"Você deixou sua razão cair. Volte três casas"
(A Poesia dos Desafetos, página 94)
> que presente vc comprou pra vic?
> ???
> para o niver dela! NÃO ACREDITO QUE VOCÊ NÃO SE LIGOU NA DATA
> relaxa, liv. é claro que eu me liguei. mas o presente é surpresa.
> não comprou meias, né?
> ¬¬
> ai, meu deus, você comprou meias!
Era um insulto achar que ele tinha comprado meias para dar de presente de aniversário. Apenas tias faziam isso. Téo não apenas não daria meias para Victória como daria algo muito especial, inesquecível e marcante. Infelizmente, ele não havia planejado ainda o que seria esse presente, até porque tinha acabado de descobrir que o aniversário da namorada estava próximo. Droga. Ele só precisava saber quando exatamente seria, coisa que jamais poderia perguntar para Liv. Por Deus, que não fosse amanhã. Ou hoje. Teria que descobrir o quanto antes.
Olhou para Victória, que estava de pé na sua frente, virada para ele. Por que ela não tinha contado da data especial? Estavam no metrô, rumo a mais um Estreitamento de Amizade. Arthur e Mel estavam próximos também. Quer dizer, eles estavam próximos quando entraram, mas Téo e Vic se perderam em segundos. Talvez, o pé que pisava no pé de Téo era o de Arthur.
Uma coisa que todas as pessoas deveriam saber sobre o metrô em horário de pico é que há duas regras básicas:
1) Dignidade é proibida. Simplesmente, não há espaço para todo mundo, então você tem que escolher entre você e sua dignidade sobre quem deve embarcar. Você deve entrar e abstrair. Se você for reclamar de todo pisão no pé, de cada empurrão ou cotovelada que receber, de cada axila que for obrigado a cheirar e de cada beijo triplo que tiver que dar, a sua viagem será muito estressante. Entre, se aperte, faça um pouco de contato físico, mas não muito, e relaxe.
2) Arrancar seus membros superiores e/ou inferiores facilita a viagem.
Téo não conseguia localizar Arthur e Mel em nenhum lugar dentro daquela lata de sardinha humana, mas tinha fé que eles estavam ali, vivos e com as mentes sãs. Não estava pensando muito bem com o sujeito o encoxando por trás. Tinha um braço na sua nuca, não dava para levantar a cabeça totalmente. Num dos solavancos, Vic parou de costas para ele, e Téo meio que a abraçou, mais por questões de logística espacial do que por afetividade ou desejo. O maior incômodo era o cabelo esvoaçante dela na boca dele, mas era bom sentir a pele dela contra a sua.
A ideia de pegar aquela condução tão simpática havia sido de Melodee, que se recusara veemente em ir à praia com o Land Rover do pai de Arthur, com Veras na direção. Iam com Veras e o carro para todo lugar fora do bairro. Era de longe a melhor opção de transporte, até porque o fusca roxo de Mel não entrava na briga com ninguém. Mas Mel não quis. Segundo ela, estavam contribuindo desnecessariamente para a poluição do ar, uma vez que podiam usar o transporte público. Além do mais, um carro daqueles na praia era ostensivo demais, e ela queria simplicidade no passeio. Ela havia planejado este Estreitamento de Amizade, fazia tempo que não ia à praia, e achou legal que fizessem isso juntos.
Téo duvidava que ela tenha imaginado que estariam tão juntos.
- Eu acho que tinha um cara pegando na minha bunda - Mel disse, assim que saíram da estação do metrô.
- Eu tenho certeza que alguém pegou na minha - Arthur comentou meio atordoado e abraçou Mel pela cintura. Caíram na gargalhada.
Vic estava ajeitando seu cabelo, mas não dava para saber se ela estava de fato arrumando ou se estava bagunçando mais. Ela jogava o cabelo para todos os lados, espichava, alisava. Resolveu prender.
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Não Somos Um
Ficción GeneralTéo está em busca da Garota Perfeita, uma garota que ele idealizou e com a qual tem certeza de que será feliz. Após a busca não encontrar resultados e Téo conhecer Victória, uma garota completamente fora dos padrões dele, eles resolvem se ajudar: Vi...