A Guerra

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Após comemorarem bastante essa novidade, já era hora de começarem a conversar coisas mais sérias, não?

-Alamoju, já pensou se eu realmente morrer nessa guerra? Essa criança vai vir sem pai igual à mim... -

-Você cresceu sem pai igual à mim, não é Idá? -

-Ogun foi embora, nem deve se lembrar de mim -

Alamoju levantou da esteira de uma forma que Idá ficou bem assustado.

-O que você disse, Idá?- falou Alamoju num tom bem alto

-Meu pai, Ogun... Ele foi embora não sei por qual motivo, minha mãe foi morta, não sei por quem e simplesmente cresci sozinho. Só sei que foi um massacre, minha mãe e mais duas. Não costumam falar disso por aqui, só ouço falar de Oya, mas nunca me aprofundei muito. -

-Não é possível! NÃO! Eu não acredito, Idá. Não pode ser...- falou Alamoju completamente desesperada

-O que foi? - perguntou Idá cada vez mais preocupado

-Eu vou ter um filho com meu irmão, Idá. Somos irmãos. IRMÃOS! - falou Alamoju gritando

-Você está falando sério, Alamoju? Por favor, se acalme, me conte direito...-

-Eu também sou filha de Ogun, meus irmãos também. Ele casou com a minha mãe, mas antes ele já deitava com a sua e com mais duas mulheres. Ele enganou minha mãe e essas mulheres fizeram uma arruaça. Ogun contou o segredo da minha mãe para elas. Minha mãe agiu precipitada, mas o ódio tomou conta dela por inteiro... Sinto muito -

-Espera! Sua mãe matou a minha?- disse Idá indignado

-Por favor, não culpe ela por isso. Aposto que você faria o mesmo. -

-Bom, graças a sua mãe eu nem sei como é o rosto de Ogun hoje em dia, não sei se pareço com ele, não sei se pareço com a minha mãe e olha... Estou casado com a minha irmã! Mas não, eu não vou culpa-la, até entendo, mas por favor, não quero ouvir mais nada sobre isso.-

-Só tenho mais uma coisa a dizer... Pretendo sair para procurar por ela. É mais do que importante pra mim-

-Mesmo grávida?- perguntou Idá.

-Sim... Não sei o por quê, mas agora, depois de saber que é meu irmão fiquei com tanto medo dessa criança nascer, não sei, doente. Quer dizer, somos familiares absurdamente próximos, mas sabe, não quero pensar nisso, só quero saber uma coisa, na verdade duas... -

-O quê?-

-Quero saber se depois disso você ainda está pronto para a guerra amanhã e quero principalmente saber se ainda seremos amigos... - perguntou Alamoju bem preocupada

-Sim, seremos amigos pra sempre, bom, somos irmãos e além disso, querendo ou não estamos esperando uma criança e eu particularmente estou muito feliz por ser pai. Não se preocupe comigo, vou te amar eternamente, só não podemos continuar com nossa relação. Não sei se estou tão preparado para a guerra quanto estava antes-

-Acho justo... Sinceramente, muito obrigado por entender, estou bem mais tranquila agora, Idá. Você é incrível. Vá descansar. -

Idá não guardou rancor mesmo, ele ainda amava Alamoju e ele ia precisar adequar essa amor às suas condições... Bom, são irmãos não é?
No dia seguinte seria a tão esperada e temida guerra. Idá após ter aquela conversa com Alamoju foi descansar pois estava exausto, mas mesmo assim os seus pensamentos oscilavam.

No outro dia, ele acordou bem cedo, comeu alguma coisa pra não ficar em jejum, beijou a testa de Alamoju, acariciou aquela barriguinha grávida que estava tão pequena, mas eles já tinham um enorme amor pela criança e partiu em longa caminhada para a distante aldeia que ocorreria a guerra antes mesmo dela acordar.

Alamoju acordou algumas horas depois dele ter partido e foi cuidar de seus irmãos como costumava fazer sempre.

Ela resolveu afiar algumas facas e adagas que sua mãe havia deixado.

Ela passou um bom tempo treinando com aquelas facas e adagas e finalmente Idá chegou no seu destino.

De primeira, viu centenas de guerreiros enormes de um lado e outra centena do lado que ele estava. O nervosismo tomava conta, ele não sabia se sairia vivo de lá e nem se levaria comida para a sua aldeia.

Um velho homem anunciava a hora da preparação, a hora em que os guerreiros deveriam se arrumar e se alinhar para a batalha, a partir dali, qualquer tipo de golpe e ameaça seria permitido.

Idá se preparou e pediu à Olorun que o protegesse. E o banho de sangue começou.

Idá partiu pra cima como se não houvesse amanhã. Eram centenas de corpos suados e sangrentos correndo naquele barro quente.
Ouviam-se choros, claramente deviam ser suas dignidades voltando pras suas famílias pelo vento, avisando que havia um homem a menos na aldeia.

Não que isso fosse possível, mas poderia... Seriam muitos.

Idá nunca esteve tão insaciável de sede de mortos. Ele ia pra cima e apunhalava seu enorme facão na Barriga ou até mesmo na cabeça de seus oponentes.

Ele teve o orgulho de segurar uma cabeça com suas próprias mãos.

Eram corpos caindo para todos os lados. Dava pra ouvir de longe os gritos furiosos e ofegantes acompanhados de um silêncio, o silêncio da morte...

Idá nem se importava com o tamanho e a grandeza daqueles guerreiros, ele conseguia matar muitos. Idá realmente se preparou o bastante.

Aos poucos ele foi percebendo que do seu lado só sobrou ele e mais dois homens, sendo que no outro time ainda sobravam alguns guerreiros.

Eles duraram até o último oponente cair morto no chão, porém Idá se machucou feio e não conseguia voltar a pé pra casa e contar sua vitória para Alamoju...

Um dos homens que sobrou junto dele o colocou nas costas e partiu até a aldeia sem nem mesmo se apresentar.

Aquilo havia sido uma enxurrada de sangue. Idá estava feliz por ter vencido, mas não seria por isso que ele ia esquecer a dor do seu ferimento.

Eles morriam de fome e sede. Ao chegarem na aldeia e Alamoju atender ao homem com Idá nas costas, todos ficaram intrigados com aquele homem de voz alta e grossa.

-Eu sou Ogun, este é meu companheiro de guerra, Osogiyan. Eu trouxe esse guerreiro para casa, vencemos a guerra. Poderia me oferecer água?-

OYA - A mãe dos nove filhosOnde histórias criam vida. Descubra agora