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Tyler sentia como se mãos agarrassem seu pescoço tentando sufocá-lo.

Tinha o coração acelerado e uma sensação de que a qualquer momento suas veias e artérias explodiriam.

Suas mãos estavam pretas; um líquido negro pingava delas como o sangue escorria nas mãos de um assassino. Ele havia matado alguém? Tyler não parecia se importar com a resposta.

Ele sabia que era sujo; sabia que sua alma não tinha motivos para ser leve, e ele a sentia puxando-o cada vez mais para baixo, como se perfurasse o chão.

"Você não tirou de mim o que queria?! não me torturou o suficiente?!" Tyler gritava a si mesmo enquanto espalhava gasolina por seu corpo; o rastro de líquido preto era deixado onde suas mãos tocavam. "Estou pronto! Me coloque em chamas! Pegue seu isqueiro, queime cada célula minha! Venha!"

Silêncio.

"E-eu não me importo com seu verdadeiro rosto! Só q-quero saber porque roubou o meu!" Culpava seu reflexo, que aparecia em pedaços de um espelho pelo chão.

Tyler parou de gritar, olhou para o chão; espelhos quebrados, facas, cordas. Estava sendo torturado por alguém que não podia ver, alguém que sabia se esconder.

"Covarde. Apareça. Mostre seu rosto borrado e suas mãos assassinas. Mostre-as para mim! Me deixe ver meu sangue escorrendo entre seus dedos sujos! Me mate! Me mate! Acabe o que começou!" Tyler gritou para o vazio; à sua frente, o horizonte era bloqueado por árvores e seus troncos. "Covarde!".

Sua voz trêmula ecoava pela floresta. Ninguém respondeu, ninguém pareceu escutar.

Tyler estava parado, ofegante. Gasolina escorria por seu corpo e o suor de sua testa, ao escorrer por seu rosto, misturava-se à lagrimas. Ouviu-se o "clique" de um isqueiro e uma chama acendeu-se na grama.

-

"Tyler" A médica de cabelos esbranquiçados e óculos redondos chamou-o.

O garoto olhava para o chão; uma expressão vazia tomava conta de seu rosto.

"Tyler, no que está pensando? está calado quase cinco minutos." Sua voz soou preocupada.

"E-eu... eu estava lembrando do meu pesadelo..." Tyler respondeu timidamente.

"Tyler..." A médica disse calma. "No seu pesadelo, o que mais te pertubou?"

Um silêncio instalou-se subitamente no consultório; Tyler não gostava desse silêncio, ele tornava todas as cores ao seu redor em tons de cinza.

"Havia uma floresta; eu sentia algo apertar meu pescoço. Um líquido escorria em minhas mãos, eu não sei o que era, era como sangue, que preto. Por algum motivo eu estava espalhando gasolina em meu corpo..." O garoto abaixou a cabeça.

"Tyler, tudo bem se não estiver confortável para continuar." A médica alertou-o.

"Eu gritava para alguém. Meus gritos... minha voz parecia diferente, ela soava como lâminas cortando meus ouvidos. Havia espelhos quebrados pelo chão, cordas, facas... Eu me sentia incapaz. Minha voz ecoava pela floresta. Estava tudo tão silencioso, mas eu sabia que eu não estava sozinho. Então... e-então... e..." Sua voz estava trêmula e um arrepio percorria seu corpo. "Então eu vi fogo. O fogo cobriu meus pés, e eu acordei."

A médica fitava-o com os olhos arregalados. Sua mão imóvel segurava uma caneta com a ponta encostada em um papel. Nada fora escrito.

"Você sabe para quem estava gritando, Tyler?"

"Eu tenho medo que ele me mate. Ele me quer morto." O garoto tremia.

"Tyler... quem?" A mulher pareceu ainda mais preocupada.

Tyler fitou-a; os olhos marejados pareciam as profundezas escuras de um oceano.

"Eu tenho que ir, doutora Oakley..." Disse levantando apressadamente da poltrona onde estava e caminhando até a porta.

A doutora acompanhou seus movimentos com os olhos atentos.

"Tyler..." Disse chamando a atenção do garoto, que olhou-a assustado. "Boa semana."

Tyler saiu do consultório, encontrando-se num corredor de paredes brancas; Suspirou, encostando-se na parede e deslizando seu corpo até o chão.

Fechou os olhos e levou suas mãos à seu pescoço, apertando-o fortemente, sentindo o ar em seus pulmões se esgotar.

toxic; tøpOnde histórias criam vida. Descubra agora