Capítulo 24 - Lago Rice

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1 SEMANA E MEIA DEPOIS

DREW CAMPBELL se levantou numa manhã de quarta-feira. Sentia-se disposto novamente, o quê era quase um milagre. Duas noites atrás tinha tirado os pontos do ombro e conseguia mexê-lo agora sem sentir dor nenhuma, as vezes apenas uma pontada de agonia. Fora isso estava ótimo. Seu pai tinha terminado tudo com aquela tal de Pamela, e estava mais presente, tanto na vida dos filhos quanto no casamento com Alyson.

Drew tomou banho e se arrumou para a escola, o Conselho de Professores tinha decidido voltar com as aulas naquela semana, pois se não os alunos não teriam créditos o suficiente para passar de ano. Principalmente se você fosse Zoey Backer. Não que ela fosse burra ou coisa do tipo, só não esforçava muito e tinham combinado de estudar na biblioteca da escola durante os intervalos das aulas e na hora do almoço.

Desceu e tomou um rápido café com sua família. Beijou a mãe e a irmã e bateu o punho no de seu pai, como sempre fazia desde que era criança. Dirigiu e esperou por Olívia na esquina da casa dela. Viu quando ela saiu e quando a mãe dela, a Sra. Laurel McKenzie que trabalhava como enfermeira no hospital onde seu pai trabalhava.

Drew já fora chamado para um jantar na casa de Liv e o rapaz aceitou depois de pensar muito sobre isso. Nunca tinha conhecido a mãe de Olívia, mas sabia que ela devia estar a par dos assassinatos na cidade e provavelmente já tinha ligado todos os pontos, pois assim que chegou para o jantar foi praticamente expulso e mandado ficar longe de Liv. Porém, sempre gostara de um desafio.

Assim que a mulher viu seu carro parado na esquina, Drew sorriu e acenou, provocativo. Não sabia porque os pais geralmente não gostavam muito dele, fora os pais de seus amigos. Mas, se era para Laurel odiá-lo sem motivo, que fizesse isso direito.

Riu de si mesmo e arrancou com o carro assim que Olívia fechou a porta.

- Não se preocupe, minha mãe sempre foi assim com todos os meus... - Liv parou de falar e fechou os olhos por um momento soltando uma risada nervosa.

- Namorados? - perguntou Drew, terminando a frase por ela.

Liv se virou para ele. - Sim, mas não é que estejamos namorando, porque não estamos... Ou estamos? - ela perguntou, os olhos arregalados.

- Não se você não quiser. A escolha tem que ser sua - disse ele, relanceando os olhos para ela.

- Você acabou de perder a namorada, Drew. Não faz tanto tempo, sei que ainda pensa em April e em tudo o quê poderiam ter tido juntos. O quê pensariam de mim se eu já chegasse me atirando em você? Sou a novata, esqueceu? - respondeu Liv, suas palavras acertaram Drew como se fosse um soco no estômago, tirando todo o ar de seus pulmões. Sabia que não podia culpá-la e não o faria.

- Entendi. É claro - disse o rapaz, sorrindo. - Você está certa, como sempre.

Conversaram sobre muitas coisas, deixando de lado tudo de ruim que vinha acontecendo. Contaram histórias engraçadas de infância e outras nem tanto assim. Drew estacionou em frente ao prédio da escola, acionou o alarme e junto a Liv, entrou pelo corredor principal. As pessoas por quem passavam ou os cumprimentavam com gestos indiferentes, ou apenas olhavam para eles com pena ou medo.

- Quanto tempo acha que isso vai durar? - perguntou Olívia, ruborizando um pouco com os olhares que lhe lançavam.

- Até que apareça uma notícia melhor - respondeu Drew, olhando para as pessoas que os encaravam, carrancudo.

- Existe notícia mais bombástica do quê a de que quatro garotas quase foram explodidas? - perguntou Liv em tom de sarcasmo.

- Com o tempo, as pessoas vão acabar esquecendo - disse Drew, olhando para ela de soslaio, um sorrisinho no canto dos lábios. O rapaz parou em frente ao seu armário, Olívia seguiu pelo corredor e abriu o seu. Drew viu os horários das primeiras aulas e colocou os livros dentro da mochila, fechou a porta de metal com mais força do quê deveria, atraindo alguns olhares nervosos.

- Não aguento mais essa merda - disse Natalie, juntando-se a ele no corredor. Logo, estavam todos juntos novamente, incluindo Kyle Turner.

- Vão acabar esquecendo - respondeu James Parker em tom de voz sério. Drew, que nunca ouvira aquele tom ser usado por seu amigo, ficou até meio surpreso com isso e não pareceu ser o único. - O quê foi? - perguntou James, incomodado com o jeito com quê os amigos o encarava.

