06 - Hora de acordar

96 12 7
                                    


       Um caminho sem volta, não há dúvida. Como se a madrugada fosse a melhor opção, ou a única que te manter de igual para igual para se proteger. O lado ruim e sempre haverá um lado ruim; é a melhor chance. De igual para igual. Estar em um covil de lobos e todos saem para caçar. Você não será a presa se compartilha da mesma escuridão.

       Era uma droga mesmo, pensou Silveira. Quanto já teria passado? Pelo menos um ano em sua curta lógica. Não importava mais a um bom tempo. Cruzar pela avenida da liberdade, naquele momento, podia ser uma opção. Mas preferiu estacionar a seis quadras dali.

       Caminhou na escuridão. Era um fantasma e tinha que continuar sendo. Não duvidou do jovem escritor. Ele se mostrava mais autêntico que um político corrupto em delação. Mas alguém está o caçando há tempos. Como se encontra um fantasma? A não ser que você também seja um fantasma. Confiar em alguém, naquele momento, não era mais uma simples escolha. Colocou em mente que não poderia fazer nada sozinho. Sua luta já era longa. Precisava de contatos.

       Passou pela proteção metálica do prédio. As lâminas estavam enferrujadas. Um empurrão e a liga rompeu. Entrou, subindo a escadaria, até o hall de entrada. Ainda tinha cacos no chão. A porta giratória e as paredes de vidro, estavam quebradas. Furos de tiros, ainda desenhavam as paredes, como um grafite sobre a paz de "Banksy".

       O sobretudo preto até os joelhos, o encobriram, como uma sombra errante. Os cacos estalavam em seus pés. As pisadas não estavam fortes. Sutilmente entrava pelo hall, com a arma em punho. Seria fácil, se alguém tivesse esperando em seu encalço, mesmo sendo uma probabilidade pequena, não poderia arriscar.

       Abriu a porta do banheiro feminino, logo após o hall de entrada. Os primeiros banheiros, foi o que ele disse. Penúltimo sanitário, sem água. Com os pés, empurrou o sanitário para o lado, pegando o envelope logo abaixo. "Uma vida uma chance", escrito sobre a fita em tinta preta, grudado no corpo do envelope. Verificou se encontrava outro. Sem chance.

       Desvirou o sanitário e sentou. Posicionou a lanterna de cabeça para baixo, sobre a coxa formando um abajur que refletia pelo tecido do jeans. Rascou o envelope, destacando a pasta. Fotografias, documentos, certidões, até o slogan metálico do cemitério refletido pela luz da lanterna.

       Poderia ter ido embora, começando a ler em outro lugar. Uma coisa pregou sua mente, o suficiente, para continuar ali sentado. Seja a criatividade do jovem escritor, ou alguém que tenha lhe passado todas as informações, agora, já estava envolvido. O tenente e os quatro policias que estiveram no resgate, que passaram as documentações das vítimas para o hospital, naquela madrugada fatídica, estão mortos em um intervalo de cinco a três meses. Ele iria descobrir.

Uma vida uma chance

Corri o mais rápido que pude como nunca em minha vida, depois que três tiros quase me acertaram. Não sei de onde vieram... os estilhaços voaram e minha jaqueta.

Agora todas as minhas dúvidas já foram sanadas. Mudei de apartamento três vezes em menos de meio ano. Acompanho notícias online e até jornais comprados da esquina. Ouve um aumento significativo de assassinatos pela metrópole.

Envolvidos nessa ficção que venho lendo a sete meses. Não sei o que está acontecendo com todos ao meu redor. Quando se vive literalmente um dia de cada vez, insano pelo medo. Você começa a perder espaço com o tempo e o quanto ele vem passando ao seu redor.

Não me atento a ficar andando pela rua como antes, sem o auxílio das sombras da noite. Não consigo me detalhar psicologicamente, mas o meu medo vem diminuindo e minha prevenção aumentou bastante.

Caminhos De Uma SentençaOnde histórias criam vida. Descubra agora