— Você só pode estar brincando!— Não, Ben, não estou. Se tiver alguma dúvida, leia o testamento por si mesmo, está tudo aí. Paul e Camille me procuraram a sete meses atrás.
Sete meses? Isso significava que Estela estava com dois meses na época. Me lembro vagamente daquele dia, Cami me entregando Estela com um estranho sorriso no rosto e Paul trancando o escritório depois da chegada de Franco. Achei completamente estranho na época, mas deixei passar já não era da minha conta. Quão tola.
— Como Paul pôde confiar em uma empregada e não em mim!
Espera, é o quê?
Os movimentos parecem voltar ao meu domínio ao mesmo tempo em que o sentimento de raiva começa a tomar conta de mim.
— Eu sou seu irmão, sangue do próprio sangue, e ele me deixa como última opção?! Como ele pode confiar a guarda da filha à empregada!
— Calminha ai, seu babaca. — ele ergue as sobrancelhas, surpreso com minha primeira retaliação, mas bem, foda-se, se ele começou agora vai ter que escutar. — Empregada?
— Sim, empregada. Você não fazia merda nenhuma a não ser trabalhar para eles. — o imbecil ainda tem a ousadia de erguer a voz em um claro tom de raiva. Rio sem humor.
— Empregada — concordo com a cabeça, levantando da cadeira e tomando cuidado para não tropeçar em Estela — A empregada aqui esteve do lado de Cami quando ela sofreu a perda do bebê, a empregada aqui segurou sua mão enquanto ela sentia dores enquanto era levada para o hospital. A empregada aqui consolou Paul enquanto sua mulher estava fazendo uma cesariana para retirar o bebê morto, a empregada aqui viu os dois chorarem e sofrerem com a perda desse bebê. A empregada aqui chorou escondida quando descobriu que outro bebê estava a caminho, e não por felicidade e sim por preocupação, pois eu sabia! Sabia que se eles perdessem esse bebê, eles não aguentariam! Então me diga, irmão de Paul, sangue do próprio sangue, porque a empregada aqui não é digna de cuidar do bebê das pessoas que ela mais amava nesse mundo?
Ben ficou calado, apenas fitando meu rosto. Ele pareceu surpreso e algo mais que não pude identificar. Logo a maldita careta aparece em seu rosto.
— Eu sou o tio dela. — ele diz com aquele tom de "isso-é-óbvio".
— E eu sou a madrinha. — cruzo os braços.
— Deus! Você só tem 18 anos, garota.
— E sendo assim, maior de idade, certo Sr. Franco? — olho pro advogado no canto que parecia desconfortável por estar presenciando essa discussão.
— Sim.
— Foda-se a lei, isso não faz o menor sentido. Eu sou o tio de Estela, já sou adulto, tenho um ambiente adequado para criar uma criança, e tenho um emprego, e você? Aonde vai criar uma criança?
— Acredito que eu tenho a resposta para isso — Franco se pronuncia — A casa, até Estela completar maior idade, será administrada por Lola.
— É o quê? — perguntamos em uníssono.
— Sim, se for o desejo de Lola ficar com a guarda de Estela, você passará a morar aqui.
Alguns segundos se passam até Ben começar a latir outra vez.
— Eles estavam loucos! Os dois! Como eles pensaram que deixar a guarda de uma criança para outra criança seria uma maldita boa idéia! Meu Deus, só eu vejo como essa situação é patética?!
Fecho minha mão em punho e ignoro o formigamento em minha palma. Um tapa no rosto desse babaca não seria uma má idéia agora, mas me controlo antes de cometer tal ato. Sou pega de surpresa quando Ben vira bruscamente em minha direção e se aproxima.

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Lola
RomanceAos dezoito anos você pode esperar e desejar muitas coisas. Como uma bolsa na faculdade, finalmente encontrar o amor da sua vida, ter seu coração partido pelo mesmo. Até mesmo ganhar na loteria! Haviam mil e uma possibilidades para o futuro de Lola...