O Começo De Uma Jornada

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Oya era uma mulher livre, temperamento forte e muito sensual. Já teve muitas paixões, mas nunca um amor. Ela confiava muito pouco nas pessoas e vivia desimpedida e sozinha, sem família, sem amigos, mas com uma legião de ex-paixões que com certeza lembram do poder de Oyá e do gosto de seus lábios. Sua pele negra e brilhante atraía bravamente quase todos os homens da aldeia. Assim como Ogún. Ele era o guerreiro mais temido e amado pelas regiões. Assim como Oyá, tinha um temperamento forte e seu físico atraía fortemente os olhares femininos e seus desejos.

Ele já havia prestado atenção nos passos de Oyá e um dia resolveu segui-la dentre a mata. Enquanto ia atrás dela, sem perdê-la de vista, ele se assusta com um ruído dentro da mata, viu um pequeno coelho, ficou um pouco decepcionado pois poderia ser sua caça do dia e quando percebeu, perdeu totalmente Oyá de vista, avistando ao longe um enorme e feroz búfalo. Ogún, andando rápido porém cautelosamente para não chamar a atenção do animal, ia seguindo o búfalo e já preparando seu facão. De repente percebe o animal parando na beira de uma cachoeira tirando sua pele com as próprias patas que num piscar de olhos se tornaram braços. Braços aqueles, escuros, sedosos e brilhantes conhecidos por Ogún: os braços de Oyá.

Oya preparava seu esbelto corpo para um relaxante banho na beira daquele baixo rio. Ninguém sabia da forma de búfalo de Oyá, era um segredo só dela que acabara de ser descoberto pelo grande comandante de tropas, Ogún. Ele audaciosamente e com muito cuidado rouba a pele de búfalo de Oya sem que ela perceba. Após seu banho, Oyá procura sua pele para retornar à aldeia e percebe que foi roubada. Conforme a sua personalidade, Oyá fica extremamente furiosa e um pouco preocupada por alguém ter descoberto então o seu único segredo. Dando seu jeito, ela retorna ao povoado e como sempre, ajuda na confecção de utensílios com palha da velha "Iya Ojú" a mãe dos olhos, que observava tudo na aldeia e alertou Oyá

-Comandante quer falar com a moça, Oyá

-Comigo? Espero que não seja pedido de guerra, não estou pronta para coisas assim

Oyá vai em direção à casa de Ogún e bate três vezes na porta com um breve frio na barriga do que poderia esta-la esperando. No momento que Ogún abre a pesada porta de madeira e barro, sem antes nem saudar o comandante ela passa rapidamente os olhos pelo recinto e percebe jogado ao chão, sua pele, como um sujo tapete e olha furiosa para Ogún esperando explicações.

- Boa tarde, boa moça, parece que já sabe do que quero falar com você, não?

- Me devolva, Ogún, agora! - falou em um tom alto, bem proveniente de OyA.

- Sou apaixonado por você, bela Oya, quero casar com você, ter filhos, quero tudo! Roubar sua pele foi a única forma que achei que você pudesse me notar.

Depois de muito tempo tentando convencê-la desse amor, ele sugeriu que nunca teve filhos e esse era o seu maior sonho e abriria mão de muitas guerras para ter muitos filhos com Oya. Ela pela primeira vez amou um homem e se entregou de corpo e alma. Tiveram 9 filhos, a mais velha, Alamòjú, que significa sabedoria e os outros 8. Até então, todos os 7 nasceram com alguma deficiência, talvez surdo, talvez mudo, talvez cego, menos Alamòjú e o mais novo, que nasceu sem nenhuma deficiência, porém nasceu morto. Um egun. Egungun como era chamado, nasceu com o poder da fala, mas sua voz era estranha, um tanto assustadora, mas sua mãe amava aquele espírito igual aos outros.

Quando Ogún pediu Oyá em casamento, ela não sabia suas verdadeiras intenções. Ele não queria só ela, ele tinha outras, outras três. Já tinha filhos, um filho de cada e mais os nove de Oyá. Ele queria Oyá só pra ele, mas não queria ser só de dela, Ogún era de todas, Ogún era das quatro e Oyá não sabia.

As três amantes de Ogun queriam saber como Oyá se casou com ele. Se houve alguma troca, algum acordo, afinal, mesmo apaixonada ela ainda era Oyá.

Resolveram então, embebedar Ogún e retirar dele todos seus segredos e de sua esposa, mãe de seus outros 9 filhos.

- Aquela mulher é também um búfalo, não sabiam? Me apaixonei por um enorme animal, e que animal....

Isso já foi o bastante para as três mulheres, mas Iya Ojú observava de longe. Quando Oyá voltava de uma caminhada, Iya Ojú falava com sua voz calma e sutil. 

- Não se altere, moça

Oyá sem entender, continuou caminhando e deu de cara com aquelas três mulheres que falavam em tom alto e que parecia estar zombando.

- Olhem, a mulher búfalo

- Sinto o cheiro de pêlo molhado daqui

- Ogún nos contou tudo, não deveria confiar nele

Oyá não conseguia acreditar no que vera. Rapidamente correu, pegou sua pele, a vestiu e em golpes bruscos e certeiros ela acertou as três mulheres sem fazer muito esforço. Para ela foi digno ver aqueles três corpos estirados no chão.

A indignação rondava o ar. Oyá nem acreditava que Ogún revelou vosso acordo de um casamento pelo seu couro. Ela tinha amado Ogun, mas seu sentimento agora era outro. Oya foi atrás de seus filhos e entregou à Alamòjú dois chifres de búfalo, para sempre que um tocasse o outro, ela pudesse vir correndo ajudar seus filhos em apuros. Deu as coordenadas certas à Alamòjú

- Minha pequena, você é forte, você é muito sábia, engane a todos, finja que assim como alguns de seus irmãos você é surda, as pessoas lhe pouparam de fazer perguntas, e assim você vai descobrir muito sobre a região e as pessoas que aqui vivem, sem que percebam, diferente de mim que fui apunhalada pelas costas. Eu confio em você.

Alamòjú assentiu com a cabeça e Oyá partiu.

Ainda segurando aquele par de chifres, Alamòjú prometeu ser como sua mãe e cuidar bravamente de seus 7 irmãos, pois Oyá levou Egungun com ela, ele poderia ser útil. Oyá mesmo tendo partido, não sabia que Ogun havia tido outros filhos. Uma coisa que ela não queria saber era daquele homem, ela só queria fugir, ela só queria que ninguém lembrasse dela como a "mulher búfalo" ou a mulher que matou três mulheres na frente de seus próprios filhos, ela só queria paz e sabia que Alamòjú seria capaz de cuidar de seus irmãos e manter o nome de Oyá limpo naquela aldeia, e também, como no plano, descobrir coisas da aldeia que Oyá não conseguiu descobrir, mas isso requer tempo e após a ida de Oyá, 9 anos se passaram, e Alamoju, assim como a mãe, se tornou uma quase bela e perfeita mulher, se mostrando uma adolescente forte e guerreira, porém....

OYA - A mãe dos nove filhosOnde histórias criam vida. Descubra agora