Epílogo

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       Com um pouco mais de cuidado, Silveira colocou a pasta sobre a mesa. Fiquei do lado, observando sua reação. Ele ficou sereno e olhou distante até encontrar minha face. Me analisou por mais alguns segundos, passando os dedos sobre a barba. Eu fiquei com mãos para trás, encostado na parede. Como um garoto que tinha aprontado e estava esperando a bronca.

       - É muita informação, para raciocinar em tão pouco tempo – murmurou.

       - Pode ficar com tudo.

       Silveira respirou fundo, levantado com acidez da cadeira, indo até a janela. Observou os grandes prédios da metrópole ao fundo, como uma paisagem. O mundo não desliga por um tempo, para podermos colocar tudo no lugar.

       - Porque você fez tudo isso? – Perguntou, olhando para a paisagem urbana.

       Fiquei com meus olhos no chão, pensando em uma resposta.

       - Hum! Acho que não vou ter uma resposta coerente para dizer agora.

       Ele se virou para mim, de rosto franzido de tristeza – Rapaz! Isso não é sua luta. O que o motivou a isso. Pelo que li, não foi o dinheiro.

       Passei a língua sobre os lábios acenando.

       - Começou pelo dinheiro – minha voz soou mais grave – mas acho que não era esse o caminho que eu gostaria de seguir depois de tudo.

       - E porque então? Arriscar sua vida e ficar exposto aos males do mundo?

       - Já estamos nos males do mundo, delegado. Todos os dias, quando acordamos, saímos de casa, vamos ao trabalho, voltamos. Estamos expostos a qualquer coisa.

       - Você sabe que tem muito a perder.

       - Também sei o suficiente para não me calar. Entre falar o que você quer ouvir e falar a verdade, eu ainda escolho a verdade.

       Silveira veio em minha direção, de uma maneira que me assustou. Sua face triste como eu nunca o tinha visto, desde que o conheci. Me abraçou polidamente, me deixando sem jeito. Puxei leves tapinhas nas costas.

       Sua face se fechou novamente caindo na realidade. Voltou até a mesa pegando as pastas em pilhas, caminhou até a sala, em frente aos cinco quadros. Separou as pastas, tirando detalhes e fotografias. Pregou no último e no primeiro quadro.

       - Vou demorar aqui! Trate de arrumar minha porta.

       Gastei duas horas para arrumar a porta. Preguei as lascas com um martelo e arrumei o trinco melhor do que antes. Estava suado, quando abri a geladeira para tomar água.

       - Rapaz! – Gritou Silveira.

       Voltei para sala, analisando os quadros.

       - Quantas versões você utilizou para criar as pastas?

       Tomei um longo gole de água para responder.

       - Começou por Patterson, depois Martha, Phil, Robson e Tietz – tomei mais um gole – e um pouco da minha essência em cada história, mas a versões são deles.

       - Certo! – Silveira olhou para mim, depois para os quadros – Chegou a conhecer Samuel? – Perguntou, olhando para mim novamente.

       - Não! A versão foi toda passada por Martha, afinal, ele está morto.

       - Ele é um subsidiário então – voltou sua atenção aos quadros.

       - Acha que a versão e documentações de Samuel, pode não ser genuína? – Perguntei olhando para ele, que não se deu ao trabalho de retribuir.

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