11 - Sequência desesperadora de alívio e libertação

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"No final da peça, a cortina sempre fecha. Com ou sem aplausos"

(A Poesia dos Desafetos, página 53)

- Estou surtando - Téo disse, circulando pela sala de casa.

- Essa foi a quarta ou a quinta vez que ele disse isso? - Liv perguntou. Ela olhava para o irmão mais que desconfiada, sentada com as pernas sobre a velha poltrona.

- Sexta - Ludwig respondeu.

O garoto gorducho sentava no chão, recortando palavras de algumas revistas velhas que Liv havia desenterrado de algum lugar obscuro da casa. Eram amigos havia pouco tempo, mas trabalhavam juntos como Sherlock Holmes e John Watson.

- Preciso de "Ataque" - Ela disse.

Ele recortava enquanto ela colava as palavras num papel, montando uma daquelas cartas anônimas. Téo preferiu não perguntar nada, tinha outras coisas mais importantes em mente.

Desistiu de andar em círculos e se esparramou no sofá esperando a mãe, que, misteriosamente, pediu alguns minutos antes dele ir para a casa de Vic conhecer os pais da garota. O ar de detetive de Liv era algo meio assustador, porque, por mais que todos tentassem negar, a coisa era real.

- Num dia, você não tem ninguém. No outro, você aparece com essa Vic... – Ela disse de uma forma casual.

- As coisas são assim, Liv... – Automaticamente, a sobrancelha dela se ergueu – Hoje em dia.

- Claro, claro. Você é a modernidade em pessoa. Eu só achei que você fosse ser mais devagar depois da sua última experiência amorosa.

- Dois anos é muito rápido para você? O tempo cura tudo, Liv.

- Menos sua falta de habilidade em mentir.

- Você não pode estar falando sério. Por que eu mentiria?

- Estou esperando que você me diga. Cadê o "Ataque", Ludwig?

- Calma - O menino respondeu - Ainda estou procurando "Vingança". Essas revistas de gente rica não sabem usar palavras boas.

Téo esperava driblá-la de alguma forma com seu nervosismo. Ele estava prestes a conhecer os pais de Vic para oficializar o namoro. Num namoro comum, ele estaria suando em bicas, temendo não conseguir autorização para pegar na mão da filha deles (que ele já tinha beijado na boca e tudo... Aquele beijo...). Num namoro fake, Téo temia pela sua atuação. Do jeito que Vic explicou, os pais dela pareciam loucos para casá-la com o primeiro maluco que aparecesse pela frente (Não muito diferentes da própria mãe de Téo), mas eles não eram exatamente assim. Certo, queriam jogar Vic nos braços de um cara, mas um cara que fosse decente. Um cara com um futuro pela frente, um cara bacana, sem antecedentes criminais, um cara de Deus, nas palavras da própria Vic. E esse cara teria de ser Téo.

- Surpresa!

Rita apareceu com uma pequena bandeja contendo dois... Ai, meu Deus... cupcakes.

- Mãe, agora não posso, preciso sair – Ele disse, levantando do sofá apenas para cair sentado novamente. A mãe o empurrara de volta.

- Você não comeu nada o dia todo, querido – Ela reparou na cara de pavor dele - Eu seu, eu sei. A minha primeira leva de cupcakes saiu meio estranha, nem o vira-lata aqui da rua quis comer quando joguei no lixo, mas esses são uma versão melhorada.

Téo fitou os cupcakes na bandeja. Verdade seja dita, pareciam diferentes. Não necessariamente melhorados. Dessa vez, os bolinhos pareciam molhados. Não, encharcados seria uma palavra melhor.

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