15: Conflito interno

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      Coloquei na minha cabeça que estava pirando... alimentando esperanças por alguém que mal conhecia, Annabelly disse que eu estava ficando louca de pensar assim que eu devia deixar as esperanças ainda mais vivas em mim... mas eu estava tão descrente e tão deprimida com a minha vida que nada de bom poderia acontecer, não quando eu tinha uma nuvem negra carregada pairando sobre minha cabeça que me impedia de ter qualquer esperança... eu ainda vivia o luto, isto era real, não podia me permitir ter esperanças do contrário eu iria me machucar, de qualquer forma eu estava no balanço mas já não esperava que ele aparecesse, afinal o que poderia fazê-lo voltar a este mesmo lugar? Para me ver? Não, não mesmo. De olhos fechados no mar de sombras respirando o maravilhoso perfume das rosas... decidida que eu a matar aquela esperança ou ela morreria sozinha sem precisar que eu me desse o trabalho de mata-la dentro de mim... como muitas outras coisas dentro de mim que morreram sozinhas ou que foram arrancadas à força... estava decidida a esquece-lo... senti meu coração ferido se comprimir com a minha decisão e aquilo já era demais para mim, era total e absolutamente ridículo que eu estivesse chorando mas estava, eu me levantei do balanço inquieta com o conflito interno que me atacara naquele instante mas minhas pernas fraquejaram ou tropecei nos próprios pés e cai de joelhos no chão, o ar me faltava, a dor surgiu repentina e inesperada me sufocando depois senti braços longos envolverem minha cintura... instintivamente ergui o rosto.
-Porque está assim? O que foi?. Perguntou ele com uma voz alarmada, seus olhos azul-turquesa estavam angustiados... ele estava aqui, ele veio... olhar em seus olhos, naqueles olhos, só fez com que meu desespero aumentasse... sentia que deveria me afastar dele e ir embora mas eu não conseguia, ele parecia atormentado.
-Por favor diga-me porque está chorando?. Pediu ele, eu sabia do que tinha medo, do que estava me matando... eu tinha medo de me envolver com ele, de me apaixonar por ele e depois quando eu menos estivesse esperando ele se fosse para sempre... como elas se foram... não sabia até onde eu conseguiria aguentar se eu perdesse mais alguém, ele podia ver isso em meus olhos o medo que eu tinha mas ele também tinha medo de alguma coisa, seus olhos estavam vulneráveis demais com o que ele enxergava nos meus...
-Estou com medo. Admiti a ele, ainda em seus braços imóvel.
-Também tenho medo. Suspirou ele, inclinando-se ainda mais perto, ele afastou o cabelo do meu rosto, deslizando o polegar pela minha temporã, fechei os olhos ao sentir seu toque suave em minha pele devolvendo-me algo que havia perdido... respirei fundo e abri os olhos.
-Qual é seu nome?. Perguntei, ele me apertou de leve em seus braços e contrariando mais uma vez minha razão eu encostei a cabeça em seu ombro e suspirei... era como se estivesse em casa.
-Carlisle. Murmurou ele pousando o queixo sobre minha cabeça, quando ele disse seu nome eu congelei e me lembrei de um sonho que a muito tempo não me atormentava mais, um sonho em que eu estava na mais completa escuridão e eu chamava desesperadamente por esse nome, esse fazia parte daquela coletânea de pesadelos sem sentido que volta e meia me assombrava.
-Carlisle. Sussurei me afastando um pouco para olhar em seus olhos e estuda-lo, ele parecia estar sofrendo.
-Que estranho... é exatamente o mesmo nome que eu... chamava... nos meus sonhos...
-Como eram esses sonhos?. Perguntou ele colocando-se de pé e estendendo a mão para mim, ele me ajudou a me levantar assim que segurei sua mão... durante um minuto inteiro eu sondei seus olhar, minha mão na dele.
-Escuros... principalmente. Respondi, ele indicou o balanço com um sorriso leve, eu me sentei e ele começou a me empurrar de leve.
-Sim acredito que era a mim que você chamava em seus sonhos. Disse ele pausadamente cada palavra, eu parei e me virei para encara-lo certa de que podia ser brincadeira, ele se abaixou sobre os calcanhares para me olhar... ele não parecia estar brincando.
-Impossível, não pode ser... eu nunca o vi antes, eu me lembraria de você.
-Foi a bastante tempo Helena, claro que não poderia se lembrar de mim. Disse ele, eu congelei de novo.
-Como sabe meu nome?
-Seu nome é Helena?. Perguntou ele igualmente surpreso, uma vaga ideia de que ele podia estar me confundindo com alguém me passou pela cabeça, eu assenti e sua testa franziu suavemente.
-Bom agora admito que estou perdido... como é possível? O mesmo nome, a mesma aparência?. Questionou ele com aflição acariciando meu rosto de leve e era tão boa a sensação de sua pele na minha que me rendi ao seu toco apreciando seu carinho.
-Eu não me lembro de tê-lo visto em meus sonhos... mas sua voz é tão familiar... quando nos vimos?. Perguntei, ele sorriu.
-Há muito tempo atrás, em outra época, com seus costumes e tradições diferentes do que você conhece hoje. Explicou ele, mas eu não entendia.
-Não entendo...
-Em sua outra vida. Disse ele, eu o encarei cética agora entendendo o que ele queria dizer.
-Reencarnação você quer dizer?
-Você sentiu minha presença ontem não sentiu?. Perguntou ele, eu fiquei sem fala...
