KYLE TURNER abriu os olhos pela primeira vez em três dias. Sua visão estava embaçada e dolorida pela luz forte do quarto. Piscou os olhos diversas vezes até que se acostumasse com a luz do ambiente. Kyle não teve coragem de se mexer de imediato, tinha certeza de que a visão de seu corpo e a dor que o invadiria lhe daria náuseas. Não se lembrava muito bem o quê tinha acontecido para estar deitado ali naquele quarto de hospital, vestindo ainda por cima um vestido verde claro que deixava a bunda para fora, roçando nos lençóis da cama.
As últimas coisas das quais se lembrava nitidamente era dos rostos de Drew, Liv, uma policial que ele não fazia ideia de quem era e de Natalie... E era esse o rosto que o encarava com extrema expectativa quando ele virou o rosto para a esquerda.
O rosto dela estava retorcido em uma careta de choro. Uma das mãos no peito e a outra na boca, contendo os soluços que subiam por sua garganta involuntariamente.
- Natty? - sussurrou sua voz, arranhando sua garganta seca. Sua voz estava rouca. Kyle tentou se sentar, mas Natalie se adiantou e fez pressão em seu peito para fazê-lo parar de se mover.
- Por favor, não se mexa tanto - disse ela, alcançando um copo d'água em uma mesinha ao lado da cama.
Kyle deixou que ela lhe desse de beber. Olhou ao redor e viu que sentados no sofá do outro lado do quarto estava sua avó, Madelen e seu melhor amigo, Drew. Ambos estavam dormindo pesadamente. Drew e a avó tinham bolsas pesadas embaixo dos olhos, indicando que não tinham dormido com muita frequência.
Os olhos de Kyle se lançaram para Natalie que parecia muito cansada, os olhos igualmente pesados. Afastou o copo da boca dele. Kyle sentiu o alívio imediato que a água propôs à sua garganta.
- A quanto tempo eu...? - não conseguiu terminar a frase, pois um acesso de tosse veio de repente.
- Três dias - respondeu Natalie olhando-o com preocupação. - Drew só vai para casa tomar banho e sua avó não saiu do seu lado desde que tudo aconteceu - disse ela depois de uma pequena pausa.
- E você? - perguntou ele, a voz saindo arrastada de sua garganta machucada. Kyle não ousava mexer as pernas, os braços estavam doloridos e o torço formigava de forma desconfortável, mas não tinha coragem de mexer a parte de baixo de seu corpo.
- Igual a Drew. Estou aqui desde que aconteceu. Só vou para casa durante uma hora - disse ela, aproximando a poltrona acolchoada onde estivera sentada para mais perto da cama dele.
- A polícia conseguiu pegar o desgraçado que me fez isso? -perguntou Kyle olhando nos profundos olhos azuis da ex-namorada.
Natalie não respondeu de imediato. Olhando para ela, Kyle a viu baixar os olhos para o chão. - Não. Ele conseguiu fugir. O Palhaço é como um fantasma, desaparece sempre que desviamos o olhar.
O rapaz fechou os olhos por um longo momento, tanto que Natalie pensou que ele tinha dormido novamente, mas logo voltou a abrir os olhos. Lembrou-se de repente da voz de seu melhor amigo: Kyle, pode me ouvir? Não posso fazer nada com o seu joelho, mas posso parar os pequenos sangramentos. Não vou desistir de você!
- Drew salvou minha vida, não é? - ele perguntou, os olhos se revesando entre Natty e Drew.
- Sim. Ele foi demais. Cá entre nós, acho que ele nem sabia o quê estava fazendo muito bem...
- Mas funcionou e é isso que importa - interrompeu-a Kyle, com um sorriso nos lábios, não queria pensar o pior. Não queria pensar que poderia não ter sobrevivido, mas ainda tinha algo desagradável à perguntar. - Você acha que o desgraçado vai vir terminar o serviço?
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Penumbra - Livro 1 - Trilogia do Assassino
Mystère / ThrillerHá cerca de 23 anos atrás, ocorreu o Massacre de Broken Arrow - Uma onda de assassinatos que deixou muitas pessoas sem parentes próximos e muitos pais sem filhos adolescentes para dar broncas. O episódio ocorreu durante uma noite conhecida como A N...