28: Um monstro

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      Tio Joseph se resignou quando Carlisle disse para arrumar as minhas coisas porque partiriamos para o castelo naquele mesmo dia, Carlisle disse que não havia necessidade de fazer minhas malas pois ele já havia comprado tudo que eu precisa se, então só fui até o meu quarto para mi despedir de Annabelly e pegar algumas coisas minhas que eu queria levar comigo... quando entrei no quarto Branca estava sentada na frente do espelho e quando ela me viu rapidamente se levantou.
-Desculpe senhorita eu...
-Não tem problema Branca... vejo que vocês duas se tornaram amigas, isto é ótimo. Disse e eu e Branca nos sentamos na frente do espelho.
-Irmãzinha que bons ventos a trazem de volta pensei que não voltasse mais. Disse Annabelly, eu sorri para ela e pousei minha mão no espelho... como eu contaria a ela?...
-Você parece triste o que foi?. Perguntou ela... olhando em meus olhos, estava tão evidente assim? Perguntei-me.
-Tenho que lhe contar uma coisa... duas, ou três aliás. Disse a Annabelly, Branca segurou minha mão, eu estava quase chorando.
-Está me assustando Lena.
-Ontem descobrimos que o noivo de Giovanna também era seu noivo. Contei... ela levou a mão até a boca, chocada.
-Deus meu... como isso é possível?.
-Ele usava Giovanna para se aproximar de mim. Disse, e a raiva lampejou pelos seus olhos e os meus... os dela ficaram mais sombrios.
-Como pude me deixar enganar por aquele monstro?!. Gritou ela e seu grito fez com o que o espelho treme-se.
-Annabelly por favor se acalme... o espelho. Alertei a ela... Branca e eu nos levantamos.
-E se ele também tiver usado a mim?. Perguntou ela, a raiva dando lugar ao pesar.
-Annabelly...
-Me sinto tão culpada...
-Nada disso foi sua culpa! Pare com isso, por favor, foi Laerte... ele é único culpado. Disse e quando disse aquele nome... sua imagem que antes era nítida no espelho, oscilou.
-Era esse o nome dele... agora eu me lembro... Laerte... Laerte. Disse Annabelly olhando o vazio.
-Annabelly? Annabelly?!. Chamei por ela... mas ela não parecia me ouvir.
-Eu me lembro. Sussurrou ela e seus olhos me encararam melancólicos.
-Do que você se lembra?. Perguntei e fui até ela... as finas rachaduras que tinham no espelho desapareceram.
-Não é muita coisa... só lembro me da forma como ele a olhava, me lembro de desejar que ele olhasse para mim da mesma forma... você era cega e adorava ficar no balanço perto do Roseiral e ele sempre a olhava de longe mesmo estando comigo... ele nunca me amou... nunca. Disse Annabelly sentando-se no chão como se sentisse um mal estar... eu me ajoelhei na frente do espelho e coloquei minhas mãos nele.
-Annabelly você está bem?. Perguntei, ela ergueu a cabeça e olhou em meus olhos... os seus estavam cobertos de tristeza.
-Que tola eu fui, cega de fato... ele também usou-me para chegar a você... me perdoe irmã. Disse Annabelly, a expressão distorcida por uma culpa que não lhe cabia... ela também colocou as mãos no espelho em baixo das minhas.
-Você não tem culpa meu amor... agora eu também tenho que lhe contar outra coisa mas eu não quero deixá-la triste. Disse, olhei em seus olhos buscando forças para contar a ela.
-Me conte Lena.
-Carlisle vai me levar para morar com ele... agora. Sussurrei para minha doce irmã Annabelly... ela sorriu embora houvesse tristeza em seus olhos.
-Não se preocupe com isso meu amor... ele já havia contado o que planejava fazer.
-Não está chateada comigo por eu ir embora?. Perguntei, ela suspirou.
-Não minha irmã... só quero que prometa que será muitíssimo feliz com seu eterno amado. Disse ela... mas ainda assim eu não conseguia deixá-la sozinha.
-Queria que tivesse um jeito de levava comigo... nosso pai gostaria muito de revê-la.
-Lena...vivi mais ou menos duzentos anos nesta casa... já me acostumei e... Branca pode me fazer companhia assim como os outros que aqui moram... mas você minha irmã você tem que ser feliz.
