Sua garganta estava trancada. A pressão atrás da nuca não deixou raciocinar direito. Seus olhos estavam doloridos o que fez deixá-los fechados por um tempo. Deitado sobre o banco do escritório do legista parecia o melhor lugar do mundo até aquele momento. Andar na rua agora, a barulho era alto e frenético o suficiente para querer dar um tiro na própria nuca. Não suportaria mais um segundo. Queria esquecer tudo, esquecer sem deixar comparar com a sua realidade.
- Delegado! – Alguém o chamava.
A luz do corredor o atrapalhou, fazendo tapar os olhos, tentando enxergar.
Sem uma resposta, levantou com dificuldade, andando pelo corredor até a sala do legista. Pelo tremor das paredes, logo a frente, o movimento era drástico. Reportes, curiosos, policiais, o prefeito e duas autoridades federais estavam na entrevista coletiva. Silveira ficou longe dos holofotes. Olhando por detrás da cortina.
Os balcões e mesas de inox, na sala verde limão, são memórias recentes demais para manter sua mente intacta. Vinte e quatro mortos chegaram naquela tarde. O pavilhão lotou, até colocarem todos nas gavetas refrigeradas. Três civis estavam entre os mortos, o que seria um problema para a imprensa. Parece que nem perderam policiais suficientes para se importarem. Mundo de merda! Silveira derrubou um copo, saindo pelos fundos.
Acendeu um cigarro que pegou com o legista. Não fumaça a cinco anos. Encostou próximo a porta, com as mãos sobre a face. Patterson tinha se dado mal. Por um momento enquanto fechava o perímetro atrás do edifício, neutralizando o carro dos criminosos, acreditou que ele tinha saído de lá. Correu com a arma em punho, passando pelo estacionamento, subindo a escadaria. Topou com a patrulha que descia e quase atirou nele.
Não havia mais criminosos. Agora, a limpeza tinha de ser feita. Correu pelo corredor, passando por outra patrulha. Abriu parte de uma porta-dubla, estraçalhada. O hall de entrava era um tiro ao alvo de buracos de bala e papéis espalhados por toda parte. Seu foco fechou entre a entrada e os balcões da recepção. Silveira aproximou, viu os três magistérios juntos, pegos de surpresa no combate. Patterson estava passo a mais, longe. Talvez tinha dado tempo. Talvez.
- Delegado Silveira! – Acordou com alguém o chamando.
Um homem vinha caminhando pelo corredor. Terno preto e gravata vermelha.
- Sou o promotor Sergio Vieira!
Silveira balançou a cabeça em cumprimento, dando o último trago.
O promotor pairou em sua frente, esperando o melhor momento para dizer algo. Barulhos vinham detrás da porta de conferência, pela entrevista coletiva. Só os dois estavam no corredor. O promotor olhou de relance para trás.
- Eu sinto muito pelo seu amigo – disse polidamente.
Silveira balançou a cabeça, não disse nada. O promotor prosseguiu.
- Patterson foi um grande investigador para essa cidade, que sempre será grata pelos seus serviços. Eu não o conheci pessoalmente, nunca trabalhei com ele, mas respeito um homem com a sua visão.
- Ninguém é grato pelo que não conhece promotor – jogou o cigarro no chão – Patterson foi mais um, nada mais – virou as costas abrindo a porta de saída.
- Silveira! – O fez virar – Sabe alguma coisa, sobre as investigações dele, com a ASD e Vale-X?
- Não!
- Uma investigação está sendo montada pela polícia federal, esse atentado não vai ficar impune. Se você sabe alguma coisa, me fale agora.
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Caminhos De Uma Sentença
Misterio / SuspensoA história é sobre um esboço de um aspirante a escritor seguindo uma linha investigativa juntando o ponto de vista de quatro personagens e suas expectativas. Um jogo de traições, assassinatos e mentiras em um universo que um jovem escritor, revela e...