"Ultimamente tem sido quase impossível fazer algo. Entende, Josh?" Tyler perguntou olhando fixamente para os olhos do outro garoto. "São muitas coisas juntas, todas aqui na minha cabeça, chega a doer. O meu próprio cérebro está contra mim."
Josh permaneceu em silêncio, passando os dedos nas pétalas de uma flor e sentindo-as como se fossem feitas de veludo.
"As vezes eu acho que estou sozinho. N-na verdade, você está comigo, não é? Sempre... mas... todos nós estamos sozinhos, certo? A companhia de outra pessoa é só uma ilusão" Suspirou. "Josh... um dia você vai me deixar ou um dia eu vou te deixar, não tem como sabe... m-mas nós somos dois seres humanos diferentes e me machuca saber que um dia cada um de nós vai seguir seu próprio caminho, entende?"
Josh continuou em silêncio. O garoto não havia falado nada a tarde toda; era como se Tyler estivesse falando sozinho.
"Eu não gosto da maioria das coisas que eu tenho que fazer. Ir à terapia e ter que aturar a doutora Oakley me olhar estranho enquanto eu falo sobre querer me matar, ter que gastar no mínimo quinze minutos de cada consulta explicando para ela que eu não vejo nada de brilhante no meu futuro mesmo que eu esteja me esforçando para isso... eu odeio aquela mulher. Deus, como eu a odeio. Josh, você sabe que eu odeio ela, a gente poderia dar um jeito para que eu nunca mais tenha que ir até lá."
Ele sorriu, mas Josh continuou sério. Tyler deitou-se no chão usando a mochila de Josh como travesseiro e encarou o teto da casa que ambos os garotos fizeram às pressas em uma tarde na qual ameaçava chover.
"Nós poderíamos fugir, assim eu nunca mais teria que ir à terapia; pegar o carro do meu pai e sair por aí sem rumo. Ninguém sentiria minha falta. Talvez sentissem falta do carro mas que liga?" Tyler riu. "Poderíamos ir até o Oregon ou até a Califórnia. A Califórnia tem sol, certo? Eu sinto falta do sol. Já faz quase três meses que tudo o que temos são nuvens e chuva e... e frio. Na verdade eu gosto do frio, ele me dá boas ideias. Droga... Josh, sabe quando você tem tanto a dizer mas não consegue? É como se faltassem palavras para expressar toda a bagunça que sua mente se tornou..."
Uma chuva fraca começou. O som das gotas da chuva tocando as folhas das árvores era a única coisa que quebrava o silêncio do local.
"Na verdade eu já até aceitei tudo isso. Sabe, o fato de que você provavelmente ri da minha cara quando eu não estou perto, o fato de que você não se importa realmente comigo, o fato de que eu tento acreditar no amor mas ele simplesmente não é para mim. Josh, eu não acredito que eu posso ser amado e eu quero que você me perdoe por isso. Me perdoe..."
Tyler começou a chorar. Ele não queria chorar, não perto de Josh, mas a medida que tentava segurar o choro sentia um aperto que começava em seu peito e ía até sua garganta obrigando-o a colocar as lágrimas para fora e gaguejar entre soluços. Ele tentava sorrir para mostrar que estava bem, mas tal sorriso desmanchava-se involuntariamente.
"J-Josh... todos ao meu redor parecem estar perdidos. Nenhum deles tem realmente um rosto, nenhum deles tem realmente uma alma. Eu tenho medo de me tornar um deles. E-eu não quero me perder, eu não quero me perder... e eu não quero que você se perca, por favor. Você deve estar bravo por causa do que eu disse e porque eu estou chorando agora... Josh, você não disse nada a tarde toda e ontem nós estávamos juntos e hoje também estamos, mas ontem você estava falando e hoje você não disse nada... eu estou com medo. Ontem você me disse para fechar os olhos e então eu veria estrelas mas eu não vi nada, estava tudo escuro e eu me senti mal por causa disso, eu não consegui ver estrelas quando você estava me abraçando, quando nossos corpos estavam juntos, eu deveria tê-las visto mas... eu simplesmente não consegui."
Tyler estava de joelhos em frente à Josh, que olhava-o sem se mexer e ainda sem pronunciar uma palavra.
"L-lembra daquele dia que fomos ao parque e eu saí depois que você falou do seu pesadelo de quando era criança? Josh, eu fugi porque eu havia tido o mesmo pesadelo que você, só que... só que, droga, como eu explico?! Você disse que sonhava com uma floresta e estava escuro... e... e ouvia alguém pedindo para ser morto, então os gritos cessavam. Josh, em meu pesadelo sou eu quem está gritando e pedindo para ser morto e os meus gritos cessam porque ele me mata. Quando você era criança, sonhava comigo sendo morto, Josh, você entende isso?! De alguma forma nós estamos ligados..."
Tyler olhava o garoto nos olhos e ele permanecia ali, inerte e silencioso.
"Josh, fale alguma coisa!" Ele disse aproximando-se de modo que suas testas se encostaram e a visão de Tyler não conseguia focar no rosto de Josh, fazendo com que se tornasse um borrão. "Por favor... eu sei que você está aqui; você está na minha frente e eu posso ouvir sua respiração, fale alguma coisa... p-por favor!"
Joseph fechou os olhos e suspirou, ainda próximo à Josh. As mãos frias de Joshua tocaram seu pescoço, levando-o para ainda mais perto. Tyler sentiu o mesmo nervosismo da noite anterior, sentiu o tempo tornar-se mais lento novamente e o som da chuva virou algo distante, quase inaudível.
Eles afastaram-se do beijo, mas o tempo permaneceu lento e os sons, distantes. Josh olhou para Tyler com o olhar calmo; seus cílios estavam unidos por causa do choro recente e seu rosto estava vermelho. Uma lágrima solitária pendia em seu queixo, pronta para atirar-se na superfície de seu moletom, molhando-o como as outras fizeram.
"Eu poderia passar uma eternidade te ouvindo falar de tudo o que te incomoda e ainda passaria mais outra apenas tentando fazer você se sentir seguro." Joshua disse acariciando o rosto de Tyler, que tinha os olhos vermelhos e uma expressão preocupada. "Ty, você é minha estrelinha e sabe disso, eu nunca deixaria nada de ruim acontecer com você."
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toxic; tøp
FanfictionTyler estava cansado de ser torturado pela sombra de olhos vermelhos;