Subcapítulo 1

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Observo atentamente o lugar. Não era difícil como a primeira vez que você comete um crime. Não era difícil cometer um crime. Era tudo questão de enganar ou não a sua presa. Tudo dependia de simples detalhes.

Ajusto levemente a gravata-borboleta em meu pescoço em um simples gesto antes de entrar naquela boate. Passo pelo segurança na mesma velocidade que pisei no tapete de boas-vindas. O segredo era manter-se confiante. Ao adentrar no grande salão, meu cérebro foi bombardeado por aromas, cores e sons. Corpos em movimento, música alta e substâncias duvidosas sendo inaladas deixam você disperso. Os novatos do crime costumam revelar sua identidade nesse exato momento.

Eu continuei andando, em vez de ficar olhando para os lados como qualquer novato faria.

Caminho no mesmo ritmo, desviando apenas de alguns corpos dançantes em minha frente. Olho discretamente para o relógio prateado em meu pulso esquerdo. Dois minutos havia se passado desde que eu desci do meu carro. Era tempo de agir. Os novatos que não se entregassem no primeiro momento, certamente se entregariam agora.

Olho de soslaio para o canto direito do balcão platinado, onde vejo uma jovem mulher sentar-se elegantemente. Continuo andando sem olhar nem mais uma vez sequer, em vez de encará-la diretamente como qualquer outro novato faria.

Em quatro passos e eu já estaria lá. Quatro... Mantenha a postura... Três... Ajeite a gravata... Dois... Não faça nada... Um... Sorria.

— Água, por favor — disse sentando-me no banco ao lado da elegante mulher.

O barman me olhou inquisitivamente antes de virar-se e ir pegar o meu líquido.

Com o canto do olho, pude perceber que a mulher ao meu lado se virou para encarar-me. Olhei para ela no mesmo instante. Seus olhos posaram nos meus por alguns segundos antes de eu abrir um sorriso sem jeito.

Ela sorriu de volta e desviou o olhar para o balcão.

— Aqui está, senhor. Mais alguma coisa?

— Não, obrigado — digo, deslizando uma cédula no balcão.

— Senhor! Ele não devolveu o seu troco! — Disse a moça do meu lado ao perceber que o barman realmente não devolvera o meu troco.

— Eu dei a quantia certa, senhorita — disse, virando-me para ela.

— Não, eu vi que você passou uma nota maior.

— Perdão, senhor, aqui está seu troco — disse o barman, deslizando o dinheiro.

— Obrigado, senhorita — disse, pegando o dinheiro e virando-me para encará-la.

— Disponha... Como é o seu nome?

— Disney.

— Disney... bom, prazer, eu sou Francine.

— Belo nome. Você está acompanhada?

— Não.

— Permita-me lhe fazer companhia?

— Eu adoraria...

Tão fácil como imaginei. Não que eu me sinta bem fazendo isso. Mas eu tenho que sobreviver de alguma maneira. Meu pai me prometeu que seria a última. Porém, a partir do momento que você faz isso da primeira vez, a última já não importa. Minhas mãos estão sujas do mesmo jeito.

Bora dançar? — Disse ela.

— Só se me prometer que dançará como se fosse a última dança da sua vida — disse sorrindo.

Fomos para o meio da pista aos passos da música agitada que o DJ escolhera. Nossos corpos estavam bem próximos quando pude sentir sua respiração ficar cada vez mais perto do meu pescoço. Seus olhos castanhos me olhavam com desejo. Sua mão deslizava em algumas partes do meu corpo enquanto minha ereção começava. Eu não podia mais esperar, já tinha certeza que ela era mais uma dessas vadias da vida. Envolvendo meus braços em sua cintura, eu a puxei para um beijo.

— Vamos para outro lugar? — Sussurrei em seu ouvido.

— Que tipo de lugar? — Ela sussurrou de volta.

— Um quarto.

— Que quarto?

— O meu quarto.

Ela sorriu e me agarrou para mais um beijo. Eu estava em uma boate movimentada no Centro de Londres fazendo o meu trabalho e tudo estava dando certo. Apesar do meu pai não aprovar eu "pegar" as garotas da boate do Centro, eu gosto de vir aqui. Era mais arriscado, mas pelo menos as mulheres da vida aqui têm ao menos classe.

E, além disso, esse lugar me traz lembranças boas. Por apenas um segundo, eu esqueço-me de tudo que sou. De tudo que já fiz. Esqueço-me do que me tornei. Mas eu não reclamo muito. É divertido e ainda eu recebo meu dinheiro. O que mais eu iria querer?

— Venha, vamos para o meu carro — disse, segurando a sua mão.

— Espere — disse ela, soltando-se e parando de andar.

— O que foi?

— Eu nem sei seu nome. O que deu em mim?

Arqueei as sobrancelhas e cruzei os braços, encarando-a.

— Para com isso! Você fica sexy desse jeito.

— Não quer transar comigo, é isso?

— Eu quero muito transar com você! Acredite, mas é que, tem poucos minutos que eu te conheço e, eu não sei se...

— Eu já disse que me chamo Disney.

— Disney? Esse é mesmo o seu nome?

— É. E o seu é Francine, certo?

— Certo. Mas...

— Francine, você quer fuder ou não quer? — Disse, estendendo a minha mão cheia de dinheiro para ela.

Ela me olhou por alguns instantes até que tocou a minha mão, deslizando ao pegar a grana. Ela deu um sorriso safado e logo caminhamos para fora da boate. Destravei o alarme do meu carro e entramos. Ela acariciava minha perna, colocando a mão em certos lugares de vez em quando, enquanto eu dirigia até um apartamento no bairro nobre de Londres.

— Uau! Esse apartamento é seu? — Ela perguntou ao entrar.

— É — menti.

Eu a guiei para um quarto onde tudo aconteceu. Dois homens encapuzados a abordaram e seguraram-na, impedindo-a que se movesse. Eu retirei do bolso um frasco fino com um líquido esverdeado dentro. Tirei do bolso do meu blazer um pano macio. Despejei a substância esverdeada no pano e coloquei no nariz de Francine, forçando-a inalar aquilo.

Não demorou muito para suas forças falharem. Seus olhos estavam se fechando, sua cabeça pendia, até que ela desmaiou. Eu a encarei por longos minutos. Não era a primeira, mas eu queria que fosse realmente a última. Eu venho dizendo isso desde a primeira garota. Talvez eu nunca pare, pois tenho certeza que ele nunca parará. Sinto-me como ele. Sujo.

— É toda sua — disse, quando meu pai entrara no quarto.

Eu realmente fizera de novo. Enganei uma garota de programa para sequestrá-la. Apesar de meu desejo sexual ser grande, eu nunca transei com uma mulher de programa. Meu trabalho era apenas seduzi-las, desacordá-las, e o resto era com meu pai.

— Muito bem, Disney.

Caminhei até o banheiro e fitei-me no espelho. Tudo que eu via por fora era um rostinho bonito, de pele parda, olhos verdes, cabelo bem cortado, barba desenhada, dentes alinhados. Mas por dentro eu via um garoto frio, capaz de fazer coisas que nenhuma mãe se orgulharia, um garoto moldado por segredos. Segredos que nenhum diário no mundo poderia ou gostaria de saber.

Manchetes diárias

"Garota de 20 anos é encontrada morta depois de uma semana desaparecida"

"A família de Francine Lopes está chocada com tamanha barbaridade"

"7ª garota de programa morta em Londres somente neste mês"

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