22 - Sentença

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28 de março de 2012

       Um dos seguranças havia acabado de me trazer um café, a sexta ou sétima xícara, não lembro. Repassava sobre a mesa e separava em pilhas os jornais de notícias da época, que eu já tinha lido. Me disponibilizaram um notebook, onde eu assisti dois vídeos. Os jornais e revistas me detalhavam mais o que eu estava buscando. Também não me sentiria bem, mexendo em algo que era deles. Mas já havia me acostumado com a tensão. Isso tudo ocorreu antes de eu começar a ouvir o último possível capítulo.

       Olhei profundamente nos olhos dela quando terminou. Seguidamente busquei olhar pelos cantos da lanchonete. Já estava noite e não tinha quase movimento na rua. Nem preciso dizer que não entrou uma alma vivente naquele local. Parecia que sabiam que o mal estava lá dentro, ou havia mais segurança lá fora.

       - Porque me contou tudo isso? – Perguntei sem olha-la.

       - Simples! Quero que conte a história.

       - Eu poderia simplesmente usar todos os contatos que você me disponibilizou aqui?

       Ela baixou os olhos sobre o gravador e olhou num rápido e sexy sorriso.

       - Claro! Quem mais conhece tão bem a história como eu.

       Apoiei os cotovelos sobre a mesa, coçando a minha testa.

       Qual é a razão, mesmo se eu fosse escrever uma história, que levaria você a ganhar com tudo isso.

       Ela aproximou, se apoiando sobre a mesa.

       - Essa parte eu resolvo. Você que é o escritor aqui. Eu estou te contando a história.

       Tudo bem, tudo bem! – Disse quando um dos seguranças se aproximou.

       Ela passou a mão no colar do pescoço, cruzando as pernas.

       - Tem mais alguma coisa a me pergunta?

       - Varias! E gostaria que tivesse um pouco de paciência agora – peguei as anotações que fiz.

       - Todas! - Ela sorriu.

       - Bem... você me disse que Robson foi preso, que vocês eram amigos, e ele amava a família, então, se você presenciou todos esses erros que ocorriam na vida dele, porque não o ajudou? Já que lamentava tanto, por ele ter escolhido aquele caminho.

       - Você tem amigos? – Ela me perguntou.

       Me contive em responder, porque eu era o entrevistador. Acenei para que prosseguisse com a minha pergunta.

       - Você tem muitos amigos? – Me perguntou de novo.

       - Tenho amigos, não tanto, mais tenho.

       - Amigos que confia sua vida?

       Abaixei a cabeça, seguidamente a olhei.

       - É um pouco irrelevante a comparação com a vida...

       - O sentimento de amizade, jamais se sacrificaria por alguém, pequeno escritor – afirmou ela me interrompendo.

       - Em minha opinião, amizade não é sacrifício. Não é esse o ponto.

       Ela sorriu.

      - Então vamos mudar. Se você fosse viajar, confiaria o seu melhor amigo em dormir em sua casa com sua mulher? Não sendo na mesma cama é claro. Seja sincero e me responda.

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