Conversas...

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¦ Narrador ¦

Não era de se esperar, Alamoju se apaixonou mesmo por Idá. Ela podia ter poupado seu coração, agido seu plano e aí sim se apaixonar, mas não...

Dois meses se passaram e Alamoju completamente cega de amores por Idá e Idá cego de amores por ela, acabaram morando juntos e Alamòjú parou completamente de fazer o que Osúmarè mandou através do jogo.
Todos os dias eles tinham noites prazerosas e felizes. Ela não deixou de cuidar de seus irmãos e nem Idá deixou de treinar como um jovem guerreiro.

Alamòjú andava bem cansada, eram irmãos, era marido, era pensar na mãe e finalmente lembrou do seu banho e de seus preparativos para correr atrás de Oyá.

Idá recebeu um pedido de guerra de uma aldeia vizinha. Vários guerreiros também foram chamados, Idá não sabia se estava preparado... Faltavam alguns dias para a guerra, mas Idá sabia que se não se preparasse poderia voltar morto.

- Alamòjú, meu amor! Me escute. - disse Idá correndo em direção à Alamòjú

- O que aconteceu? Está tudo bem?

- Não, talvez, eu não sei... - disse em um tom desesperado

- Fale Idá! Agora!

-  Ah, eu acho que vou desmaiar, tô zonzo, uh - falou brincando

- Eu estou perdendo a paciência com você Idá, fale! - disse Alamòjú de uma forma um pouco estressada

- Vieram me chamar pra uma guerra. Um pedido de guerra de outra aldeia em troca de comida. Eu vou morrer, Alamòjú. Ah Olorun, me ajuda, sou tão novo! Me segure Alamoju, me segure. Vou sair louco daqui. Não vai ter para ninguém.- falou o brincalhão

- Você já é louco, Idá... Quero ver você sair daqui com todo esse pique e dar de frente com um homem gigantesco. Não vou ter ninguém.

- Tá... Vou me preparar, preciso treinar muito.

- Sim, Idá... Faz bem.

Idá foi treinar como um forte guerreiro e afiou vários facões até achar o que mais lhe agradaria para a ocasião.

Alamòjú também se preparava para algumas coisas bem importantes. Ela continuou tomando seus banhos com azeite de dendê, tentou aprender algumas coisas sobre sobrevivência, auto-defesa e ataque. Ela precisaria de tudo isso para ir atrás de sua mãe, mas antes ela tinha algo a contar para Idá. Talvez muita coisa.

¦ Ogun ¦

Desde garoto sempre fui muito corajoso. Sempre coloquei na frente de tudo e todos as minhas opiniões. Corro atrás do que EU acredito.

Deixei alguns amores pra trás, Oyá foi o mais denso deles, mas só por isso não significa que deveria ser a única a deitar-se comigo. Será possível matar três mulheres na frente de nossos nove filhos?  Ela se tornou repugnante para mim.

Não sei se sou capaz de matá-la, mas sei que sou capaz de fazê-la pedir perdão pelo vexame que fez Ogún passar em meio àquela gente, em meio aos nossos filhos.

Tenho um homem ao qual trabalha para mim e vigia Oyá e Egungun. Se ela sabe ou não, não me importa, se sabe ela nunca fez nada para pará-lo. Meu olheiro e eu sabemos de todos os passos de Oyá. Colocamos a mulher desse homem em seu caminho, ela é uma bruxa e enganou Oyá da melhor forma.

Eu poderia ir atrás de Oyá agora, mas daqui a alguns dias terá uma batalha e lutarei pela aldeia na qual vivi por anos. Eu e meu fiél escudeiro, Osogiyan retalharemos nossos adversários. Venceremos essa guerra e vamos encher aquela aldeia de comida.

Meus filhos moram lá, eles merecem.

¦ Narrador ¦

Ogún também passou a se preparar para a mesma guerra que Idá.  Não seria um problema, afinal, Idá não sabe que Alamòjú é filha de Ogun.

Idá anda muito inquieto e ansioso pra guerra e Alamòjú pensa cada vez mais na forma de ir atrás de sua mãe.

Eram muitos assuntos para Alamoju resolver: ir atrás de Oyá; cuidar de seus irmãos; fingir-se de surda; ajudar Idá e simplesmente ter momentos só seus.

Alamòjú tentava conversar com Idá mas ele andava muito concentrado treinando e preparando suas armas para a tão esperada guerra.

- Idá! -  Chamou Alamòjú

- O que é Alamòjú? Me deixa aqui por favor. Preciso treinar, você está me atrapalhando.

- Cale-se Idá, nem pense em falar assim comigo, eu preciso falar bem sério com você. Acho que finalmente podemos saber da vida um do outro e você só sabe pensar nessa guerra. Você sabe que é bom no que faz, você sabe que tem capacidade de ganhar, mas prefere se privar do mundo e só pensar nisso. Pensa em mim Idá, pensa na sua vida!

- Desculpe... Quer entrar? Vamos conversar então. - ele disse

Alamòjú e Idá precisavam realmente conversar e ela sabia disso. Eles entraram e se sentaram na grossa esteira que estava jogada no chão enquanto seus irmãos brincavam de correr lá fora.

- Quem começa a falar da vida de quem?- perguntou Idá

-Eu começo. Vou primeiramente falar da nossa. - disse Alamòjú

-Ham?

-Estou grávida! 

Idá ficou em silêncio por alguns segundos e não sabia que expressão demonstrar, eram muitos sentimentos.

-Idá?! -

-É... Eu não sei o que dizer. Eu estou muito feliz, mas e se eu voltar morto daquela guerra? Essa criança não vai ter pai. Alamòjú, eu não sei o que dizer mesmo. Eu estou muito feliz. - ele disse com lágrimas nos olhos

-Eu também estava...

-Estava? - disse Idá confuso

- Quer dizer, eu estou feliz, mas eu tenho coisas a fazer e essa criancinha pode me atrapalhar, mas não quero perdê-la. Vou cuidar dela, não vou tratar isso como um obstáculo. Se cuidei de sete posso cuidar de mais um, o meu.

Eles comemoraram, mas ainda tinham que conversar. Agora que iam cuidar de uma criança, um deveria saber a história do outro, a vida do outro, tudo...

OYA - A mãe dos nove filhosOnde histórias criam vida. Descubra agora