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A chuva tornava-se mais forte a cada momento; Tyler não se importava com a chuva quando estava trancado no porão tocando seu piano.

"Tyler, se a chuva parar nós podemos ir ver as estrelas?" Josh, que estava sentado no chão desenhando algo em seu caderno, disse calmamente. "Minha mãe não vai estar em casa hoje, podemos subir no telhado e ficar lá a noite toda... nós e o céu."

Tyler concordou com a cabeça e continuou tocando as teclas do piano aleatoriamente. Seus dedos tocaram uma melodia que passou em sua cabeça; era algo suave, calmo e triste. Ele lembrava-se de ter ouvido essa canção quando era pequeno e isso era a única coisa que sabia sobre ela.

"Toque de novo." Josh pediu rapidamente. "Parece uma música que meu pai tocava para minha mãe quando eu era pequeno e... ele ainda estava aqui."

Tyler repetiu a canção, tentando lembrar-se do resto. Josh estava parado ao seu lado e Tyler afastou-se para o lado, dando espaço para que o amigo sentasse no banco junto à ele.

O de cabelo castanho tocou as mãos de Josh, levando-as às teclas que formavam a melodia da canção; ambos sorriam enquanto ouviam o som doce do piano.

Josh tentava criar uma letra para a música, jogava palavras aleatórias e fomava frases sem sentido, o que fazia Tyler rir alto.

De repente, as risadas cessaram, assim como o som do piano. Josh olhou para o chão, suspirou e forçou um sorriso; Tyler tocou seu ombro.

"Eu sinto falta dele." O de cabelo colorido disse. "Eu não deveria, eu sei que não mas um garoto precisa do pai."

Tyler não podia dizer que entendia a dor do amigo; durante toda a vida tivera ambos os pais ao seu lado, ajudando-o em quase todos os momentos difíceis.

"Eu tinha 6 anos. Um dia, uma madrugada na verdade, eu o vi com duas malas, uma em cada mão, saindo pela porta da frente. Ele também me viu; largou as malas e ajoelhou-se na minha frente. Eu sei que se pudesse, ele teria chorado rios bem ali, mas mesmo assim segurou as lágrimas. 'Estou indo para as estrelas, fique aqui e cuide da sua mãe, certo, campeão? Quando você olhar para o céu, lembre de mim.', disse e saiu. Simplesmente saiu. Depois disso, foi como se ele tivesse desaparecido da face da Terra: minha mãe não falava mais nele, os vizinhos nem pareceram notar, ninguém do trabalho dele nos procurou... foi como se só eu lembrasse que algum dia ele havia pisado nesse planeta."

Tyler olhava para Josh com os olhos arregalados; ele segurou a mão do amigo, que sorriu.

"Eu sei que parece idiota mas às vezes eu olho para as estrelas esperando vê-lo acenando ou algo assim..." Josh disse soltando uma risada tímida logo em seguida.

"Por isso você gosta tanto das estrelas, não é, Josh?" Tyler perguntou recebendo como resposta um "sim" baixo. "Hoje nós vamos ver as estrelas, certo? E elas vão estar mais bonitas do que jamais estiveram. Eu prometo."

Tyler e Josh assistiam, sentados no chão da varanda, a chuva antes forte, reduzir-se à um sereno leve. Eles poderiam ir ver as estrelas e isso deixava Tyler animado.

Josh encarou-o com os olhos brilhando; Tyler pôde novamente ver as galáxias que se escondiam neles; naquele momento, as "verdades" ditas à ele na noite passada eram apenas a lembrança de mais um sonho ruim.

Os garotos levantaram, colocaram suas mochilas nas costas e partiram em direção à casa de Josh. O céu exibia as cores lilás e laranja e era como se tivesse sido pintado com tinta aquarela.

"Parece um quadro digno de estar em um museu." Josh disse olhando para o céu. Seus olhos fechavam-se por causa da claridade mas ele não parecia se importar. "Eu não sei se a gente merece viver em um mundo tão perfeito, Tyler. Entende? Estamos aqui e somos insignificantes mas mesmo assim nos achamos donos de tudo isso. Não somos. Nunca seremos."

Tyler ajeitou a mochila nas costas e enfiou as mãos no bolso do moletom. Ele tinha o desejo súbito de que Josh continuasse falando durante todo caminho; a voz do amigo alegrava-o mesmo quando falava sobre coisas tristes.

Josh ajudou Tyler a subir no telhado pela janela em seu quarto e instantes depois, ambos estavam sentados olhando para o céu noturno.

O silêncio do local foi quebrado pelo som da risada de Tyler; Josh olhou-o confuso, também rindo.

"Eu não sei... quando estamos juntos eu penso sobre amor. É idiota e estranho."

"O que é idiota? Pensar sobre isso quando estamos juntos ou o sentimento?"

"Os dois, eu acho. Eu não sei o que há de especial no amor, entende? São dois seres humanos se apaixonando e pronto. As pessoas fazem músicas, livros, poesias sobre isso mas por quê? Se apaixonar é tão comum quanto pegar uma gripe e eu nunca vi um poema ou uma música sobre gripe."

Ambos riram. A luz da lua fazia com que Tyler pudesse ver apenas precariamente o rosto do amigo.

"Eu não estou dizendo que não existam músicas ou poemas sobre gripe, deve existir, mas não é tão comum." Tyler completou entre risos tímidos.

"Por que você pensa sobre como o amor é algo idiota logo quando estamos juntos? Isso é cruel, cara."

"Não sei, você me faz pensar."

"Sobre amor?"

Silêncio. Tyler encostou a cabeça no ombro do outro sorrindo. As únicas estrelas que realmente queria ver naquela noite eram as que estavam nos olhos de Josh.

"Talvez."

"Você me faz pensar sobre como algumas pessoas são destinadas a se conhecer. Eu já te expliquei..."

"Eu não consigo imaginar como teria sido o último mês sem nós dois juntos. Aquele dia no jardim, a casa na árvore..."

"A música do piano..." Josh disse calmamente.

"É... eu prometo que vou tentar lembrar do resto da música, certo? E eu vou tocá-la e depois você vai aprender a tocar também e nós vamos tocar juntos!" Tyler disse com um certo tom de entusiasmo em sua voz.

Os garotos riram; por um momento, as estrelas pareceram mais próximas e não havia mais som algum. Tudo pareceu mais lento com exceção dos corpos de ambos os garotos.

Tyler fechou os olhos e sentiu a mão macia de Josh tocar seu pescoço; ele não sabia o que fazer, mas deixaria as estrelas o guiarem.

E de repente, os poemas e as canções de amor fizeram sentindo; os lábios frios de Josh tocavam os seus suavemente. Tyler não sabia exatamente o que estava sentindo; era uma mistura de euforia e medo mas mesmo assim, sentia-se mais seguro que nunca.

Então as estrelas voltaram aos seus lugares e nada mais era lento; a visão de Tyler estava focada no rosto de Josh, que sorria de um jeito puro.

"Não me odeie por isso." Josh disse calmamente.

"Por que eu deveria? Você fez os poemas de amor fazerem sentido."

toxic; tøpOnde histórias criam vida. Descubra agora