Na última contracapa como sempre, Silveira seguiu as regras. Dessa vez dentro da choupana. Um dos quartos, debaixo da cama, dentro de uma caixa com bugigangas e anzóis de pesca, o envelope estava lá. Era difícil acreditar, mas as peças se encaixavam. Como se participasse de cada evento da história. Mesmo se desacreditasse, agora continuaria pelo simples fato de chegar ao final, ou se ainda restava algum. Vale-X, ASD, Samuel, Tietz, Wolmar e Patterson...respirou fundo de cabeça baixa...Patterson....
Não podia ser tarde demais. Pelo menos era o que buscava a pensar. Colocou todos os envelopes dentro do carro. Já tinha uma quantidade suficiente para começar alguma coisa. Voltaria para casa. Mas antes, a contracapa indicava um novo local. A casa do tal sujeito. A chave que Patterson tanto falou estava em suas mãos. Estava na hora de voltar à ativa, não como um delegado, que já não era mais. Iria atrás do culpado a todo custo. Algumas coisas começaram a fazer sentido e usaria isto ao seu favor. O apartamento que vivia Robson com sua família seria o seu destino.
* * *
Tietz passou a madrugada toda estudando os documentos que Samuel o entregou. Folha por folha foi tomando as devidas acentuações e os assuntos corretos que iria destacar. "Ele não terá escolha" – Pensou o jovem orgulhoso advogado. Fez um roteiro das palavras certas que usaria de acordo com que ia tratando cada assunto. Algumas já estavam sublinhadas no documento, destacados por Samuel. Como ele havia conseguido tanta informação pensou. Tinha coisas que só sendo muito íntimo, quase da família, um irmão mais velho para saber.
05h00 quando decidiu tomar um banho novamente. Já tinha na cabeça tudo que iria usar contra e a favor de Robson, para convencer de aceitar a proposta. Sua carreira estava em jogo e agora estava mais confiante do que nunca.
42 dias faltavam para que a Vale-X colocasse Robson a júri fechado. Com uma mera possibilidade de mantê-lo preso, até o dia do julgamento. Ele havia recusado qualquer solicitação de advogado ou pagamento de fiança em sua defesa. Silveira o delegado responsável pelo D.P que Robson se encontrava, não havia expedido nenhuma ordem e solicitação na defensoria pública para o réu. O manteria preso por uma semana, depois tomaria as mediações cabíveis.
Tietz chegou sozinho, acompanhado de sua maleta preta, feita de couro de ventre de jacaré. Subiu os degraus do prédio da delegacia, entrou rapidamente no hall de atendimento, onde um atendente pairava em pé ao lado de dois policiais se entretendo em uma conversa casual. No outro lado próximo a entrada que dava para um corredor, passou por uma porta-dubla, na entrada dos advogados. Já conhecia tudo aquilo, aproximando do atendente, para autorizar seu acesso.
Passos largos pelo piso, fazendo ecos com seus sapatos caros e roupas de grife italiana. Um gordo atendente de uniforme manchado com algum tipo de molho ficou observando. Sem muitas palavras, conseguiu acesso a outra sala.
No atendimento interno da delegacia, se apresentou como o advogado de Robson, solicitando uma conversa com seu cliente. Quando a solicitação foi expedida, um dos guardas foi buscar Robson para a sala de custodia junto com o advogado.
- Outro advogado! – Os dois riram e logo se separaram.
Já o aguardava em uma pequena sala com duas cadeiras e uma mesa ao centro. As paredes cor de concreto liso, sem janelas para iluminação, com uma lâmpada florescente, iluminando o meio sobre a mesa de alumínio fosco. Aguardou sentado, frente à porta de metal, de onde Robson iria surgir algemado e acompanhado por um guarda. Alguns segundos, quando barulhos de passos vindos por trás da porta, ao som que cada vez se aproximava, se revelou. Uma última arrumada na gravata antes de a porta abrir.
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Caminhos De Uma Sentença
Misteri / ThrillerA história é sobre um esboço de um aspirante a escritor seguindo uma linha investigativa juntando o ponto de vista de quatro personagens e suas expectativas. Um jogo de traições, assassinatos e mentiras em um universo que um jovem escritor, revela e...