08 - Demissão

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       Cinco dias depois de ter encontrado a pasta na garagem do hospital metropolitano. Silveira abriu as caixas do antigo inquérito da investigação dos documentos de Robson, caso das construtoras e os assassinatos semelhantes que haviam ocorrido entre a compra da ASD, até o acidente do advogado na região serrana. A cronologia era de 9 anos e 11 meses, desde o primeiro assassinato registrado na investigação por Patterson, que batiam com semelhança de todos os outros que viam a se seguir.

       Silveira sentou com os ombros apoiados na escrivaninha. Não tinha tanta atenção para os quadros e fotos coladas na parede. O café não surtira efeito. Olhou o relógio que marcava 05:44. Pegou a pasta próxima sobre a cadeira buscando concentrar-se. A tinta vermelha escrita sobre uma fita entrelaçada ao meio da pasta cor de creme. Não mais que dois minutos, olhando de relance novamente as fotografias e escritas da pasta. Precisava de mais tempo, para digerir as informações que leu na primeira vez que abriu a pasta. Um bloco próximo, anotou a lápis tudo que lembrava naquele dia sobre o assassinato do médico Roberto Sutinni.

       Na época, o hospital possuía quatro detectores de metais. Dois na entrada, logo após o hall da recepção. Um na entrada de funcionários e um no único caminho que dava acesso ao setor público, seguindo para o primeiro andar. Silveira instintivamente pegou dois jornais da época, sobre o assassinato. A investigação tinha alegado que o assassino entrou pelo setor dos funcionários. As doze primeiras horas gravadas na câmera de vigilância, não mostrava nada de anormal, da entrada do médico ao hospital até a primeira testemunha, que encontrou o corpo.

       Arma branca do crime; uma faca de cozinha de curto diâmetro e 16 centímetros. Dada as possibilidades de ter sido pega dentro do hospital, pois não era possível ter passado pelos detectores. Relato da perícia. O corte transversal no pescoço com o bisturi, também era uma ferramenta interna. Havia um controle rígido na cozinha do primeiro andar, bloco A. Nenhuma faca daquele porte ou qualquer outra tinha desaparecido. Silveira analisou que o criminoso entrou com a faca. Mas como?

No corredor, entre os blocos A e B, não haviam câmeras de segurança. A engenharia do hospital não favorecia a segurança em vídeo. O único setor que facilitava, era a entrada e saída do prédio. Muita gente passava periodicamente pelo local. Não tinha detalhes específicos. Jalecos brancos ou funcionários de plantão que batiam semelhança periódica. Não viu nada nas câmeras, até a pasta que havia encontrado no hospital, desse um empurrão em sua consciência.

       Passou dois dias analisando todos os vídeos players de segurança. Correu com 72 horas de vídeo, separando os 164 funcionários e prestadores de serviços tanto diários como semanais em pequenas fotográficas tiradas pelo próprio celular. Os pixels não colaboravam, mais já tinha uma pequena base de rostos. O relato da pasta do escritor, detalhava alguém careca e menos específico. Não acompanhou os detalhes, também não havia nada diferente a ser acompanhado. Mas o que já tinha, batia perfeitamente com sua intuição.

       - Merda – disse alto – indo pegar outra xícara de café.

       Talvez um detalhe chamou mais a atenção. Quando a perícia tinha chegado ao local, o corpo de Roberto havia sido encontrado por uma das enfermeiras de sua equipe. Da ligação da polícia até a chegada dos agentes de perícia, durou em média 35 minutos. Suponham que o médico tinha sido morto a pelo menos duas horas de diferença no específico cronograma. Se analisassem as duas horas e meia; alguém no vídeo chamava a atenção. Não estando nas categorias de fotografias contínuas dos que usavam jaleco branco. Era um sujeito careca, que vestia um jaleco branco.

       Com as duas mãos a face, respirou fundo. Olhou para o quadro novamente quando seu estomago esfriou e a ficha caiu. Foi a primeira descrição, sobre um assassinato não resolvido que tinha sido registrado por uma testemunha na morte de um contador meses antes. Um sujeito careca. Era apenas isso. Sem descrições a mais. O dossiê estava em mãos, mas algumas peças ainda faltavam. Muito real para ser verdade ou tão verdade para ser mentira. Mas agora, sua reflexão começava a entender o jovem escritor.

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