Ao acordar de manhã com o sol ardendo em meu rosto, procurei revisar se ainda estava com todos os meus pertences. Três garrafas bem cheias de água, aliás, nem tanto, pois bebi um pouco para hidratar-me, pois nessas redondezas quase não se bate um vento, é calor até não desejar mais. Algumas frutas, algumas nozes, duas facas afiadas e uma muda de panos para poder cobrir-me em noites friorentas e aquele brinco brilhante que encontrei no rio.
Resolvi ir atrás de alguns animais talvez. Estava entediada. Quanto mais eu andava mais chato o caminho parecia. Todas as árvores eram iguais, todas as pedras pareciam iguais.
Eu vinha beirando o Rio para saber de onde vim e percebi que ele há um tempo andava muito agitado. Sempre que eu tentava banhar-me o rio me jogava de um lugar ao outro, ele nunca repousava. Parece algo errado.
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| Narrador |
Dez dias se passaram e Alamoju sentia fortes dores nas costas. Sua barriga crescida de quase 4 meses já pesava e a impedia de andar muito. Ela andava um pouco e sentava para descansar. Isso atrapalhava sua caminhada.
Sua comida já estava quase no fim e suas garrafas vazias ela conseguia repor nas águas do rio, rio muito agitado por sinal.
Alamoju andando vagarosamente percebe alguns sons vindo dos matos secos atrás de ti. Quando ela se vira, depara-se com uma onça. Alamoju fica parada e tenta não se desesperar. Sua respiração cada vez mais ofegante revela o medo que estava sentindo.
Ela não sabia se estava pronta para matar um animal daquele tamanho e com toda aquela ferocidade. Alamoju pensando sempre em seu filho e em sua mãe resolveu ataca-lo. Puxou a maior de suas facas e mirou enquanto o animal vagarosamente ia se aproximando. Não demorou para a grande onça perceber os movimentos de Alamoju, e quando isso aconteceu, saiu correndo como um animal muito veloz em sua direção.
Alamoju arremessa sua faca que fica presa na onça, mas não é o bastante. Quando o animal estava prestes a pegar Alamoju, ele cai. Dois homens saem de dentro das matas e se esforçam para pegar e levar o animal para longe sem nem mesmo se apresentar ou esperar que Alamoju dissesse obrigado pela flechada certeira do homem mais velho entre aqueles dois.
-EI! Menina!-
Alamoju se assusta e olha ao redor para ver que lhe chamava
-Aqui no rio, meu dengo...-
Alamoju vira-se e vê uma mulher dotada de uma beleza única banhar-se nas águas límpidas, porém muito agitadas daquele rio.
-Meu nome é Osún, mas você já deve saber, me parece que já te conheço de algum lugar. Eu sou a dona de todo esse rio, rainha da fertilidade, da maternidade, da beleza e do ouro. E você?-
- E-eu sou Alamoju... não sou dona de nada e nem ninguém, a não ser de meu filho que está em meu ventre. Me banho em seu rio, deve ser por isso que me conhece.-
- Imaginava. Todos se banham nele, mas não é por isso que você me é familiar, pequena. - Osún dá passadas cautelosas em volta de Alamoju e a pergunta - O que trás dentro dessa trouxa que traz consigo? -
- Comida que já está a acabar, garrafas de água e bem... eu trazia duas facas, mas uma ficou presa naquele animal que aqueles homens de pouca educação levaram, então só tenho uma faca, pano e um pertence brilhante que acho que pode me trazer sorte. -
- Aqueles homens salvaram sua vida. Meu marido Osossi, o maior caçador de todas as redondezas e Logun, meu filho, o jovem mais bonito que há de conhecer. -
-Me desculpe, não sabia que você vos conhecia.-
-Pelo visto tem muita coisa que não sabe, meu dengo. Para onde você vai que precisa de tantas coisas assim? Pelo visto já andou bastante, não? Pode me mostrar seu pertence brilhante? Gosto de coisas assim.-
-Mulher de muitas perguntas... só irei responder a todas elas porque me aproveito muito de seu rio.- disse Alamoju, entediada. - Estou indo atrás de minha mãe. Já estou na minha décima lua andando por aqui, meu ventre dói, minhas costas também, então andei muito sim, sem nenhum sucesso. E esse é meu brilhante da sorte.- Alamoju puxa o brinco e mostra de longe para Osún
- Não acredito, pequena! Meu brinco perdido!-
O rio cessa toda a sua fúria e fica calmo como era. Alamoju espantada pergunta.
- Seu brinco, senhora? Tem certeza?-
Osún mostra sua orelha que lhe falta um brinco e abre-lhe um grande e formoso sorriso.
- Odeio perder algum pertence meu, ainda mais quando se passa muito tempo e não o acho, por isso o rio não ficava calmo. Se estou calma o rio também está, se não estou o rio também não... mas não se preocupe, ele é seu. Vou te dar o outro também, mas não os use para não chamar atenção. Guarde os dentro de sua trouxa e tenha-os como um presente. Enquanto os tiveres, saberá e terá certeza de que o filho que está aí dentro será saudável. Este é meu presente para essa criança. - Osún sorri, mostrando seu grande amor materno. - E sua mãe, quem é? Por que estás a sua procura?
- Minha mãe... é... Oyá. É uma longa história - diz Alamoju
- .... não precisa contar-me. Eu sei de tudo. Eu sabia que já tinha visto seu rosto em algum lugar. Vocês são muito parecidas... sei por onde ela anda também.- Osun termina
[continua]
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OYA - A mãe dos nove filhos
SpiritualAlamoju, filha mais velha dos nove filhos de Oyá, encarregada de cuidar de seus irmãos, conta a história de sua mãe, de como a encontrou e de como conseguiu reunir tudo isso com a ajuda de muitas pessoas que esbarraram pelo caminho de Oyá. Tudo isso...