Lewá

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Depois de toda aquela situação, a aldeia permaneceu em silêncio, mas inquietos.

Ogun se declarou na frente de todos e Oyá não lhe deu resposta.

Dentro de casa, Alamòjú tentava entender tudo o que estava acontecendo. Ela não acreditava que depois de viver anos sem sua mãe, graças à traição de Ogún, ele voltaria atrás dela como se nada houvesse acontecido.

- Não precisa dizer nada se não quiser. - Oyá disse respirando fundo em seguida

Oyá se enconstou numa daqueles paredes vermelhas de barro e não se movia.

- Você ainda o ama?

Alamòjú parecia saber a resposta, mas tudo era tão complicado na sua cabeça jovem.

- É difícil dizer... - respondeu Oyá de cabeça baixa

- O que é difícil? É só um sentimento. Um sentimento bem forte.

- Você ama Idá?

- Amo!

- Pra você é fácil, filha. Outra pessoa nunca cruzou o seu caminho. Sempre foi só ele, ele foi seu único amor.

- E Ogún não foi o seu? - questionou Alamòjú confusa

- Teve Sangò... o rei!

- Você o amou? Pensei que havia sido apenas mais uma... pra ele... - Disse Alamòjú, confusa

- Talvez ainda o ame. Sangò mesmo com muitas esposas sabia nos fazer sentir mulher. Ele é um bom homem.

Oyá disse, mas não com tanta certeza e continuou...

- Ou ame Ogún.... Sabe? Hoje eu quero amar a mim mesma. Lutei tanto para que me amassem também, e hoje eu me perdi. Só quero me encontrar de novo, sem depender de um homem pra isso.

Lá fora, as pessoas ainda cochichavam sobre o que havia acontecido.

Se viam os burburinhos, as risadas debochadas. Os olhares.

Seria Ogún ainda apaixonado por Oyá e ela ainda apaixonada por ele?

Como saberiam?

Lewá, uma jovem que passava por ali, prestava atenção em cada mínimo detalhe do que ocorreu. Era a típica pessoa que se encarregaria de fazer com que todos soubessem o que aconteceu, mesmo que não estivessem presentes.

- OGÚN AINDA É MORTO E RENDIDO DE AMORES POR OYÁ.

Lewá chegou na cidade vizinha alertando cada um que passasse

- Fofoca é feio e não faz bem, minha filha. - uma senhora bem idosa que trançava fios de palha disse bem baixinho e com aquela voz rouca para que só Lewá escutasse

- E quem a senhora pensa que é?

Lewá se aproxima e pergunta com os queixos erguidos e as mãos na cintura

- Sou tudo aquilo que você pode imaginar, Lewá. E você, vai continuar despejando seu ciúme por Ogún em mais outras cidades ou vai parar por aqui? - a velha curvada se tornou ereta, e nem tão velha assim.

- Mas.... - Lewá não sabia o que responder, ela só sabia observar toda aquela transformação

- Ah, minha linda. Essas mãos na cadeira só amedrontam alguém se for em Oyá. Em outras pessoas, algumas atitudes não brilham!

Esse rosto nos seria familiar.

A bruxa

OYA - A mãe dos nove filhosOnde histórias criam vida. Descubra agora