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Tyler ajeitou a gola da camisa e colocou as mãos em seus bolsos. Seu nariz estava vermelho e suas olheiras eram ainda mais nítidas.

"Então, o que você acha de..." Josh disse apontando para a direção do parque que
Tyler costumava ir. "Nós podemos ficar até que comece a chover ou até quando a missa acabar. O que acontecer primeiro."

Josh olhava-o sorrindo; alguns fios de cabelo caíam sobre seus olhos castanhos como café. Tyler olhou para o céu.

"Ah... certo." O garoto falou sem jeito. "É q-que... está meio frio, sabe?"

"V-você quer minha jaqueta? Eu não estou com nem um pouco de frio." Josh disse tirando sua jaqueta e entregando-a à Tyler sem nem ao menos ouvir sua resposta.

Tyler vestiu-a e ambos começaram a andar em direção ao parque. O mais alto caminhava silenciosamente olhando para o chão.

"Tyler, desde quando você mora aqui?" Josh perguntou sem graça. Por mais que não gostasse de ter que puxar assunto com as pessoas, ele gostava de conversar com Tyler.

"Eu acho que... desde sempre. Meus avós, meus pais, meus irmãos, somos todos daqui. Totalmente daqui." Tyler respondeu pensativo. "É bom ter um lugar para poder chamar de casa. Eu sinto que pertenço à essa cidade."

Josh parou de andar e olhou para o outro.

"Deve ser bom mesmo... sentir que sua história está marcada em um lugar específico." Josh disse calmamente. "Eu não pertenço à lugar nenhum."

Tyler olhou-o e sorriu.

"Você pertence à qualquer lugar onde se sinta seguro. Qualquer lugar onde possa chorar sem ser julgado, rir sem ser chamado de louco." Disse tocando o ombro do amigo.

"Acho que pertenço às estrelas. Não exatamente às estrelas... ao vazio do espaço." Sorriu olhando para o chão.

"Somos todos feito de estrelas." Tyler disse olhando para os olhos do amigo. "É tão ruim o fato de que não brilhamos como elas."

Os garotos sentaram-se na grama. Josh enfiou a mão no bolso e logo retirou um isqueiro com algumas marcas de faca em sua superfície.

"Você fuma?" Tyler perguntou assustado.

"Não. Mas sei . É legal segurar em suas mãos algo que pode destruir e matar." Josh respondeu olhando a chama do isqueiro acender-se e apagar-se repetidamente.

Tyler não pôde deixar de lembrar do sonho que teve alguns dias atrás. Para ele fora algo tão real. A sensação do fogo queimando sua pele e tranformando-a em cinzas fê-lo se arrepiar.

Para Tyler, havia um tom sombrio e poético na frase dita por Josh, o que fez com que ela ecoasse em sua mente por alguns segundos.

"Sabe, quando eu era menino eu tive um pesadelo que me marcou muito." Josh disse aproximando o isqueiro aceso de seus lábios. "Todas as noites eu fechava os olhos e tinha o mesmo maldito sonho. Era uma floresta, estava escura. Eu quase não podia ver. Eu ouvia gritos... era como se alguém estivesse pedindo para morrer. Na verdade, pedindo para ser morto. E de repente os gritos cessaram, e tudo o que eu pude ver foi a fumaça de algo queimando. Algo ou alguém..."

Tyler sentiu todos os pelos de seu corpo arrepiarem-se repentinamente. Ele tentava fazer as palavras saírem, mas tudo que conseguia fazer era gaguejar.

"Tyler? Tyler, você está b-bem?" Josh perguntou ao perceber o quão assustado Tyler parecia.

"E-eu... eu tenho que ir, Josh." Tyler disse levantando-se rapidamente, tirando o casaco de Josh e jogando-o nos braços do garoto e então correndo para fora do parque, deixando o outro sozinho.

Tyler estava aterrorizado.

toxic; tøpOnde histórias criam vida. Descubra agora