Você é casado!!

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Camille

Tateio a cama em busca do celular pra fazê-lo parar com esse barulho chato do despertador. Essa é a única forma de me levantar cedo: colocar o celular pra despertar.

Decido me levantar pra me arrumar, vou direto pro banheiro pra tomar um banho. Finalmente sexta-feira, finalmente um descanso. Escolho uma saia preta pra vestir e uma blusa branca. Calço uma sapatilha, pego minha bolsa e desço pra tomar café, pensando bem, não vou comer nada, é de costume ficar dias sem tomar café, não é por dieta, até por que não preciso emagrecer, já sou mais magra do que deveria, apenas não sinto fome de manhã na maioria das vezes.

— Oi— falo rapidamente com Mauro. Pego uma maçã e saio.
(...)

Estou sentada na minha mesa, como não tenho nada pra fazer por enquanto estou mexendo no celular, ainda não vi Johnnie pra finalmente tirar essa história à limpo.

Tive um susto ao ver que alguém colocou um papel na minha frente, pra ser mais exata estava colado no meu rosto e outro susto quando vi que era ele. Eu tava conhecendo aquele papel, era o mesmo post'it que eu tinha entregado dias atrás.

— Que bom que você tá aqui. Acho que sei do que você estava falando.— me levanto da cadeira.

Novamente ele me mostra o papel, mas apenas a parte que me deu a certeza do que já desconfiava. Dobra novamente e coloca no bolso da calça jeans.

— Então, vai me dar?

— Hã??— confesso que fiquei perplexa, mesmo já tendo antecipado o que era.

— O beijo! Que eu pedi! Lembra?— ele fala de uma maneira tão simples, parece mais que tá pedindo um copo de água.

— Ah, deixa de brincadeira, não sei se você lembra, mas faço questão de dizer: VOCÊ É CASADO! Esqueceu? Acho que não né.

— Eu sei, mas o que isso tem a ver?

— O que isso tem a ver? Você tá louco, bêbado ou algo assim?— falei atônita.

— Não! Não estou!

— Então só pode ser brincadeira, né?

— Eu tô falando sério, só um...

— Tu baixa teu fogo e cuida em trabalhar. — falei com meu tom de costume, acho que essa história se encerra por aqui.

Só depois me dei conta que ele ainda tava com meu papel, e pra piorar tava guardado com ele, se a mulher dele encontra isso não vai ser nada agradável.

— Mas porque você guardou ele?— perguntei curiosa, me referindo aquele minúsculo papel que me deixou confusa por uns dias.

— Porque sim! Quando eu fui jogar vi o que tava anotado e decidi cobrar o que você me deu escrito.

— Cobrar? Te dei escrito? Em que galáxia está seu cérebro? Porque aqui eu tenho certeza que não está.

— Você me deu isso, não deu? — ele retira do bolso.

Confirmo com um balançar na cabeça.— Realmente eu dei por que era pra você saber quais livros eram.

— Então se você me deu, é meu! —dá uma levantadinha no ombro como quem diz: agora faça sua parte.

— Espera aí! Por acaso você esta achando que aquele beijos carinhosos que coloquei foi intencionalmente pra você? Faça-me rir. — começo a rir. — Seu louco, eu coloco aquilo pra todo mundo, como eu disse antes, pra que não me esqueçam.

— Eu sei, mas mesmo assim eu quero.

— Trate de jogar isso no lixo! Já pensou se ela encontra? tenho certeza que ela não ia gostar. Não quero arrumar encrenca com sua esposa mais-que-ciumenta. — começo a rir e ele também.

Infelizmente ele pareceu não ter muita sorte no casamento em relação a ciumes. No bairro todos sabem que basta alguém olhar pra ele que ela fica em tempo de morrer com o ciúmes corroendo suas veias. Não sei como ele aguenta, parece sufocante.

— Eu sou insistente sabia?

— Ah é? Pode insistir a vontade. E põe na tua cabeça que você não é solteiro então não se comporte como um.

— Eu quero! — ele estava saindo e falando essas duas palavrinhas que já estavam se tornando um bordão.

Durante o restante do dia não consegui tirar isso da cabeça, sei lá o porque, só sei que está martelando minha cabeça. Eu adoro o Johnnie, ele é super boa pessoa, tenho ele como um amigo mesmo, mas beijo? Não!! Beijo não! Isso eu tenho certeza.

Johnnie

Achei interessante a forma como ela lidou com isso, sempre achei-la muito bonita, ela tem uma beleza notória, mas nunca investi, nem nada do tipo, mas sou casado, eu sei, e também pelo que conheço dela sei que não se envolveria com alguém comprometido, ela é uma excelente pessoa e fazer coisas erradas não fazem parte do seu currículo.

Confesso que quando ela começou a trabalhar aqui pensei que se eu tentasse, talvez conseguisse sair com ela, mas em pouco tempo já éramos amigos, seu jeito encanta facilmente e fazer amizade com os colegas foi a primeira coisa que ela fez, e sem esforço algum. Todos gostam dela e não quis estragar essa amizade por um capricho - talvez- bobo de um homem sozinho a procura de outrem que lhe dê alguns minutos de paz.

Mas vou continuar insistindo, quem sabe eu não consigo. A vida já é muito séria pra gente seguir os padrões imposto pela sociedade à risca. Afinal só um beijo não faz mal a ninguém.

Camille

— Ei Camille!— ouço uma voz bem longe que me faz sair do mundo imaginário que estava meus pensamentos.— a aula já acabou, vamos embora.

Não sei o que aconteceu comigo, mas tô com o pensamento no mundo da lua, não lembro de metade do que os professores falaram, só percebi que tinha encerrado a aula porque uma colega me trouxe a realidade. Mas também não perdi coisas importantes nas aulas de hoje, daqui uma semana se encerra o semestre, eram só pra finalizar notas e tal. Só não consigo entender porque eu não parei de pensar no tal beijo que Johnnie quer. —   Ele é casado! ele é casado! ele é casado!— repito esse mantra pra ver se consigo dissipar essa coisa louca de pensar em um beijo que nem dei em um homem casado.

Ele é casado! ele é casado

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