-Isso não pode ser possível, acho que o senhor está me confundindo com outra pessoa. Murmurei, me lembrei de uma coisa que Annabelly me disse "Lena... nem tudo tem explicação" eu concordava com esse ponto de vista, nem tudo podia ser explicado.
-Conte-me como eram seus sonhos.
-Era tudo muito escuro... só me lembro de conversas indistintas, vozes que não conhecia como uma radionovela.
-Nunca se perguntou porque era escuro?. Perguntou ele olhando-me nos olhos seriamente, eu neguei balançando a cabeça.
-Você era cega Helena. Disse ele olhando profundamente em meus olhos... ele conheceu uma mulher que se chamava Helena e acreditava que ela era eu, essa conclusão eu cheguei rápido... que bizarro, a existência de vidas passadas mas eu acreditava, já cheguei a ler um relato de um homem uma vez que se sujeitou a sessões de hipnose para entender a origem de seus sonhos seu nome era Peter Hulme, ele era um simples funcionário de bingo em Birmingham, Inglaterra. No entanto, ele vivia às voltas com um sonho recorrente e dramático: nele, soldados que pareciam vindos do passado atacavam um castelo sempre inacessível. Hulme não nutria maior interesse por história e jurava não ter ideia da origem de suas visões. Em busca de uma resposta, nos anos 90, submeteu-se a sessões de hipnose. O resultado foi inusitado: concluiu que também tinha sido John Raphael, soldado escocês servindo a certo capitão Leverett na Escócia do século 17. Eu acreditava nessas coisas, porque queria acreditar que algum dia poderia encontrar minha mãe e Giovana outra vez, foi durante a primeira semana após o enterro eu me vi obcecada por encontrar uma resposta sobre vida após a morte... mas daí eu ser um caso vivo, uma prova de tal mistério da vida era inconcebível.
-Se isso for mesmo verdade... então o que eu era para você?.
-Você era... minha esposa. Disse ele soltando minha mão ele pegou alguma coisa no bolso de trás, parecia um pergaminho mas então percebi que se tratava de uma pintura, ele a desenrolou para mim... havia um casal na imagem que parecia antiga, suas roupas eram de época, mas o que me abalou foram os rostos ali... era Carlisle, o cabelo estava um pouco mais comprido do que estava agora, os olhos eram os mesmos mas a mulher me fez chorar, naquele vestido longo azul escuro com toda uma trama por baixo que o deixava armado, volumoso, os cabelos escuros formando uma cortina dos dois lados do rosto, seus olhos escuros, a boca o nariz... ela era eu, ela era mesmo eu, o olhei sem palavras ele observava minha reação, os olhos angustiados, eu fiquei lívida, senti todo o sangue fugir do meu rosto.
-Helena. Sussurrou ele apreensivo, não sei o que deu em mim naquele momento mas eu me inclinei e o abracei sem ter o que dizer, atirei meus braços ao redor de seu pescoço, ele me afastou algum tempo depois, me olhou nos olhos com um lindo sorriso nos lábios.
-Você não tem ideia do quanto eu senti sua falta meu amor... o quanto me culpei por não ter estado lá quando você mais precisou de mim. Disse ele beijando minha mão com ternura, esfregando o nariz nas costas da minha mão... via em seus olhos que ele parecia sentir uma culpa terrível.
-Ontem quando a encontrei de novo depois de tanto tempo... eu não conseguia acreditar que era você mesma. Murmurou ele, eu segurei suas mãos e as beijei comovida com sua dor, com a imagem em meu colo sem ter o que pensar disso tudo.
-Foi a quanto tempo?. Perguntei, ele virou a imagem em meu colo em uma letra elegante havia escrito o meu nome e o dele e uma data... a data me fez olha-lo, segundo minhas contas foi a mais de duzentos anos.
-Eu sou um vampiro Helena. Disse ele colocando as mãos em meu rosto, eu fiquei sem reação quando ele disse a palavra vampiro, claro que sabia o que o era o que significava e um arrepio de medo desceu por minha coluna.
-Você se alimenta de que exatamente?. Perguntei, ele olhou em meus olhos com um olhar sombrio por um instante.
-De animais Helena... admito que antes de conhecê-la a dois séculos atrás eu me alimentava de humanos. Disse ele, eu suspirei de alívio se é que devia me sentir aliviada... estava confusa demais, era tanta coisa em que pensar.
-Eu era casada com um vampiro... minha família sabia?. Perguntei, pensando no que minha mãe falaria se soubesse...
-Sim, naquela época sua mãe faleceu quando lhe deu a luz... você só tinha seu pai Víctor, seu irmão mais novo e sua irmã mais velha... aluguei a casa onde você vive hoje com Joseph para sua família, eu a conheci aqui mesmo naquela época... quando a vi pela primeira vez você usava um vestido longo azul seu cabelo voava com o vento enquanto você balançava e cantava uma canção de olhos fechados no velho balanço desta mesma árvore... eu vinha vê-la todos os dias, me apaixonei por você no instante em que a vi pela primeira vez, e todos os dias eu vinha até aqui para olha-la de longe até que um dia eu tomei coragem e me apresentei a você... você me deu o sorriso mais lindo do mundo e de alguma forma que ninguém conseguia explicar você conseguia sentir minha presença. Contou ele, não podia evitar mas eu estava fascinada... como depois de tanto tempo nós iríamos nos encontrar no mesmo lugar? Exatamente o mesmo lugar, não podia ser coincidência... estava predestinado a acontecer de qualquer maneira, cedeu meu coração, era destino.

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