12 - Verdade ou Cupcake

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"A vida nos ensina que as melhores coisas podem ser as mais improváveis"

(A Poesia dos Desafetos, página 227)

A ideia era assistir um filme juntos, enrolados no sofá, mas Melodee tinha certeza de que nenhum dos dois saberia dizer o nome do filme no dia seguinte. Arthur havia apagado não muito depois do início e, agora, ressoava baixinho ao lado dela. Ela não tinha o menor interesse em chegar até o final. Era um filme de pancadaria, explosões e guerra. Provavelmente, todos iriam morrer no final, ela não achava a menor graça nisso. Mas não queria sair do sofá também. Queria ficar ali, olhando para Arthur dormindo ao lado dela.

Ela nem acreditava que havia sido convidada para participar de um cd. E não era qualquer cd. Era o cd da Hashtag! A banda de pop rock era bastante jovem, assim como seus integrantes, mas estavam fazendo um sucesso estrondoso desde o ano passado. Estavam para lançar um segundo álbum e queriam Mel dividindo o vocal no novo single. Era um sonho! E tudo isso por causa de um vídeo que simplesmente se espalhou pela internet.

Arthur se mexeu um pouco, e Melodee suspirou.

"Canadá" era uma palavra proibida entre eles, ela havia assimilado isso com facilidade. Quando Arthur apareceu no ateliê dias atrás pedindo desculpas sobre o comportamento antes do show, Mel achou que tudo ficaria bem, que tinha sido apenas um lapso, uma atitude impensada da parte dele. Achou que eles fossem superar. Porém, ainda que Arthur não falasse, ainda que ele estivesse no sofá com ela de um jeito bem gostosinho de estar, o "Canadá" estava presente também. Ela sentia.

O clima entre eles ficou estranho quando ambos tentaram discutir o assunto. Uma simples menção ao país ou ao emprego gerava momentos que Melodee não queria encarar. Não preciso fazer isso agora, ela pensou, decidida.

E, assim, ela passou a noite. Puxou Arthur para um cafuné no colo dela, enquanto pensava na Hashtag e ignorava o filme que passava na TV.

***

Téo só queria um daqueles sacos de papel para pôr sobre a cara. Com sorte, ele morreria asfixiado e não precisaria ver a cara de Vic mais uma vez nessa sua infame existência. Ignorando a animação exagerada que vinha de dentro de sua casa, Téo fechou a porta atrás de si e foi para fora.

- Caguei tudo, né? – Era bom ir direto ao assunto, ainda que o assunto fosse constrangedor ao extremo.

- Quase literalmente – Victória disse, e Téo teve que se resignar e ouvir a sonora gargalhada da garota – Meu Deus, Téo, o que foi aquilo?

- Olha, eu não faço esse tipo de coisa sempre, foi só que...

- Não, esquece, aquilo não tem uma explicação plausível.

- Me atrapalhei um pouco, ok? Mas no que deu, afinal?

Ele havia feito todo tipo de barganha com Deus após o Incidente, logo após ter fugido da casa de Vic com uma desculpa esfarrapada qualquer, na qual ninguém acreditou. Aparentemente, Deus havia ouvido suas preces nervosas. Talvez ter prometido servir como missionário na África por cinco anos tenha realmente feito a diferença. Os pais de Vic tinham ficado chocados, ela não mentiu, mas relevaram. Não era muito cristão julgar uma pessoa com problemas intestinais. Para o bem do namoro, Téo estava aprovado, ainda que sob intensa observação.

- Mas, olha, se você fizer aquilo em público mais uma vez...

- Foi um acidente! A minha mãe faz uns cupcakes e... Enfim. Vamos ao que interessa.

Ele tinha cumprido sua parte no trato. Apesar de, mas tinha. Agora, Victória deveria fazer a parte dela. Honestamente, era um pouco injusto para Téo. Ele havia decorado perguntas e respostas, versículos e ficado viciado em filmes teen para agir bem perante Sr Nariz e Dona Oncinha, mas Vic só deveria ser ela mesma. Ele só estava levando-a para conhecer a mãe dele. Não era para pedir permissão. Com uma meia dúzia de elogios, sorrisos e algumas falsidades sobre os cupcakes, o namoro estaria oficialmente apresentado à sociedade.

Não Somos UmOnde histórias criam vida. Descubra agora