Caminhos De Uma Sentença

15 - Visitas inesperadas

       Ao descer na rodoviária, sentiu como se a poucos, voltasse no tempo no dia que foi caminhando para pegar o ônibus. Uma mistura de medo e ansiedade. As pessoas até pareciam as mesmas, circulando e limpando alguma coisa ou sentadas em bancos de concreto, passando o tempo. As cores da velha e trincada construção da rodoviária era a mesma. Nada mudou. Sem familiares se despedindo ou recebendo entes queridos. Os que desceram do ônibus, pareciam ter um caminho pronto para seguir, com bagagens de mão e bolsas nas costas.

       Saiu como menino e voltou como homem. Os pensamentos haviam mudado e as prioridades também. Se perderão no tempo. Já estava na esquina que dava na avenida principal com pequenos coqueiros plantados no meio, entre as duas vias. Ficou ali por um tempo, vendo tudo a sua volta. De longe, uma lanchonete de cor laranja. Tinha comido um lanche antes de embarcar para capital. Fiado, que seu pai pegou na folhinha, acertado todo início de mês. Estava da mesma cor. Talvez o velho ainda esteja por ali.

       No setor comercial estava diferente. As lojinhas de roupas unissex e brinquedos, que ficavam postados na calçada, viraram lojas de eletrônicos, celulares e vitrines espelhadas em roupas da moda. As aparências continuavam as mesmas, mas as pessoas, não conhecia. Mas sempre estiveram ali, nunca saíram. Raízes fortes em um lugar pequeno.

       As lojas estavam fechadas. A cidade parecia dormir. Não acompanhou o calendário e possivelmente deveria ser feriado. Sempre foi assim. Poucas pessoas andavam na rua as duas e meia da tarde. Não viu ninguém ao longo da avenida, quando dobrou a outra esquina dos dois lados. Poucos carros estacionados. Chegou em frente a lanchonete laranja, estava fechada. Olhou pela vitrine, na lateral da porta e pode ver o balcão e alguns bancos, mas não tinha ninguém.

       Os grandes barracões na avenida principal se decompondo com o tempo. Matos e ninhos de passarinhos tomavam conta das grandes estruturas opacas de cor marrom enferrujada. Viu mais uma vez a funilaria em que seu pai trabalhou a vida toda. Um monumento na entrada da cidade. Outras grandes estruturas, formavam um corrimão de tijolos vermelhos opacos e tosões de mato, crescendo além da calçada. Destacando o tempo de abandono.

       Desceu pela rua depois da esquina saindo da avenida. Como um turista, observava tudo. Não conseguiu juntar lembranças desses tempos. Ficava quase todo o tempo em casa, cuidando dos afazeres domésticos e o pai trabalhava. Não tinha amigos e passava a maior parte do tempo lendo livros que pegava na biblioteca, nos fundos de uma velha escola próxima de sua casa.

       Dois quarteirões depois da avenida, já estava no setor residencial. As casas de muros baixos e praticamente iguais umas às outras se diferenciavam em poucos detalhes e pela cor. Chegou em outra esquina, que dava para a terceira rua e logo a uns 50 metros estava a casa onde cresceu e viveu toda a sua infância. Parou admirando-a por meio minuto, talvez mais. Uma pressão e maus pensamentos o incomodaram. A curiosidade tomou conta, fazendo andar a passos curtos, sem tirar os olhos da casa enquanto se aproximava.

       O mesmo muro baixo e as duas entradas de madeira. Uma grande, onde passava o carro de caminho até a garagem, e a outra ao lado, junto a calçada de pedra, para passantes. Um caminho em linha reta, até a porta de entrada. Ficou surpreso em ver um jardim que nunca viu antes. Estava tudo em ordem, o quintal dos fundos, com o gramado cortado, as duas árvores podadas e as folhas varridas. A tintura das paredes forte, como se fosse nova. A casa estava mais limpa e organizada do que quando saiu há 14 anos.

       O pequeno portão de passantes, caminho até a porta, não estava trancado. Abriu, olhando pelas laterais arrumadas e alinhadas com pequenos tijolos cor de areia e um jardim de flores que o acompanhava até a porta. As janelas estavam cobertas por cortinas de renda branca, não vendo nada por dentro. Aproximou da porta, com pequenas janelinhas contornando-a.