-Tem mais uma coisa que quero contar. Disse com entusiasmo, ela sorriu para mim mas antes que contasse, antes que dissesse mais alguma coisa, ouvimos uma risada sombria vir da sacada, as cortinas finas que cobriam as janelas e a porta de acesso a sacada e apenas uma sombra escura de alguém estava em pé atrás da cortina... uma figura alta ... meu coração disparou naquele instante quando uma mão branca afastou a cortina em um suspense sufocante revelando a figura de olhos verdes com um sorrisinho debochado em suas feições era ele... inutilmente eu me levantei mas minhas pernas me traíram e eu cai no chão de joelhos... ele veio até mim lentamente...
-Não!!!. Gritou Annabelly, ele se virou para o espelho... estava na cara que não tinha percebido que Annabelly estava lá... e seu espanto foi tal que ele pulou para o lado mostrando presas brancas como ossos... o rosto de Annabelly foi irreconhecível... seus olhos ficaram completamente negros junto com as veias de seu rosto formando pequenas fissuras escuras ao redor de seus olhos como fendas que pareciam estar abertas... ela gritou mais uma vez, um grito agudo e ensurdecedor... Laerte rosnou... de repente ouço um estrondo vir atrás de mim quando me virei abruptamente com meus olhos arregalados de um medo incontrolável... era Carlisle... ele tinha arrancado a porta e seus olhos ficaram repletos de uma fúria insana quando ela viu quem estava em meu quarto... suas presas brancas estavam expostas, ele olhou para mim ainda ajoelhada no chão... eu queria correr até ele mas minhas pernas não me obedeciam.
-Carlisle... tire Helena daqui agora!. Gritou Annabelly sua voz estava diferente mais grave... e assustadora... aos tropeços tio Joseph apareceu na porta.
-Leve ela lá para baixo agora!. Disse Carlisle me pegando no colo e me entregando a tio Joseph em um segundo... mas antes que ele me tirasse de lá... as paredes do quarto começaram a rachar e com mais um grito perturbador de Annabelly... o espelho se quebrou em vários pedaços que voaram em cima de Laerte como facas afiadas perfurando-o.
-O espelho... não!. Gritei vendo seus cacos caírem no chão e com eles minhas lágrimas e uma parte do meu coração também.
-Leve-a daqui agora!. Gritou Carlisle para tio Joseph pulando em cima de Laerte como um urso enraivecido... tio Joseph correu comigo em seu colo mas ele era lento e eu era pesada de mais para ele, foi aí aque eu reagi.
-Annabelly!. Gritei... pulando para o chão, tentando desesperadamente voltar ao quarto mas tio Joseph me segurava pelo braço... ele me puxava pelo corredor quando viramos para ir em direção a escada... Benjamin estava lá com seu rostinho angelical assustado mas ele não estava sozinho, um par de mãos brancas com unhas vermelhas compridas estavam em seus ombros... Mercy... seus olhos verdes eram inconfundíveis... ela sorriu para mim como se tivesse ganhado um prêmio.
-Olá... Helena, seu filho é lindo, igualzinho ao pai. Disse ela... mas eu não prestei atenção, meus olhos estavam focalizados nas suas mãos em meu filho.
-Tire suas mãos imundas de cima do meu filho agora!. Esbravejei... ela ficou séria por um momento mas depois riu.
-E se eu não fizer o que vai fazer?. Perguntou ela, eu não sei como e com que força eu consegui me libertar de tio Joseph mas eu consegui e fui pra cima dela, eu não sei o que ela viu em meu rosto... mas ela soltou Benjamin... ele veio até mim e eu o peguei no colo.
-O que vocês pretendem com tudo isso?. Perguntei a ela, a encarando.
-Você não entenderia... ele quer você e não vai descansar enquanto VOCÊ não estiver ao lado dele... meu irmão a ama, ele quer que você sofra assim como ele sofre por você, ele quer ver você morta mas não consegue ficar sem você... você não percebe? Ele está cego. Disse ela, Ben chorava baixinho em meu colo.
-Shhh... calma querido está tudo bem. Disse beijando seus cachinhos negros, Mercy franziu o cenho.
-Você é uma ótima mãe... sempre foi... desde que ele era um bebezinho.
