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Uma semana se passou. A rotina de Tyler deixou de ser algo resumido a admirar as paredes de seu quarto e memorizar as formas das nuvens que via de sua janela; todas as tardes o garoto esperava ansiosamente Josh sair do colégio para que pudessem se encontrar.

Com Josh por perto, Tyler sentia-se leve e, por incrível que pareça, feliz. A voz do amigo acalmava-o nos momentos de maior pânico e calava até os gritos mais altos que ecoavam em sua mente.

Os garotos iam à floresta todas as tardes e construíam, aos poucos, seu lugar especial. Entre o som de martelos e serrotes ecoando na floresta, era possível ouvir as conversas entre Tyler e Josh. Falavam sobre poesia, livros, músicas e nomeavam cada folha que caía lentamente das árvores.

Tyler gostava da ideia de ter um lugar, que não fosse seu quarto, onde pudesse ficar sozinho. Gostava ainda mais do fato de ficar sozinho tendo Josh como companhia.

Ficar sozinho, para Tyler, era quase uma tortura; ficar em silêncio enquanto seus pensamentos devoravam sua sanidade aos poucos. Ele não gostava disso.

Tyler desceu as escadas animado. Seu cabelo estava mais bagunçado que o normal e um sorriso era esboçado em sua face.

Estava frio. Ele estranhou; as manhãs de sábado nunca eram frias, somente as tardes após suas consultas com a psicóloga.

Seu nariz tinha quase a mesma tonalidade da lã em seu gorro vermelho. O garoto saiu de casa e deparou-se com Josh esperando sentado na calçada. Ele levantou-se e ambos seguiram caminhando juntos em direção à floresta.

Josh falava sobre as estrelas que vira na noite anterior. Tyler ouvia atentamente as palavras do amigo e ficava cada vez mais preso ao que ele falava.

"Ontem eu subi no telhado de minha casa. Minha mãe vive dizendo para que eu não faça isso, mas eu precisava ver as estrelas." Josh disse lembrando-se do céu azul marinho cheio de estrelas. "Vi duas estrelas especiais ontem. Elas estavam tão juntas que pareciam uma só, eram como se fossem amigas."

Josh olhou para Tyler. Quando Josh sorria, seus olhinhos se fechavam e Tyler adorava isso.

"Eu não sei se elas tem nome. De qualquer jeito, eu odeio os nomes que dão para as estrelas. Eu decidi que elas mereciam nomes especiais." O garoto olhou para o chão, ainda sorrindo, porém dessa vez de uma forma mais tímida. "Tyler era o nome de uma. Josh era a que ficava logo ao seu lado."

Sem que percebesse, os olhos de Tyler encheram-se de um brilho alegre. Ele ficou feliz por ter sido lembrado de uma forma tão bela.

Os garotos chegaram no limite imaginário da floresta, demarcado por árvores que cresciam seguindo uma linha imaginária. Eles se olharam; os narizes vermelhos e as bochechas de mesma cor.

Os garotos entraram na floresta de mãos dadas. Tyler segurava forte a mão de Josh, que puxava-o entre as árvores.

Josh parou de andar e Tyler ficou estático ao seu lado. Eles encaravam uma casinha de madeira escura, construída no tronco de uma árvore. Sorriram um para o outro.

Eles subiram na casa e sentaram-se em uma pequena varanda rodeada por uma cerquinha torta. Josh olhou para Tyler, que encarava as árvores à sua frente com os olhos brilhando.

"Tyler, ele se foi?" Perguntou temendo a resposta.

Tyler suspirou e olhou para baixo e Josh pôs sua mão no ombro do amigo.

"Ele não vai embora até que eu me mate." Tyler disse virando-se para Josh.

A expressão no rosto do garoto de cabelo rosa mudou de um sorriso calmo para uma feição preocupada.

"Josh... eu não vou me matar. Mesmo que seja difícil, vale a pena viver, principalmente se isso deixa quem você ama feliz." Sorriu para o amigo.

Josh abraçou-o. Sentia-se feliz sabendo que estava ajudando o amigo e mais feliz ainda que Tyler tinha-o como um motivo para continuar lutando.

toxic; tøpOnde histórias criam vida. Descubra agora