25. Onde ele viu rejeição?

63 16 40
                                    

     Acho que eu tive um flashback de toda a minha vida, admito, fiz muitas merdas, tomei atitudes erradas e não engoli o meu maldito orgulho. E tudo isso para quê? Qual o sentido de ter escondido o verdadeiro sentimento em meu peito? Receio de ser machucada? Despeito?

     — Maike? Por quê? — sussurrei quase inaudível. Meus olhos lacrimejaram e na ânsia de tentar evitar as lágrimas acabei fechando os olhos.

     Ali estava a pessoa que todos pediam para que eu desse uma chance. A pessoa que confiei longos anos de amizade. Que me fez acreditar que os seus sentimentos por mim fossem sinceros e veja só, essa mesma pessoa estava me apunhalando pelas costas. As pessoas tem razão quando dizem que a decepção vem de quem mais amamos, porque depositamos confiança demais nelas.

     — Ah, Paty... — ele ajoelhou-se no chão a minha frente. Megan estava afastada e esparramava o líquido do galão pelo quarto escuro. O cheiro de gasolina embriagou meu nariz e senti o coração doer em desespero. — Quantas vezes eu mendiguei pelo seu amor? Pensou que eu fosse continuar implorando até quando?

     — Ah, a rejeição é de fato um sentimento surpreendente, não acha? — Megan riu. — As pessoas tomam decisões baseadas no ódio.

     — Experiência própria né, Megan? — olhei para ela com atenção. Já não conseguia encarar Maike e nem fazia questão disso. Estava repugnada.

     Ele notou quando desviei os olhos, deixou escapar um forte suspiro exasperado e levantou-se passando a mão na cabeça. Chutou minhas pernas com um certo ódio e mordi os lábios para amenizar a dor. Encolhi minhas pernas para mais perto e deixei uma lágrima cair. Maike poderia me bater quantas vezes quisesse, sua traição já havia me matado e a indignação consumia meu peito. Não havia mais modos de sentir dor. Nem se Megan tacasse fogo em tudo ali, nenhuma queimadura iria doer mais do que ele estava fazendo comigo.

     Eu desejei estar dormindo. Desejei que tudo aquilo fosse um pesadelo mas, não era. Tudo era real. E eu não tinha forças para continuar, não queria resistir. Estava entregue ao meu destino. Ah, se eu houvesse ouvido Janis ou minha mãe, ou até mesmo Lucas e Pietro. Ah, se eu tivesse ido atrás de Nash!

     Mas não fui. Ao invés disso, empinei o nariz como se eu fosse a dona da razão e fiz de tudo para esquecê-lo. Se eu não tivesse sido tão mesquinha e orgulhosa, não estaria passando por nada daquilo.

     — Sabe o que é pior? É saber que você ainda ama aquele imbecil do Nash! — Maike disse. Sua voz embriagada em ódio. Isso era culpa minha, se eu houvesse dado uma oportunidade a ele ou ter deixado claro que ele nunca iria ter uma chance comigo, talvez, ele não estivesse ao lado da felina naquele momento.

     — Ele pode ser tudo! Tudo! Mas, não é ele quem está aqui tentando me matar.

     Minha resposta pegou Maike desprevenido. Pude ver uma ponta de arrependimento brotar em seus olhos, ainda havia tempo para ele deixar essa loucura de lado. Mas, Megan não deixaria. No segundo seguinte lá estava ela, jogando todo o seu veneno contra mim.

     — Vamos relembrar os motivos dele estar aqui... — riu ao ver o galão vazio. — Quem foi o rejeitado mesmo?

     — Pare com isso, Megan! Maike nunca foi um rejeitado, nunca o desprezei. Ele foi o melhor amigo que eu já tive e você está o transformando em monstro! — deixei as lágrimas virem à tona. Eu não estava aguentando mais, precisava colocar todo aquele sentimento de desespero para fora. Estava com medo e não sentiria vergonha de mostrar isso.

     — Amizade? Depois de tudo o que já fiz por você, Patrícia? É só isso que eu ganho? — Maike parecia indignado. Só que indignada estava eu. Olha onde chegamos.

|| Confissões da Paty - Livro 2 ||Onde histórias criam vida. Descubra agora