-Sim... mas eu não pude vê-lo crescer por culpa do seu irmão. Disse enfurecida, pela primeira vez eu vi alguma coisa naqueles olhos além da maldade e do ódio... ela parecia estar infeliz.
-Nós éramos amigas Helena mas no fim eu tive que escolher... e eu escolhi ele, meu irmão... eu lamento muito tudo o que está acontecendo. Disse ela e sua expressão era sofrida.
-Eu não a entendo Mercy... você me odeia.
-Não, eu não a odeio... adimito que já cheguei a sentir raiva mas não teria porque eu odiar alguém que não fez mal algum a ninguém... a verdade é que eu também estive cega assim como você... só que você era pura, não via a maldade, eu via, mesmo que a escuridão estivesse em seus olhos você conseguia enxergar melhor do que eu... você não percebia os monstros que estavam ao seu redor pois não podia ver mas você conseguia enxergar alguma coisa dentro de nós... algo que sempre permaneceu escondido atrás de nossos atos monstruosos até que um belo dia um desses monstros mudou por você... mas havia outro monstro que também a amava e este se afundou em sua amargura por ter tirado a sua vida, ele matava para se alimentar mas depois que ele tirou sua vida... ele matou impiedosamente torturando suas vítimas até a morte e sua irmã e sua mãe experimentaram isso... e o monstro se tornou seu pior pesadelo. Disse ela, eu estava perplexa demais para dizer qualquer coisa... Carlisle apareceu ao meu lado e rosnou para Mercy.
-Onde está o meu irmão?. Perguntou ela rispidamente.
-Ele escapou. Disse Carlisle... dando um passo em direção a ela mas eu peguei sua mão e olhei em seus olhos.
-Deixe que ela vá, ela não quer me fazer mal. Disse e ele suspirou, olhei para ela e assenti... ela recuou alguns passos e se foi, eu olhei para Carlisle de cima a baixo... nem um fio de cabelo estava fora do lugar, suspirei aliviada.
-O que foi?. Perguntou Carlisle, eu olhei para tio Joseph ele estava parado se apoiando na parede com as mãos nos joelhos... fui até ele... ele olhou para mim parecia estar a ponto de desmaiar.
-Tio o senhor está bem?. Perguntei, Carlisle o ajudou passando o braço dele por cima de seu ombro e o apoiando na lateral de seu corpo... estávamos no meio do corredor quando olhei para trás em direção ao meu quarto e me lembrei dos cacos caindo no chão... Annabelly, Annabelly, Annabelly, pobre Anna.
-Annabelly. Sussurrei e era um lamento com aquela sensação horrível de que eu tinha perdido mais alguém, corri com Ben em meu colo até o quarto e quando cheguei lá... fui até o espelho... os cacos estavam espalhados pelo tapete... minhas pernas enfraqueceram e eu afundei de joelhos no chão, peguei um caco de vidro.
-Mamãe o que foi?. Perguntou Ben erguendo a cabeça para olhar em meus olhos.
-Nada meu amor só me abrace por favor. Disse pousando minha cabeça em seu ombrinho... senti braços me envolverem, era Carlisle... eu olhei em seus lindos olhos tentando entender por que tudo estava acontecendo por minha causa... por que as coisas teriam que ser daquela forma.
-Sinto muito Helena. Disse ele me abraçando firme em seus braços.
-Como está tio Joseph?. Perguntei enquanto olhava os cacos espalhados no tapete.
-Vai se recuperar... eu o levei até o quarto dele. Disse Carlisle, ergui a cabeça para olhar em seus olhos... algo o incomodava.
-Carlisle o que há com você?. Perguntei seus braços estavam um pouco tensos ao meu redor.
-Seu tio me contou...
-O que ele contou?. Perguntei vendo a hesitação em sua expressão.
-Seu pai não cometeu suicídio. Disse ele... ele nem precisou terminar para eu saber o que realmente tinha acontecido.
-Laerte. Sussurei... ele assentiu... e eu voltei meu olhar para os cacos, meu coração parecia estar exatamente da mesma forma... só que em milhares de fragmentos que eu não sabia como ainda podia bater em meu peito, me lembrei do que Mercy havia me dito... seu irmão queria que eu sofresse.

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