Capítulo 11

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06/06/11

Eu passei o final de semana com Shawn, conheci seu pai e tudo. Ele é bem afetuoso e gentil, eu realmente gostei dele. Não, ele não mora com seu pai, ele tem seu apartamento próprio, mas seu pai vai para lá todo domingo para eles almoçarem juntos. Quando ele não vai para lá, Shawn que vai até a casa dele, é tipo um ritual familiar. Ele me apresentou como sua amiga e ele assentiu meio desconfiado. Seu pai depois me chamou para conversar e perguntou se eu era a namorada dele, eu neguei e o encarei sem entender. Ele então explicou que era porque ele nunca tinha apresentado uma amiga ou namorada a eles e que a forma que ele me olhava parecia diferente. Eu me perguntei se isso poderia ser verdade, mas preferi deixar para lá.

Hoje eu acordei tarde e não tive tempo de passar em casa antes de ir para a universidade. Tive que ir direto ou iria me atrasar, sorte minha que hoje Shawn estava de folga pela parte da manhã e pode me levar até lá. Se eu dependesse de transporte público eu não chegaria hoje. Quando cheguei eu fui correndo para a sala, torcendo internamente para não esbarrar nem com Lauren ou Lucy, pois tudo o que menos queria era ter que ver a expressão delas quando me visse. Graças aos céus eu não as vi e por isso tive uma manhã razoável.

Eu assisti as aulas, que pareciam eternas, e quando acabou o horário letivo decidi ir para casa. Hoje eu, mais uma vez, ficaria sozinha pois as meninas estariam em suas atividades. Eu coloquei a mão em minha bolsa para procurar a chave e, para meu azar não as encontrei. Procurei na capa do violão e nada, teria que pegar a chave de uma das meninas. Mandei mensagem para elas e Chee me disse que eu teria que esperar a reunião com o reitor terminar para pega-la e isso poderia demorar a tarde toda. Eu bufei irritada comigo mesma por ter esquecido minhas chaves na casa de Shawn, ele estava no trabalho e só poderia pega-las amanhã. Acho que minha sorte não estava lá essas coisas, a final.

Decidi ir até a cafeteria e comer alguma coisa, já que teria que esperar eternamente por uma das meninas. Eu pedi um sanduíche e fiquei lendo minhas anotações, eu não tive muito tempo de escrever no final de semana, mas enquanto estava no esconderijo consegui escrever bastante coisa. Decidi por fim que iria ficar tocando e compondo enquanto não podia entrar em casa. Paguei o que consumi e fui para o meu local favorito na FIU, o lago que eu fiquei no primeiro dia de aula. Sentei embaixo de uma arvore que tinha bem de frente para o prédio principal, peguei o violão, o caderno e comecei a tocar o que já tinha pronto.

Eu estava inspirada, afinal os sentimentos ainda se faziam bem presentes. Comecei a escrever tudo o que vinha em minha mente e, como era bastante coisa, o caderno ficou uma confusão. Harry costumava pegar meu caderno para ler o que eu estava compondo já que eu não gosto de mostrar absolutamente nada do que escrevo, mas ele nunca entendia o que era rabisco e o que era definitivo. Por fim ele desistia e eu ria. Se ele estivesse aqui estaria reclamando por eu ter feito aquela bagunça toda e não o dando "a chave de minha alma". É assim que ele costuma chamar minhas criações. Ele diz que quem consegue ler algo que escrevo, consegue enxergar minha alma e coração e eu concordo com ele. É exatamente por isso que não deixo ninguém ler.

Eu dificilmente deixo as pessoas me enxergarem por completo, existem alguns lados meus que são restritos a mim. Eu sou uma pessoa completamente extrovertida e simpática, embora no começo seja bastante tímida, mas quando se diz respeito a expressar sentimentos eu sou extremamente reservada. Eu raramente digo o que sinto, prefiro demonstrar, mas não de uma forma muito óbvia. Eu costumo dizer que, para alguém conseguir ler meus sinais, ela deve possuir meu manual de instruções. Poucas pessoas o possuem, na verdade somente meus pais e Hazza conseguem entender quando estou me expressando.

Desde que eu tenho meus dez anos, a palavra "eu te amo" saiu de minha boca em uma quantidade que é possível contar nos dedos. Como eu já disse, eu prefiro demonstrar o que sinto do que ficar falando. Palavras muitas vezes podem ser vazias e sem significados, ações também, mas a probabilidade disse acontecer é quase nula. O significado destas três palavras se perdeu no longo dos anos, hoje em dia você fala "eu te amo" como se fosse um "olá". Você não diz isso porque sente, mas sim porque virou parte de sua rotina. Por isso eu prefiro agir ao invés de falar, e as pessoas que me conhecem sabem disso.

The Last Butterfly (Camren)Onde histórias criam vida. Descubra agora