03 - Sem Trovões

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Setembro, domingo 23h12min

       Pingos de água escorria pelo linho plastificado da jaqueta. O frio cortante ainda conseguia adentrar sem esforço pelos compartimentos protegidos do pescoço.

       - É uma época difícil de trabalhar! – Resmungou o policial.

       Patterson expirou. Poderia jurar que sua respiração fumegou pelo frio da noite.

       - Na chuva e a noite, qualquer serviço é ruim. – Respondeu Patterson, passando pelas viaturas.

       - Sem repórteres! Isso é bom.

       - Por enquanto.

       Os dois entraram pelo beco, passando por uma praça escura.

      - A secretaria de limpeza usa para estacionar os caminhões. – Disse o policial.

       - É um local afastado, sem dúvida. O que ouve?

       - Homicídio – homem de quarenta e dois anos. Ainda sem identificação.

      Patterson aproximou. O sujeito estava em posição envergada. Seu rosto dormia no concreto cinza sobre uma poça de água, que pareava entre os lábios opacos e sem vida.

       - Uma perfuração com arma de fogo. Tiro único. Possivelmente pelas costas.

      A perícia varria o local. O perímetro foi feito e duas ruas interditadas. Não passava uma alma vivente na região.

       - A vítima não morreu aqui! – Exclamou Patterson, não tirando os olhos do moribundo.

       - Sem sangue empoçado. O corpo até parece lavado.

       - Encharcado, no caso.

       - Sim!

       - Desovaram a vítima, foi relatado por denúncia anônima. – Disse um agente da perícia.

       - Relataram que um carro preto modelo sedan, entrou de ré no corredor, arremessou a vítima e saiu.

       - A que horas foi isso? – Interrogou Patterson.

       - Dez e Quinze, mais ou menos – afirmou um policial com um bloco em uma mão e um guarda-chuva na outra.

       - Menos de uma hora então.

       - Veículo sem identificação – concluiu o soldado do guarda-chuva.

       Dois caminhões de limpeza estavam intercalados no fundo do beco. Um deles tinha a porta entreaberta e sacos plásticos próximos a roda da frente.

       - Dois agentes da perícia, faziam averiguações com lanternas.

       - Que fedor!

       - Se com chuva e frio está assim. Imagina naqueles dias quentes de verão.

       - Patterson! – Chamou um dos agentes.

       - O documento de identificação do sujeito.

       Dois membros da equipe de investigação, se juntaram embaixo de uma tenda montada entre o beco e a praça. A chuva aumentava.

       O policial do guarda-chuva, foi o primeiro a pegar o documento das mãos do agente.

       - Era funcionário da secretária de limpeza urbana.

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