- Nada - responderam em uníssono, fazendo James revirar os olhos. O sinal tocou acordando todos de seus próprios pensamentos, inclusive aqueles que os olhavam. Drew tinha aula de Arte e seguiu com Sarah e Natalie. As duas não falaram nada.

Drew sentou-se ao lado das garotas na última fileira de cavaletes, escondendo-se dos olhares dos outros alunos. Fazia uma semana e meia que suas amigas tinham quase sido explodidas em pedaços, mas as pessoas não pareciam conseguir se esquecer disso e isso o estava deixando maluco.

A professora entrou e fechou a porta. Sorriu e deu bom-dia aos alunos e passou a tarefa do dia: retratar o quê mais gostavam de fazer.

Alguns alunos riram, maliciosos. A professora pareceu meio desconcertada com aquilo, o quê deixou Drew com um pouco de pena. A Sra. Robichaux era uma mulher baixa e magricela. Usava óculos de aros pretos e os cabelos pretos sempre estavam presos em um coque apertado no topo da cabeça. Sempre fora uma mulher muito reservada, pelo menos à visão de Drew.

Drew já tinha uma noção do quê pintar e para isso teve de usar uma foto de seu celular. Entrou na galeria e escolheu uma das fotos do verão que ele e os amigos tinham passado na casa do lago em Toronto, da família de Zoey. Virou o cavalete de lado e abriu as tintas. Drew desenhava e pintava excepcionalmente bem, desde que conseguia se lembrar e vinha ficando cada vez melhor com o passar do tempo.

Drew fez os esboços necessários com um lápis e em seguida começou a pintar, captando as cores do ambiente. Na foto, seu rosto e o de April Miller estavam muito próximos, um dos braços de April segurava o celular lá em cima, atrás dos dois seus melhores amigos acenavam para a
câmera. Atrás podia-se ver o lago azul-esverdeado do Lago Rice. Enquanto capturava todas as cores, lágrimas de tristeza e saudade começaram a rolar por seus olhos sem que Drew percebesse.

Como eram duas aulas de Arte seguidas, Drew não parou de pintar e comparar as duas imagens nem por um segundo. Drew fechou os olhos por um momento, limpando os olhos com as costas da mão. Voltou à pintura e retratou as cores dos cabelos de sua April - preto na raiz e verde no restante. Pintou os cabelos ondulados de Natalie, passou para Zoey, seguiu para Sarah e parou em Siennah relembrando-a por um momento e desejando que ainda estivesse viva. Chorou mais um pouco por ela. Seguiu com a pintura, capturando as cores de seus outros amigos. Passou por James, seguiu para Sean e Kyle e depois para si próprio. Terminou a pintura e comparou-a com a foto do dia mais feliz da vida deles. Estava perfeito, tinha conseguido reproduzir a foto inteira na tela e nunca tinha feito nada parecido antes, nunca tentara algo tão grande!

Suas mãos estavam uma nojeira, tinha tomado cuidado para não se sujar, mas pelo visto não tinha funcionado, tamanha era sua vontade de reproduzir aquela imagem.

- Ah, meu Deus - exclamou uma garota sentada ao lado de Drew. Drew olhou para ela, tentando ver o quê tinha de errado, e percebeu que era Charlotte Lee - uma das duas melhores amigas de Danielle Fields -, os olhos arregalados encarando a pintura do rapaz. - Isso está incrível, Drew! -
exclamou ela, fazendo várias cabeças se virarem em direção a eles, inclusive a da Sra. Robichaux - que vinha em direção a ele - e de suas duas amigas. Sarah e Natalie se entreolharam por um momento e sorriram para ele, assentindo com acenos furiosos de cabeça.

Viu o quê ambas estavam fazendo com um rápido vislumbre de suas telas. Ambas pareciam fazer homenagens às amigas mortas também. Retratavam fotos diferentes da dele, mas que lhe lembravam vagamente terem sido tiradas na praia. A Sra. Robichaux se aproximou e avaliou seu trabalho com total satisfação.

- Isso está maravilhoso, Drew! - exclamou a professora, analisando a pintura. - Uma verdadeira obra de arte! O jeito com quê você conseguiu captar a fluidez da água ao fundo e a luz do sol... Realmente muito bom!

- Obrigado - respondeu Drew, envergonhado com a atenção exagerada. - Eu posso ir ao banheiro? - perguntou ele, guardando o celular no bolso e erguendo as mãos para mostrar a sujeira grudada a elas.

- Claro, mas leve o material, a aula está prestes a acabar - respondeu a professora ainda admirando a pintura. Colocando a mochila em um dos ombros, Drew se dirigiu para a porta, passando pelos outros alunos, que o encaravam com um misto de pena e indignação.

Penumbra - Livro 1 - Trilogia do AssassinoOnde histórias criam vida. Descubra agora