16 - Tentativas e o atendado

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       O silêncio foi praticamente constante nas quatro horas seguintes. Silveira improvisou um quadro branco, apoiando sobre uma cadeira. Lia e especificava tudo o que tinha juntado como provas e investigações feitos nos últimos anos. Dividiu a maioria em algumas partes enquanto colava fotos de perfil de vítimas no quadro. O promotor acompanhava verificando os documentos e mostrando alguma atenção. Silveira fingiu não ouvir cochichos maldosos de alguns dos federais no fundo da sala. Estava calor e abafado e alguns praguejavam pela demora fútil e desnecessária.

       Fotografias, notícias e gravações ruins, não impressionaram sua plateia. O promotor Sergio Vieira lia tudo minuciosamente. Abaixava os olhos, levantava uma sobrancelha, descia os lábios. Seu nariz suou passando a mão antes de se pronunciar.

       - Onde você conseguiu tudo isso?

       - Com todo respeito promotor, mas no momento não vem ao caso... – Fez uma seta no quadro.

       - Não vem ao caso delegado? Isso tudo é um completo absurdo!

       Evitou olhar a plateia ao escutar ruídos e risos de zombaria. Nada tão alto que o promotor percebesse.

       - Promotor eu....

       - Deixe-me falar agora! – Cortando-o – Isso tudo, aconteceu de fato delegado, mas – levantou de poltrona com uma das pastas na mão – é vergonhosamente um diálogo sem precedentes.

       Pôde ouvir os cochichos altos da plateia. Dois federais ainda liam as pastas.

       - Alguém te enganou delegado.

       - Acha mesmo que isso é babaquice? Senhor promotor – seu tom de voz elevou.

       - Acho que algum lunático, teve tempo suficiente para criar essas histórias.

       - Isso estava guardado nos pertences do investigador Patterson, bem antes do atentado! – Jogou a pasta no chão, caindo próximo nos pés do promotor - ele sabia....

       - Ele sabia de algo, e também, sabemos que ele não está mais aqui, então....

       - Então você está fora! – Fechou sua face, arremessou o canetão do quadro e juntou as pastas, tomando uma das mãos do promotor.

       - Pegamos o assassino!

       - E Grify?

       Esticou os lábios rindo, passando a mão sobre a testa.

       - Grify nunca foi provado, Silveira. É insanidade por insanidade acreditar nessas mentiras!

       - Não para mim promotor. Não para mim! – Agachou pegando a pasta que tinha caído no chão e tomando duas, que os federais liam. Silveira os fitou por um tempo, virando e pegando a última pasta sobre a mesa. O promotor segurava os lábios olhando para o chão.

       - Eu sinto muito, mas não posso te ajudar.

       Colou os ombros com o magistrado, sem olha-lo - Sabe que isso não termina aqui! – Sussurrou - Mais gente irá morrer.

       - Ninguém mais vai morrer sobre essa investigação delegado – fez sinal para que os homens – como eu disse, pegamos o assassino!

       Ficou escorado no quadro branco, enquanto todos saíam da sala de arquivo.

       - Quatro horas nessa merda! – Murmurou um dos federais.

       O último a sair da sala foi o promotor Sergio. Segurou a fechadura virando-se.

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