VOCÊ?

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Alamoju se espantou. Por alguns segundos houve um imenso e constrangedor silêncio. Idá logo pediu que fosse colocado no chão e Alamoju ainda parada na entrada, não sabia o que dizer e nem pensar.

Alamoju levou Idá até a esteira de palha largada no chão e tratou de cuidar de sua ferida, deixando Ogún sozinho ainda no lugar onde ele parou em tremendo silêncio.

Osogiyan achou tudo aquilo muito estranho e percebeu tal semelhança daquela menina com alguém...

-Não vai mesmo me convidar para entrar? Ou pelo menos me agradecer por ter trazido seu marido pra casa?- perguntou Ogún vendo Alamoju muito emburrada.

-Alamoju... calma- sussurrou Idá para que só Alamoju escutasse.

-Ela é surda... Ogún!- Disse também Idá, para Ogún.

Por mais alguns segundos o clima ficou ainda mais silencioso e constrangedor, os irmãos de Alamoju estavam brincando pela aldeia, foram poupados dessa cena.

Ogún ficou quieto, respeitou aquele momento e a possível "deficiência" de Alamoju... Alamoju não sabia conter sua feição completamente estressada e simplesmente explodiu.

-EU OUVI SIM, EU LHE CONHEÇO OGÚN. MAIS DO QUE IMAGINA! - falou gritando, fazendo Idá pular para lhe segurar, mesmo estando machucado.

-Então temos alguém que finge ser doente aqui?- falou Ogún zombando de Alamoju, ao mesmo tempo que olhava aquelas facas penduradas e logo deduziu -Então você me conhece por que já guerreamos juntos, não?- completou Ogún

-ALAMOJU, FICA CALMA, AMOR POR FAVOR... POR MIM, PELA CRIANÇA! - exclamou Idá muito preocupado e ainda sim sentindo muita dor.

-Ficar calma? Com o homem que mentiu e abandonou minha mãe com nove filhos? MESMO?!-

-Espera, eu não estou entendendo. Você... você é a filha de Oyá?- perguntou Ogún, aflito

- SOU! E sabe quem é esse? Esse que você trouxe pra minha casa? Seu filho também, filho de uma das três mulheres que arruinaram a vida da minha mãe, SE É QUE ELA AINDA TEM UMA!-

-Ele é meu filho também? Vocês são casados? Por que?- Ogún soava frio

- Por que parece que nessa aldeia, os homens gostam bastante de descobrir os segredos das mulheres que aqui vivem- falou Alamoju não tão estressada quanto antes.

-Sua mãe está bem sim.- disse Ogun

- Como sabe?- perguntou Idá, poupando as palavras de Alamoju

-Na-nada. Eu só... senti.- falou Ogún tentando consertar seu escorregão

Suspeito o bastante para fazer Alamoju e Idá se preocuparem, mas àquela altura, Idá estava mais feliz do que preocupado em finalmente conhecer o seu tão sonhado e falado pai.

- Então você está grávida, filha. Eu abençoo essa criança para eu seja saudável o bastante para seguir o caminho da guerra, como seu pai e avô!- disse ainda Ogún, bem manso, mas ainda sim com aquela voz alta e grossa de um forte guerreiro.

-NÃO ME CHAME DE FILHA, EU NÃO PRECISO QUE O MEU FILHO TENHA A SUA BENÇÃO, OGÚN, ESSA CRIANÇA NÃO PRECISA DISSO!- gritou Alamoju, novamente exaltada

-Então veremos se ela vai ter tanta saúde quanto você deseja, sem a minha benção- disse Ogún com a voz um pouco alterada, dando alguns passos a frente, se aproximando de Alamoju.

Alamoju recua para trás, e com movimentos rápidos, puxa uma faca que acabara de afiar enquanto Idá estavam em guerra, a posicionou em direção ao peito de Ogún, fazendo aquela límpida lamina sentir a pele suada daquele alto negro e falou:

-Nunca lhe permiti entrar na minha casa, saia daqui, Ogún. Se alguém nessa aldeia souber que eu não tenho deficiência alguma, eu te procuro Ogún, ah, eu te acho, se não me chamo ALAMOJU, A FILHA MAIS VELHA DE OYA!-

Ogún deu um sorrisinho de canto de boca como quem pensasse "essa é mesmo minha filha".

Osogiyan puxou Ogún pelos braços é o tirou de dentro da casa.

Saíram da residência, acenando para Idá e logo a fora, Ogún avistou 7 crianças correndo e brincando. Logo deduziu, Alamoju lá dentro, Egungun com Oyá, esses só podem ser os meus sete filhos com Oyá que restavam.

Foi em direção às crianças e lhe deu um abraço uma por uma. Elas não entendiam nada, só repetiam os movimentos dos irmãos.

Partiram, longa caminhada essa bem cansativa, mas um guerreiro mesmo após uma forte e vitoriosa batalha, não fica cansado.

Alamoju sentia no peito uma dor, uma dor de arrependimento, talvez por ter tratado-o tão mal? Não! Arrependimento por ter vivenciado todas aquelas coisas há muitos anos atrás e também por não ter cometido o pior há alguns minutos atrás, ela só queria sua mãe... ela só queria uma mãe, ela queria Oyá...

- Você não deveria ter dito aquelas coisas, Ogún!- disse o guerreiro Osogiyan

- Não me arrependo!-





OYA - A mãe dos nove filhosOnde histórias criam vida. Descubra agora