Reencontro

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Johnnie

Ansiedade era o meu nome do meio. Cinquenta e nove dias longe de casa, longe dos meus amores.
Mal podia esperar para abraçá-las.
Cada passo que eu dava enquanto caminhava pela minha rua, era um passo a menos de distância da minha filhota.

Ao ir chegando na frente de casa, pensei em bater na porta, e fazer tipo uma surpresa para minha pequena, eu só não contava com a astúcia dela, e eu que fui pego de surpresa quando ela abriu a porta e veio em disparada correndo para meus braços. Com certeza deveria estar à espreita da janela.
Aquelas cinco letrinhas que ela gritava, mais o seu abraço, me desmontava inteiro.

— Papai! Papai! Papai!

Agarrei-a nos braços e rodopiei rapidamente, enchendo ela de beijinhos e cócegas. O som da sua risadinha era a melhor música de se ouvir.
Coloquei-a de volta ao chão e olhando seu tamanho achava que ela tinha aumentado uns dois metros de altura, segurei na sua mão e fomos entrando em casa. Marta nos esperava em pé ao lado da porta.

— Oi. —  falei.

— Oi. — respondeu e me deu um selinho. Não sei se era a distância desses três meses ou se era a nossa distância antiga de casal,  mas até nosso Oi não tinha nenhum sentimento. Parecíamos secos, vazios.

— Será que posso ganhar um abraço também? — perguntou, e com um pequeno movimento  abracei-a.

Foi um abraço bem rápido, até porque a Raquel já tinha começado e me encher de perguntas: Se onde eu estava era um lugar bonito; se dava para ela ir um dia e quando ela poderia ir. Essas coisas de criança e eu adorava e babava respondendo cada uma delas com maior prazer e entusiasmo.
Quando ela pareceu se cansar um pouco, tive tempo de enviar uma mensagem para minha Camille, eu mal podia esperar para vê-la também, abraçá-la, senti-la, eram tantas saudades.

Depois de almoçar e dar banho na minha pequena, li uma história que ela me pediu. A escolhida da vez foi Branca de Neve, mas ela dormiu  antes do Felizes  para Sempre.

Durante a história, ela me interrompeu para fazer uma de suas perguntinhas, mas dessa vez sobre um assunto diferente.

— Pai! Todas as madrastas são ruins? — Fiquei surpreso pelo tipo de pergunta, mas respondi.

— Não, meu amor! Nem todas são ruins. Várias mulheres amam os filhos dos maridos ou parceiros como se fossem seus filhos também.

E foi aí que lembrei de Camille, ela seria a melhor boadrastra do mundo. A forma como ela falava da Raquel, o jeito meigo de lidar com ela, a calma e paciência com as travessuras. Tinha certeza que, se eu tivesse algo sério com Camille, ela a amaria e protegeria como se fosse nossa filha.
Mas eu não poderia dar esse peso a ela. Tem um futuro brilhante pela frente. Sei que ela pensa em ter filho, mas não imagino que queira se dedicar a uma criança agora.

— Acho que nunca ia querer ter uma madrasta! — ela falou e virou-se para o outro lado da cama. Pouco tempo depois já tinha dormido.

Falei para Marta que ia visitar  Fábio, assim ela não iria me encher o saco.
Mas na verdade eu ia encontrar minha menina, ela tinha concordado em me ver e eu estava muito feliz com isso.

Cinco minutos, só mais cinco minutos e eu estaria novamente ao lado dela, marcamos de nos ver naquele mesmo Parque que nos encontramos outras vezes, naquela mesma pedra onde cada um contou suas fraquezas, sonhos, no nosso lugar.
Cada vez que eu chegava mais perto, o coração ia acelerando, mas ao mesmo instante ficando mais feliz em saber que agora não era mais quilômetros e sim apenas metros que nos separavam. Me aproximei mais e a vi em pé mirando o horizonte, enquanto tacava pedrinhas em uma moita aleatória. Tão linda,   os cabelos soltos, os raios de sol refletindo no seu rosto, eram apenas três meses sem vê-la, mas a saudade fazia parecer ser por toda vida.

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