32. Lições de moral à parte

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— Amiga má!

— Pode parar de dizer isso? Obrigada. — Janis estufou o peito enquanto destrancava a porta do carro.

Pela minha cabeça passava turbilhões de pensamentos e sentimentos que há muito tempo haviam sido guardados, camuflados e muito bem escondidos. A fita da minha vida não parava de se repetir, desenrolava um milhão de vezes em minha mente, e simplesmente não sabia o que fazer.

Janis, a minha melhor amiga, confinou esse segredo junto do seu marido, meu primo. Primo este, que deveria ter me falado antes sobre o que realmente havia acontecido com a esposa de Nash. Era injusto saber que eles estavam sabendo disso o tempo todo, o tempo todo, e nem ao menos serviram para me contar.

— Não posso acreditar que me esconderam isso, me sinto altamente traída. — Rebati meio sem graça.

— Está começando a se parecer com as personagens dramáticas dos seus livros.

Janis nem ao menos demonstrou um sorriso, então eu supus, que meu drama queen estava bem QUEEN mesmo. Ela esperou por mim parada  em frente ao elevador que nos levaria ao meu apartamento, no fundo, não estava brava com ela ou com Lucas, acho que estava brava comigo mesma... Se eu tivesse tomado a iniciativa de procurar Nash antes nada disso estaria acontecendo agora, mas, meu ego enorme e um orgulho maior ainda não me deixaram.

— Sei que deve estar com raiva de si mesma, amiga. — ela disse por fim. — Mas, para quê remoer dores do passado? Olha a vida te dando outra chance de recomeçar.

E não é que Janis estava certa? Minha melhor amiga dando lições de moral, justo para mim. Quem diria.

Deixei um suspiro escapar enquanto afirmava com a cabeça, não havia mais nada para se fazer em relação à isso, agora eu tinha que me concentrar nesse jantar... UH, esse jantar! Comecei a passar a mão pela nuca demonstrando o quanto havia ficado nervosa ao pensar nisso, eu saberia como me comportar perto de Nash? Eu saberia demonstrar que mudei?

Espera, eu mudei?

— Paty, vai dar tudo certo. — e enfim ouvi aquela famosa frase. A frase que definiu todo o começo dessa história, a frase que um dia, todos disseram. Dessa vez, as coisas realmente dariam certo? — Está parecendo uma adolescente que acabara de descobrir que o popular bonitão está solteiro.

— Ele está tão mudado... — o elevador abriu-se nos dando a deixa para entrar. — Tenho medo de não estar à altura dele agora. Tipo, não sei se mudei o suficiente, nem ao menos sei se mudei...

— Pode ir parando com a paranóia, Paty. Acredito que ele tenha se apaixonado pela garota que você era, então não vai ligar se não tiver mudado. — Janis apertou o botão do elevador e ele começou a subir.

— Mas, eu quero mudar, Janis. Quero ser a mulher que ele precisa...

— Ô, devagar com a dor, mocinha. Está esquecendo de uma coisa importante... Ele tem uma filha. Está disposta em ser a mãe dessa garota? Você saberia cuidar dela? — e lá estávamos, paradas em  frente à porta do meu apartamento. — É uma responsabilidade gigantesca, pensa bem nisso.

E mais uma vez, Janis estava certa. Me encontrei tao empolgada por ter reencontrado Nash que nem ao menos parei para pensar em sua filha, aquela linda garotinha que com certeza havia crescido sem uma figura feminina na casa e na certa, não ficaria feliz em ter outra mulher cuidando do seu pai, roubando-lhe a atenção dele. Ela poderia não aceitar.

— Eu não tinha pensado nisso. — falei desapontada.

— Já sabia.

— Não posso roubar o Nash dela. — conclui. Abri a porta e joguei minha bolsa sobre o sofá, meu corpo foi logo depois.

— Espera aí, também não é assim. Você pode ir conquistando ela antes de atacar o Nash. — sorriu com cinismo, mas, logo sua expressão já estava séria novamente. — A principal questão é saber se você está pronta e preparada para ser mãe de uma menina que nem é sua filha.

Eu não sabia cuidar nem de mim, o que diria de uma garotinha? Não, eu não estava preparada para isso. Chegava a ser assustador ter que assumir essa responsabilidade, quase desmarquei o jantar ao pensar nisso mas, Janis não permitiu. Disse que era apenas um jantar e eu não deveria me preocupar tanto. O problema era que Nash estaria nesse jantar, Nash e sua filha. Eu não saberia lidar com essa situação. Estava confusa e a culpa era de Janis, ela poderia ter deixado para falar sobre esse assunto outra hora. Era muita coisa acontecendo de repente para que eu pudesse assimilar.

— Vai, vou te ajudar com a comida. O que pretende fazer? — disse indo para a cozinha.

— Cavar um buraco e sair dele só em outra vida! — Tapei meu rosto com a almofada.

— Eu vou te bater. — ela ameaçou voltando seu olhar para mim. — Você vai levantar desse sofá e se comportar como a mulher que é. A mulher que foi sequestrada duas vezes e ainda assim, não deixou as dificuldades te abaterem. Vai, levanta! Levanta e vai preparar aquele purê de batatas maravilhoso que você sabe fazer.

— Hum... — arquei a sobrancelha e sentei na beira do sofá. — E você vai fazer o quê exatamente?

— Salmão. Por que a junção dele com o purê é de dar água na boca. — lambeu os lábios enquanto imaginava a comida pronta.

— Esse assunto me deixou com fome. — RI baixo me levantando. — Vamos cozinhar logo.

Janis tinha o hábito de escutar música enquanto fazia as coisas e era engraçado imaginar como seria a vida dela de casada com meu primo, sabemos bem, que eles possuem certas diferenças, mas acho que são essas diferenças que os fazem se amar tanto e se aturarem tanto.

— Paty, acorda! — algo me dizia que já era a terceira vez que Janis tentava ter minha atenção.

— O que foi?

— O telefone está tocando, tá surda?

Pra quê educação, não é mesmo? Vamos todos ser mau educados com a Paty enquanto o telefone está tocando.

Rolei os olhos.

Joguei o pano de pratos sobre a pia e corri em direção ao aparelho que já ameaçava desligar, ofeguei e o atendo com certa rapidez. Nem mesmo vi quem estava ligando.

— Que é? — questionei. Okay, esse pode não ser a melhor maneira de atender uma ligação, mas eu havia acabado de levar um coice da minha melhor amiga e isso já era motivo suficiente para ficar irritada

— Credo, tá atacada? — reconheci a voz de Bianca e acabei sorrindo. — Estamos chegando.

— Tá. É, olha, eu queria dizer que...

— Não é esse Pietro, espera... — ouvi ela falar mais ao fundo. — Paty, já chegaremos aí e conversamos, tá?

— Tá, mas eu queria dizer que...

— Então tá, beijos.

Cocei a nuca em uma forma de aliviar a tensão. Olha, eu tentei avisar que Nash iria jantar com a gente, Bianca quem não quis ouvir. Só esperava que depois não viesse com aquele papo de: Por quê não me avisou sobre isso antes?

|| Confissões da Paty - Livro 2 ||Onde histórias criam vida. Descubra agora