volta para as prateleiras vazias e para as paredes nuas. Inclinei o corpo e encarei o teto, as duas mãos no estômago. Chorei por um tempo. Pensei.
Por fim, caminhei escada abaixo, para onde Sinu estava refogando cebolas, sussurrando uma letra de Alejandro Sanz.
-Molho de carne- disse ela para mim, em vez de oi, então:- não sabia que estava em casa- apoiou a mão fria em minha bochecha, como se estivesse verificando se eu estava com febre, algo que ela sentia, mas não podia comprovar- está se sentindo melhor?
Dei de ombros e então a abracei, impulsivamente e com força. Sinu tinha um cheiro de roupa limpa, familiar, de baunilha e casa.
-Estou bem- consegui dizer, inspirando o cheiro de Sinu para tentar me manter equilibrada- estou bem.
-Bom- disse ela, e beijou minha têmpora. Sinu pareceu surpresa, e me ocorreu que talvez eu não a deixasse me abraçar fazia um tempo- arrume a mesa, então.
Fiquei pela casa um tempo depois daquilo, lendo ao lado de Sinu e seguindo meu pai na jardinagem, colhendo minúsculos morangos vermelhos. Eu queria, de maneira um pouco bizarra, passar algum tempo com os dois enquanto tinha a oportunidade: sabia que os perderia de qualquer maneira, como se eu fosse me mudar para o outro lado do mundo. Sabia que os dois jamais me olhariam da mesma forma de novo- e, sinceramente, eu não tinha certeza de que desejava que olhassem. Mesmo assim, parte de mim já sentia saudade deles, e eu queria aproveitá-los enquanto podia.
Então, sequei os tomates, ajudei Sinu com o jantar e me acostumei com o modo como minha vida seria. Sentei no quintal sob as laranjeiras e tentei dizer a mim mesma que poderia ser bastante, que eu poderia ser feliz daquela forma, que não estava apavorada e sozinha, que as paredes não estavam se fechando dos dois lados.
Achei que ela pudesse ligar. Observei o telefone como uma sentinela.
Ela não ligou.
No sábado a noite, meu pai estava zapeando entre filmes antigos na TV a cabo, tônica e lima na mesa ao lado. Ele me olhou com um pouco de curiosidade quando entrei.
-Oi, querida- disse papai, e me abraçou com o braço pesado. Ele parecia tão feliz ao me ver que quase partiu meu coração- não vai sair?
-não- Falei, e fiz o máximo que pude para manter a voz tranquila- vou ficar bem aqui.
Todos, menos eu, levaram mais de uma semana inteira para perceber que Lauren tinha partido.
Acho que não podia culpa-los por completo. A frequência de Lauren no trabalho e nos jantares em família era esporádica, para dizer no mínimo; ela ia e vinha da casa de estuque aos pedaços conforme queria. Então, quando não apareceu para os turnos durante uns dois dias e depois uns dois dias depois desses... bem.
-Droga, Lauren- ouvi Mike murmurar uma noite, cuidando das torneiras do bar no meio da correria do jantar- um chute no meu saco.
Se eu suspeitasse que Lauren não voltaria tão cedo- e era mais de que suspeita, sinceramente; era algo que eu sabia bem, no fundo- de certo não contaria. Não estava falando quase nada. Eu ia para a escola, trabalhava no restaurante e mantinha a mente rigorosa e tediosamente vazia; sempre que tentava pensar no que estava acontecendo ou fazer algum tipo de plano, meus pensamentos apenas... se dissipavam. Eu me sentia debater ao longo dos dias, enroscada em um emaranhado espesso de cobertores, tudo abafado e vindo de algum lugar distante.
Não sabia como lidar com o que estava vindo.
Então não lidei.
Isso funcionou um tempo. Fiquei na minha. Sabia, em algum lugar no canto mais escuro de minha mente, que precisaria contar em algum momento, sobre Lauren e tudo o mais, mas, conforme os dias se passavam, alguma parte pequena e insana de mim começou a achar que talvez eu tivesse inventado a coisa toda. Talvez tivesse imaginado fazer o teste no banheiro de Nina. Talvez nunca tivesse ficado com Lauren.
Uma tarde, no fim de maio, entrei pela porta da frente um pouco mais tarde do que o normal, depois de ter passado uns bons quinze minutos encarando o conteúdo do armário sem qualquer idéia de que livros poderia precisar levar comigo, então consegui virar duas vezes em ruas erradas conforme voltava para casa da escola. Era um pouco assustador. Eu tinha problemas de motivação demais para me importar.
Eu iria direto para o andar de cima, para o quarto- tinha passado muito tempo encarando a parede- mas papai e Sinu estavam sentados no sofá, lado a lado, como dois soldadinhos de chumbo.
-Oi, Camila- disseram eles quando entrei.
Hesitei.
-Hã- falei, deixando a mochila no chão, onde fiquei. Eu me sentia levemente enjoada- oi.
Meu primeiro pensamento foi que sabiam, de alguma forma, sobre o bebê, que tinham intuído, apenas por me conhecerem, e a onda de alivio que senti naquele momento foi violenta e imensa. Então, percebi que não era nada disso.
-Precisamos conversar sobre Lauren- disse Sinu para mim- Mike e Clara precisam saber onde ela está.
-Lauren? - repeti. Senti uma vontade repentina e ridícula de gargalha- não faço ideia.
-Camila- disparou papai- não é hora de brincar...
-Ale- interrompeu Sinu; então se virou para mim:- soube dela? Vocês duas brigaram?
Sacudi a cabeça uma vez e me sentei com força na poltrona, a sensação era de um colapso físico. De repente, estava muito, muito cansada.
-Ela deu o fora- falei, dando de ombros- não sei para onde. Mas acho que não vai voltar.
Aquilo pegou os dois de surpresa; não sei o que estavam esperando que eu contasse, mas não era aquilo.
-Quando? - perguntou Sinu, baixinho.
-Há uns dez dias? - chutei. Os dias tinham começado a se misturar numa escuridão interminável, semanas inteiras passavam como um borrão. Eu não conseguiria guardar aquele segredo por muito mais tempo- duas semanas?
Papai ouvia em silêncio, o olhar sombrio fico em minha direção.
-Camila, querida- disse ele, obviamente espantado- por que não contou?
Respirei fundo, ergui o queixo para entrar na dança.
-Há muitas coisas que não contei- comecei.
Dizer que papai não aceitou bem minha gravidez seria chamar um furacão de nível cinco de brisa inconveniente. Ele gritou- Cristo, ele gritou comigo, todo tipo de acusação odiosa em que jamais quero pensar de novo. Chorei. Sinu chorou. E papai chorou também.
Então, veio a calmaria.
Sinu entrava em meu quarto algumas noites, esfregava minhas costas e sussurrava orações em meus ouvidos. Nina segurava minha mão e me contava piadas. Elas faziam o que podiam para me acalmar, para me fazer sentir menos sozinha; mesmo assim, passei aqueles longos e embaçados meses sem ter certeza de nada, apenas da sensação de estar gritando de pé na beira de um precipício, esperando por um eco que se recusava a vir.
------------------------
Entramos em reta final babys :(
Até o próximo capítulo *---*
VOCÊ ESTÁ LENDO
Duas Vezes Amor
FanfictionAntes, Lauren Jauregui era o amor de toda uma vida. Depois, A namorada que a abandonou gravida. Antes, Lauren era a mulher misteriosa que nunca foi pega desprevenida, sempre aberta para o inesperado. Depois, Ainda é um mistério. Adap...