Capítulo 26 - Antes

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Hey little Unicórnios e Dragões *---*

BOA LEITURA!!!

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Por Deus, ela não ligou.

Tipo...Nunca.

Os dois primeiros dias depois que dormi lá não foram tão ruins. Ela devia estar ocupada, imaginei, e fiz questão de não olhar o celular- de tentar não ser aquele tipo de garota. Tinha dever de casa para terminar. Tinha textos para escrever. Na segunda-feira, trabalhei em uma festa no restaurante, enfiei as gorjetas nos bolsos no fim da noite e disse a mim mesma que eram as primeiras economias para as aventuras incríveis que estavam me esperando depois da formatura.

Estava tudo bem, prometi a mim mesma no espelho do banheiro feminino. Estava tudo bem.

Más dois dias viraram três, e então cinco, logo, uma semana tinha passado. Eu queria arrancar minha pele. Rodei, deprimida, o Mercado de Pulgas, onde a banda dela ensaiava. Liguei para meu celular do telefone fixo, para o caso de, por algum motivo, ter parado de receber sinal em casa.

-Bem- murmurei quando tocou; pensava em papai, pensava em Dinah, pensava em todas as coisas que eu não sabia de verdade. Bem.

Não chorei. Fiz planos, em vez disso. Desenterrei todos os meus livros de viagens e comprei um punhado de livros novos, refazendo as antigas rotas e anotando: Macedônia e Mikonos, Joshua Tree e Big Sky. Pesquisei preços de excursões ás pirâmides no Kaiak e no Expedia. Fiz tours virtuais a hotéis em Praga.

Aquilo dava certo de vez em quando.

Em outras noites, nem tanto.

Cansada de me ver andando de um lado para outro no corredor do andar de cima como um animal enjaulado, Sinu me mandava para a rua, em qualquer tarefa na qual conseguisse pensar: leite, Tylenol, depósitos bancários. Eu ligava o ar-condicionado e dirigia. Isso nem sempre ajudava também: certa noite, perto do dia dos namorados, enfim cedi e fui para o sul, pela 95, na direção da casa de Lauren, com as roupas de papai saídas da lavanderia e cobertas em plástico no banco traseiro. As janelas estavam escuras e a entrada da garagem, vazia. Passei mais uma vez para me certificar.

-Então, tudo bem- disse Nina quando confessei, comendo batatas fritas no refeitório na tarde seguinte, a cabeça nas mãos sobre o triste copinho de iogurte. Nina tinha terminado com a namorada estrela do futebol no Natal, passara mais ou menos o recesso todo jogada na minha cama assistindo a todas as seis temporadas de Lost em DVD e murmurando respostas monossilábicas sempre que eu perguntava se estava tudo bem. Imaginei que relacionamentos basicamente eram uma droga, não importava de que lado você estava na escala Kinsey- foi um momento de fraqueza.

Limpei o armário. Entrevistei o casal que interpretaria Sandy e Danny no musical de inverno para o jornal. Passei pelo escritório da Sra. Bowen- de novo- para ter certeza de que a Northwestern tinha recebido todo o material da minha inscrição.

-Estamos com tudo certinho, Camila- prometeu ela, a testa lisa se enrugando um pouco ao olhar, do outro lado da mesa, na minha direção. A Sra. Bowen usava o cabelo preto em um coque alto. As unhas curtas dela estavam pintadas de um vermelho-arroxeado profundo- nada a fazer a não ser relaxar e esperar.

-Eu sei- falei, e, mesmo ao tentar abafar, senti a ansiedade transparecer na voz. Relaxe e espere era a história da minha vida ultimamente; era difícil aguentar isso dela, além de todo mundo- eu só...- passei a mochila para o outo ombro, enrolando. De repente, senti uma estranha vontade de chorar- é muito importante que eu seja aceita, só isso.

-Camila- agora ela parecia mesmo preocupada, todos os instintos de psicóloga emergindo de uma vez- você está bem?

Nossa, por um segundo, quase contei tudo a ela: sobre Lauren e Dinah e sobre como me sentia sozinha ultimamente, o quanto precisava sair daquele lugar. O modo como ela me olhava- o rosto convidativo e inteligente- me fez pensar que a Sra. Bowen ouviria. Algo nela me fez pensar que ela poderia me ajudar. Mesmo assim, desabafar justamente com a psicóloga da escola? Que ridículo. Que absurdo.

-Sim- falei, forçando o sorriso mais alegre que consegui. Eu devia parecer degenerada- estou ótima.

Tirei A em todas as provas. Fui até Lauderdale para fazer compras com Nina. Comecei a ler Collected Poems, de Sylvia Plath, mas isso deixou Sinu muito nervosa, então mudei para Jane Austen, para que ela pudesse dormir sem se preocupar se eu colocaria a cabeça dentro do forno ou algo assim.

O que eu não faria.

Provavelmente.

Eu me sentia tão incrível e imperdoávelmente burra, essa era a pior parte- o tipo mais abominável de estereotipo, o tipo mais burro de tola. Eu me lembrei da noite da festa na casa da Dinah, o olhar de pena no rosto delineado e familiar dela: você definitivamente não aguentaria transar com Lauren Jauregui. Eu tinha transado com Lauren, sim- dera a ela algo que não poderia reaver-, e, agora que ela havia conseguido, fim de jogo, obrigado por jogar. Era nojento. Era previsível.

Doía mais do que qualquer coisa na minha vida.

Semanas se passaram. A vida segui. Á noite, eu suspirava e mapeava meu futuro, encarava a lua do lado de fora da janela e imaginava para onde, diabos, eu poderia ir.

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Até o próximo *---*

Duas Vezes AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora