Fora de si

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- Lilian  ? - Susan sussurrou com a voz embargada.
          Ela aproximou se de mim com ternura me olhando nos olhos , sua mão afagava meu rosto enquanto me envolvia em um abraço seguro .
- Mamãe. - Sussurrei aliviada.
- Onde esteve?  Porque fez isso com seus pais meu amor?  - Ela chorava
- É uma história longa e complicada, me perdoe.  - Pedi .
- Eu havia perdido as esperanças. - Susan limpava seu rosto .
- Eu quero que conheça duas pessoas . - Sorri levemente olhando Dave e Valerie .
       Susan e Lisa olharam em direção às crianças , mamãe me olhou confusa.
- Eles são ? - Susan não parecia entender .
- Meus filhos , Dave e Valerie. - Disse .
- É a criança mais intrigantemente linda que já vi na vida mas , seu rosto não me soa estranho , esses olhos vivos ... - Mamãe olhava Valerie com curiosidade.
- Valerie nasceu com o dom da beleza e da educação não é meu amor ? Abrace sua avó. - Disse enquanto Valerie arrastava se para abraçar Susan , a garota tinha o gênio extremamente relutante .
- Ele tem a sua doçura nos olhos . - Mamãe apontou para Dave , que sorria como cumprimento.
- Foi um presente de Deus , eu não o escolhi como filho ele escolheu me como mãe. - Dave abraçou Susan sem relutância alguma .
       A garota do portão me olhava com certa emoção,  virei sorrindo de braços abertos.
- Minha menina irritante!  - Entoei e ela se aninhou em meus braços.
- Lili senti sua falta , ser filha única não é tão bom assim . - Ela dizia .
- Estou me vendo em você!  - Resmunguei a abraçando forte .
- Seus olhos puros não mudaram nada . - Mamãe comentou fazendo menção as minhas roupas , cabelo mais curto solto e pintura forte .
     Um homem de meia idade adentrou normalmente ,  seus cabelos eram grisalhos , sua feição era séria,  seu terno bem cortado indicava sua posição social.  Meu coração pareceu dilatar de saudade e as lembranças de uma infância alegre me atingiram como um canhão. Peter parecia desinteressado na conversa .
- Papai ? - Sussurrei. 
      Ele me olhou com seus olhar cansado e pude ver lágrimas ali .
- Lilian?  - Seu tom era sereno .
- Papai . - O abracei desesperadamente chorando .
       A priori ele não entendeu muito bem o que se passava mas me abraçou de volta com amor . Nunca fui uma garota mal criada mas era ardilosa . Sei que havia decepcionado meus pais em sair de casa mas eu estava disposta a mudar tudo .
        Contei aos meus pais que havia fugido sozinha , conheci um homem no caminho no qual casei e tive filhos , agora meu marido veio a falecer e eu estava viúva.  Mentir era errado , mas contar a verdade seria pior não para mim , mas para meus pais : " Papai me perdoe , fui embora com meu professor , descobri que ele era um assassino mas mesmo assim o aceitei , afinal o amor vence barreiras não é mesmo?  Me tornei um monstro também mas não se preocupe ainda sou sua filha amada ! " .
      Susan insistiu para que eu ficasse em meu antigo quarto , estava intacto e confesso que estranhei a infantilidade que se mostrava em cada detalhe daquele lugar . Só evidenciava quem eu era , uma menina tola . Não tinha cores fortes , espelhos por toda parte ou uma cama gigantesca. 

- Espero que seja do seu agrado minha querida ! - Minha mãe transbordava satisfação.
- Estou maravilhada  . Mamãe Obrigada por me aceitar de volta . - Agradeci com os olhos marejados.
- Essa casa sempre foi e será sua minha Lili . - Seu tom era reconfortante.
- Preciso colocar Dave e Valerie para dormir.  - Comentei.
- Estavam tão exaustos que dormiram enquanto Lisa contava a história do pássaro perdido no bosque e o lobo . - Susan suspirou enquanto falava das crianças - Vou deixar você descansar , venha deixe me beijar seu rosto , saber que não é um sonho. 
            Ficar sozinha para mim era como está em uma sala de tortura presa a minha consciência.  Rolava pela cama como se algo me incomodasse , meu corpo estava exausto e parecia fraquejar entretanto alguma coisa parecia faltar , parecia fora do lugar e errada. Desci até a sala para buscar conhaque no armário de meu pai  , encontrei uma caixa com charutos , passos delicados brotavam enquanto eu ascendia um charuto e despejava aquela bebida como água pela boca .

- Lilian ? Acordada ? - Lisa sussurrou.
- Sim . - Respondi sentando em uma poltrona. 
- O que está fazendo?  - Ela perguntou olhando para minhas mãos.
- Nosso segredinho , certo ? - Disse sorrindo em sua direção.  - Sente se , vamos conversar ! - Entoei .
- Foi estranho ser filha única.  - Lisa comentou com receio .
- Você está uma bela moça ! - Elogiei enquanto tragava. 
- Não como você  , me fale Lilian , como é lá fora ? Fora de Hale. .. - Os olhos de Lisa brilhavam de curiosidade. 
- Cruel . Uma selva . Mas é uma crueldade excitante , a liberdade é algo que vicia . A noite , as vozes das pessoas desconhecidas  , a incerteza do amanhã , a falta de regras ...  Tudo tão lindo e doce porém como tudo , carrega suas consequências . Lhe aconselho a nunca ir embora da segurança de sua família . - Contei .
- Arrepende se ? - A menina perguntou.
- De modo algum meu amor ...  Mas as consequências me perseguem não quero isso pra você . - Suspirei cansada. Lisa parecia pensar nas minhas palavras . - Hora de dormir moça!  - Virei me para subir.  
     Sentei me a beirada da cama olhando a parede fumando o restante do charuto.  Eu acabei meu casamento,  joguei sete anos fora eu me joguei fora . A certeza que me tomava era a falta de sanidade de discernimento de algum sentimento se não a ira e a tristeza.  Olhei mais uma vez a parede e meu casaco pendurado.  Um surto de adrenalina me tomou , comecei a me vestir para sair .
       Apanhei um isqueiro e uma faca dourada enrolados com as poucas coisas que trouxe de casa . Desci com cautela até a porta sem rumo . A noite era fria e escura em Hale como eu gostava .
         Lembrava bem onde ficava um bar , Will eu acho ... Estava cheio suspirei para entrar  , todos me encaravam com curiosidade.  Minha mente borbulhava em meio às vozes altas .
- Posso ajudar ? - Um homem  perguntou .
- Quero uma bebida . - Respondi. 
- Will uma água com limão para a mocinha aqui ! - O homem gritou e eu o encarei.
- Água com limão não.  Um whisky sem gelo por favor.  - Respondi.
- Você é durona garota ! - Riu o desconhecido.
- Quem é você?  - Perguntei.
- Stefan Corbusier ou só Stefan.  - Ele era simpático, aparentava seus 40 anos com as rugas em seu rosto e alguma fios brancos a mostra.
- Oi Stefan , Mary ! Só Mary.  - Menti sorrindo. 
- Quer conversar Mary ? - Stefan perguntou.
- Adoraria mas não aqui.  - Respondi.
- Onde quer ir ? - Ele perguntou outra vez.
- Para um lugar onde possamos ficar sozinhos.  - Disse enquanto seu olhar de segundas intenções me atingia. 
- Menina ousada . - Ele ria enquanto eu virava o copo para dentro da boca.  - Conhece algum lugar ? .
- Sim um em especial.  - Sorri .
          Depois de tomar algumas doses de whisky , convenci Corbusier seja lá como se chamava a ir comigo ao bosque. .. Em plena madrugada.
- Então gosta de aventuras Mary ? - Ele dizia enquanto seguia meus passos entre as árvores.
- Adoro . - Sussurrei.
       Estava o levando para onde eu costumava brincar quando nova , perto do rio. 
- Gostou ? - Perguntei me encostando em uma árvore .
- É maravilhoso.  - Sua voz vinha de encontro a mim , agarrando me .
  Sua boca deslizava pelo meus pescoço me apalpando e aquilo me dava ânsia.
       Tirei a faca devagar de dentro do casaco enquanto ele me tocava áspero.  Sorri maliciosamente suspirando tomando fôlego.  Afastei a mão para trás e dei o primeiro golpe em suas costas , suas mãos rodearam meu pescoço como defesa mas continuei a golpear freneticamente até sentir seu corpo fraquejar e cair .
       Ainda ouvia suspiros de agonia, dei mais golpes em seu peito cravando fundo a faca . Por fim minha respiração estava ofegante , puxei seu cabelo para esticar o pescoço,  a faca era aguda em seu contato com a pele , enquanto o corte seguia uma linha de ira. Minha boca salivava ao sentir o corte da garganta e por alguns segundos pude entender Lucius. .. O êxtase que aquilo trazia . Comecei a dividir as partes em juntas e pedaços enquanto jogava um a um nas águas copiosas do rio frio .
      Ao fim de tudo voltei arrastando galhos para apagar as pegadas , meu casaco estava sujo , estava escuro e ninguém iria perceber.  Voltei no mesmo silêncio que sai , tirando o casaco e jogando na larareira de casa . Subi para meu quarto ligado a água quente  tirando a roupa e lavando a faca. 
    



         

    
    
      
          
       
    

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