Capítulo 34 - Não Devia Tê-lo Salvo

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DO LADO de fora do quarto 242 no segundo andar do St. John Broken Arrow. O policial Xavier Moran e a policial Patrícia Ivanova tomavam conta dos adolescentes ali dentro.

Moran tinha os olhos pesados de sono, no corredor iluminado por aquelas luzes brancas etéreas. Aquela luz não o deixava tirar um cochilo e por isso ele estava de mau-humor. Ambos estavam agora, sentados em duas cadeiras bem confortáveis que os enfermeiros tinham lhes proporcionado. Ao menos um pouco de conforto naquele lugar estranho.

Moran tinha finalmente fechado os olhos quando ouviu a voz de Ivanova ao seu lado. - Moran, eu vou ao banheiro. Olhos abertos! - disse ela, o policial abriu um pouco os olhos e a viu se afastar, acompanhando o balançar de quadris da moça. Patt era uma mulher linda, mas não se interessaria por um cara mais velho feito ele, estava na base de seus 50 anos, a pouco tempo de se aposentar.

Mas, olhar não arrancaria pedaço. Acompanhou-a com o olhar até desaparecer em um outro corredor. De repente o silêncio ficou palpável, não havia nenhum ruído. Naquele andar ficavam apenas os pacientes que estavam internados e por isso todo o movimento se fazia no terceiro e no primeiro andar, onde ficavam as salas de cirurgias e a UTI.

Moran fechou os olhos por um momento e depois os abriu, mas não viu nada. Estava tudo completamente escuro, apenas as luzes de emergência estavam ligadas nas paredes.

O policial mal teve tempo de pensar em se levantar quando um vulto negro passou por ele, e uma dor se fez presente em seu pescoço. Primeiro foi como uma fisgada de agulha, depois, foi como se estivesse sendo aberto de um lado ao outro.

Em questão de segundos, a luz tinha voltado. Moran, olhou horrorizado para as próprias mãos, cobertas com seu sangue. Um talho de orelha à orelha tinha sido feito na pele sensível de seu pescoço, jorros de sangue quente e espeço voavam da ferida. Com o canto de olho ele viu o vulto negro desaparecer por uma porta que levava ao térreo. Moran teve um último espasmo de dor, antes que a escuridão o levasse para sempre.

Isso tudo tinha ocorrido em menos de um minuto.

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DREW CAMPBELL acordou com os sons de passos e gritos do lado de fora do quarto. Soube que algo estava muito errado quando olhou para a porta e viu sangue escorrendo pelo vidro fosco. Drew pulou do sofá, os tênis ainda nos pés, vestiu o casaco e abriu um pouco a porta que dava para o iluminado corredor do hospital.

Assim que colocou a cabeça para fora do quarto o rapaz foi tomado por uma sensação de enjoo. Ao lado da porta estava o corpo de um dos policiais que deviam estar de guarda. Ele reconheceu o policial, era um dos poucos amigos que seu pai tinha e que já fora em casa passar o Natal com eles. Xavier Moran não tinha família na cidade, a única parente viva era uma irmã que morava em Tulsa.

Drew pulou uma poça enorme de sangue que se formava em frente à porta. A outra policial que cuidava da porta se aproximou, cobrindo a visão do corpo degolado.

- Volte para dentro do quarto, Drew. Você não tem que ver isso - disse Patrícia Ivanova, o cheiro enjoativo do sangue fazendo o estômago de Drew se revirar. Os olhos de Drew se desviaram da mulher quando viu que um policial tirava, com uma pinça, algo do corpo do falecido Moran.

Era um pedaço de papel.

Drew se desvencilhou da policial e fechou a mão em torno da pinça do médico legista. O homem tentou tirá-lo dele, mas Drew não deixou. Limpou os olhos embaçados e leu o bilhete, escrito em uma letra cursiva.

Não devia tê-lo salvo, Drew.

A pinça foi tirada de sua mão trêmula. Drew sentiu-se ser arrastado para dentro do quarto de onde saíra. Kyle estava acordado e tentava sair da cama, mas o pai de Drew tentava acalmá-lo, dizendo para continuar deitado e que nada tinha acontecido.

- Não minta para mim, sr. Campbell. Consigo ver todo o sangue daqui! Quem está ferido? Drew! - gritou o melhor amigo. Drew ainda estava em choque com a visão de mais um corpo e tão perto deles, se não tivesse dormido... talvez... - DREW! - gritou Kyle novamente atraindo a atenção do amigo.

Patrícia ainda estava ao lado de Drew, impedindo que ele virasse em direção à porta e visse novamente o sangue que cobria todo o chão do corredor e começava, agora, a entrar para dentro do quarto.

Drew focou os olhos de Kyle. - Ele esteve aqui. Matou um policial e deixou um bilhete - respondeu Drew.

- Drew! - repreendeu o pai, olhando para o filho de modo duro.

O rapaz se virou para o pai, ainda em estado de choque. - Não vou mentir para ele, nem omitir nenhuma informação.

Antes que John pudesse responder, Kyle interrompeu. - O quê tinha no bilhete?

- Não devia tê-lo salvo, Drew - disse o rapaz cobrindo o rosto com as mãos. Kyle não disse mais nada, ficou calado remoendo aquelas palavras que carregavam tanto medo e apreensão. Drew limpou o rosto nas mãos e se levantou. Pegou o celular dentro da mochila e mandou mensagens para todos os amigos.

Precisava de um tempo longe daquele hospital. Mandou mensagem para que Natalie fosse ali depois das aulas, para ficar em seu lugar. Voltaria durante a noite, mas precisava tirar aquele dia para ele próprio, faria tudo o que pudesse incluindo as lições de casa atrasadas.

Penumbra - Livro 1 - Trilogia do AssassinoOnde histórias criam vida. Descubra agora