APENAS FINJA QUE ESTÁ TUDO BEM

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Os meus sonhos pegaram pesado comigo esta noite. As pessoas geralmente classificam os sonhos ruins como pesadelos, mas na verdade o único pesadelo são elas mesmas.

Ontem, eu encostei a cabeça no meu travesseiro e fiquei pensando no tanto de coisas que teria que fazer hoje. Em nenhum momento, passou pela minha mente que não poderia acordar no dia seguinte. Estava tão ocupada e certa de que hoje eu faria essas coisas que não houve espaço para a possibilidade da morte. A rotina nos torna escravos do otimismo.

Eu ainda permanecia deitada. Olhei para o lado e encarei meu relógio digital em cima do criado mudo. Ainda tinha dois minutos de paz, antes que meus irmãos começassem a gritaria para decidir quem usaria os banheiros primeiro. Aproveitei esses minutos para tentar pensar em como silenciar Alana. O pai dela era o delegado da cidade. A última coisa que queríamos era a polícia passando pela Rua Nove frequentemente.

Se a convidássemos para o beco e ela não gostasse, correríamos o risco de sermos descobertos. Se pagássemos o seu silêncio, ela poderia pedir um valor alto demais. Bom, as opções não eram lá vantajosas para nós.

— Ravena! Eu cheguei primeiro! — Ouvi Hanna gritar.

— Já começou. — Revirei os olhos.

Levantei-me da cama, jogando o cobertor para o lado. Esfreguei os olhos e abri a porta do meu quarto. Coloquei a cabeça para fora e olhei para o fim do corredor. A fila para o banheiro chegou na porta do meu estúdio.

Fui até lá garantir o meu lugar. Dei bom dia geral, mas nem todos responderam. Revena era a primeira, seguida de Hanna, Nick, César, Adam e eu. Havia dois banheiros na casa e meus pais estavam ocupando os dois neste exato momento.

— Pai! Dá para andar logo aí? — Gritava Ravena.

— Já estou saindo! — Gritava o meu pai.

Foi então que a porta começou a se abrir. Não a do meu pai, mas dela, da mamãe. Todos ficamos em silêncio. A grande chefona da casa estava prestes a sair por aquela porta e ninguém era doido o suficiente para deixá-la irritada em plena terça-feira de manhã. A porta se abriu por completo. Uma linda e radiante mulher saiu, os cabelos loiros emoldurando seu rosto e aqueles olhos azuis tão vivos! Ela deu um passo para frente e olhou em minha direção. Seu olhar cruzou com o meu por breves segundos.

Um choque.

Uma piscada rápida.

Um passo para trás.

Mais um passo, e outro.

Os meus irmãos direcionaram seus olhares para mim. Aquela mulher ali não era a minha mãe.

— Ellie? — Disse meu pai ao sair do banheiro. Seus olhos castanhos encontraram com os meus.

— Ellie, filha... — Os lábios da mulher se movimentaram, e uma voz que nunca tinha ouvido antes pronunciou essas palavras.

— Eu não sou sua filha — disse, tremendo, com a respiração ofegante, tentando prendê-la.

Uma pausa.

Engoli a seco.

Soltei a respiração.

— Você não é a minha mãe! — Gritei, apontando para ela.

— Ellie, o que deu em você? — Perguntou Adam.

— Vocês não estão vendo? Ela não é a nossa mãe! — Eu estava apavorada.

— Ellie, que brincadeira é essa? É mais um de seus vídeos? — Dizia a mulher, aproximando-se devagar.

— Fica longe de mim! — Gritei.

Detalhes de um crime - nunca confie em gravatas-borboletaOnde histórias criam vida. Descubra agora