13 - Tubinho vermelho

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"A concha é só a proteção. O tesouro está aí dentro"

(A Poesia dos Desafetos, 78)

Melhor Amigo deveria ser oficializado como profissão, com direito a um salário digno, benefícios e 13º. E férias, porque ninguém é de ferro.

- Ela passou, Téo. Ela passou – Arthur estava irritado do outro lado da linha, de forma que essa notícia não soava tão boa assim.

- E isso não é bom? – Téo preferiu fingir inocência ao invés de se meter.

Recebeu um sonoro Não no pé do ouvido.

- O currículo dela foi aprovado. Ela vai me deixar, cara. Ela nem quer falar comigo!

- Arthur, calma. Ela ainda não foi contratada. Você só deve ter uns, sei lá, 2% de chance de ficar sozinho, amargurado e se comunicando com o mundo apenas pelo seu computador.

- Você está me zoando.

- Estou. Mas, falando sério agora, ficar sozinho não é o fim do mundo. E a Mel não vai te deixar.

O namoro falso era um verdadeiro sucesso. Agora, Téo conseguia ver que a falha épica de Arthur tinha sido um limão em sua vida que ele tinha conseguido transformar em limonada. Arthur havia sido praticamente um enviado de Deus. A mãe de Téo estava felicíssima, e Liv tinha parado de zoar e de desconfiar do irmão. O presente que Victória tinha comprado, um exemplar de A Poesia dos Desafetos, livro de um tal F.Harquimedes, tinha deixado a garota maravilhada. Pessoas que dão livros de presente são as mais confiáveis, ela confidenciou a Téo. Pelo que ele sabia, Vic tinha saído para a balada umas duas vezes na semana dizendo aos pais que ia sair com ele. Combinavam histórias caso os pais dela ligassem para ele.

A relação de Vic com os pais era meio esquisita. Téo sempre havia respeitado o pai, por bem ou por mal. Já havia driblado a mãe diversas vezes, mas só porque ela surtava com pouca coisa, porém ele não aprovava o que Vic fazia com os pais dela.

Contudo, isso não era problema dele. A maravilha do namoro fake era que os problemas de Vic não diziam respeito a ele. Ele não se metia na vida dela, e ela preferia assim.

Todos felizes.

Téo tinha seus próprios contratempos. Mesmo depois da notícia incrível de que a Hashtag queria que Mel participasse do novo single deles, Arthur e Mel não estavam se falando direito. O que era mil vezes pior do que estarem brigando, porque tudo sobrava para o melhor amigo. As reclamações infinitas que nunca chegavam ao seus destinatários eram todas desviadas para o ouvido de Téo. Mel acordava reclamando, Arthur dormia xingando. Ou seja, vinte e quatro horas em que Téo fazia o trabalho escravo de ser terapeuta de casal.

Mas até disso o acordo com Victória salvava.

- Cara, não posso falar agora. Estou indo buscar Vic para darmos uma saída.

- De novo? – Arthur parecia frustrado – Você nem me deu um conselho que preste!

Talvez, Téo estivesse usando a desculpa do "Vou sair com Vic" mais vezes do que o recomendado, mas dessa vez era verdade.

- Conselho... Humn... Cara, quando as coisas parecem piores... É porque estão melhores.

- Mas que...?

- Foi o Mestre dos Magos quem disse, então deve ser verdade. Preciso desligar.

Era a terceira ou quarta vez na casa de Victória. O pai ainda olhava para Téo de um jeito desconfiado, mas a pressão para pôr um vigia atrás da filha era tão grande que ele tinha aceitado. Téo a conhecia havia menos de um mês, mas já sabia que Vic era uma bola de demolição. Quer dizer, tinha alguma coisa nela que deixava Téo desconfortável. Ela enganava os pais, não dava as caras na igreja, estava sempre marcando presença em baladas obscuras...

Não Somos UmOnde histórias criam vida. Descubra agora