Capítulo 24

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Duas horas já haviam se passado e eu continuava chorando. Em filmes e novelas, as mocinha usavam lenços para enxugar suas lágrimas, no meu caso, que estou bem longe de ser a mocinha, não havia lenços. Mas havia a camisa de Ben. Ele me abraço assim que me afastei do berço de Estela (uma hora atrás, quando eu a botei para dormir) quando comecei a chorar, descontroladamente. Me agarrei a Ben como se ele fosse minha tábua, que ele de alguma maneira fosse me tirar dessa. Mas ele não podia.

— Isso já era de se esperar, Lola. — Ben esfregar minhas costas, assim como eu havia feito com Estela para deixá-la calma. — Você é, querendo ou não, a parte materna na vida de Estela de hoje em diante.

— Mas eu não quero! Eu não quero tomar o lugar de Cami, eu não quero! — soluço.

Esfrego meu rosto na camisa ensopada de lágrimas de Ben, ele era um ótimo lenço, e bastante bom de se abraçar.

Estávamos no sofá da sala, meio deitados, Ben com os braços em minha volta me reconfortando. Nossas pernas estavam entrelaçadas, meus braços ao redor de seu corpo e minha cabeça em seu tórax. Se fosse para me comparar com alguma coisa no momento, seria o bicho preguiça grudado na árvore.

— Você não está tomando o lugar de ninguém, só está preenchendo o vazio que falta.

— Eu não quero preencher nada! Eles não poderiam ter feito isso comigo, não podiam! Eles não podiam ter morrido e deixado a guarda de Estela pra mim, não podiam! Eu achei que estava preparada, mas não estou.

— Como? — Ben para de acariciar meus cabelos.

— Cuidar de Estela parecia uma tarefa tão fácil, afinal de contas, cuido dela desde do dia que ela nasceu. Mas isso? Ser substituta de Cami? Eu não posso fazer isso, não posso.

— Lola, você parou para escutar o que está dizendo? Você está desistindo de Estela! — ele me faz levantar a cabeça, me fazendo olhar em seus olhos. — É isso que você está me dizendo? Que está desistindo de Estela porque ela lhe chamou de mãe?

— Como você se sentiria se ela lhe chamasse de pai? Como se sentiria se ela o chamasse de algo tão importante, sabendo que essas palavras deveriam ser ditas para outra pessoa?

— A questão é, você ama Estela?

— Amo. — respondo sem nem mesmo piscar. — Eu a amo com toda minha vida.

— Não é o que parece.

— Como é que é? — me afasto tão rápido de Ben que quase caio no chão.

— Isso mesmo. Em vez de estar feliz por você estar dando aquilo que Cami e Paul tanto pediram, está chorando, em vez de estar orgulhosa de si mesmo.

— E o que eu estou dando?

— Amor. — ele sentar direito e se aproximar de mim — Você está dando tudo o que eles pediram. Amor, carinho, completa dedicação à filha deles. Quando eles fizeram aquele testamento, entregando a guardar de Estela pra você, eles sabiam o que estavam fazendo, pois eles sabiam Lola, sabiam que você, e apenas você, a amaria como pai e mãe.

Pisco algumas vezes, não digo nada por vários segundos, apenas fico encarando Ben.

— Eu, eu ... não sei o que dizer. — confesso abaixando a cabeça.

— Me diga que não vai desiste de Estela.

— Caso eu fizesse isso — caso, não que eu fossa fazer isso — você teria a guardar de Estela.

— Como se eu fosse conseguir fazer isso sem você.

Não digo nada, apenas volto a abraçar Ben. E no silêncio, percebo que parei de chorar.

LolaOnde histórias criam vida. Descubra agora