Não Somos Um

15 - Batalha dos Reinos (parte 2)

Téo só queria que a noite acabasse, sinceramente. Música chata, gente chata, conversas que não faziam o menor sentido e aquela cadeira nem era tão confortável assim. As meninas tinham sumido na hora de dançar e só arrastado que ele levantaria dali com aquele collant. Tinha que ser desatochado do fiofó a cada quinze minutos. Talvez, Téo estivesse emitindo muita negatividade, porque ninguém, absolutamente ninguém, havia ficado perto dele. Ele escolhera aquele canto escondido por uma cortina vermelha grossa e pesada, atrás do palco, de propósito também. No começo, algumas pessoas até paravam para conversar sobre a incrível magia dos duendes da pureza, mas ele esfaquearia a si mesmo com seu punhal de borracha se tivesse que ouvir mais uma vez sobre pós mágicos. Elas notaram que ele não estava muito a fim de conversa com o tempo. Até Arthur tinha tentado se manter perto do amigo para não deixá-lo sozinho num mundo semi-desconhecido, mas tinha sido engolido por Jaia e seus companheiros, seus aliados. Téo bocejou atrás da cortina. Era como um esconderijo, mas ele ainda conseguia enxergar boa parte do salão. Via Melodee e Victória circulando de vez em quando.

Viu a cortina se mover, o efeito de alguém encostando nela pelo outro lado. Obviamente, Téo não podia ver quem, mas notou que era um grupo quando dois deles apareceram em sua visão. Ficou levemente irritado, porque, de todos os lugares em que poderiam parar, tinha que ser ali perto dele? Na frente dele? Mais conversa chata sobre reinados de mentirinha, Téo imaginou.

Nossa, seu vestido está um excelente trabalho de alfaiataria, tão adornado!

Teve uma vez que eu derrotei dois dragões de uma vez.

No meu vilarejo, nós temos o costume de misturar os nabos com as batatas.

E aí eu disse: a sua mãe é tão feia que o espelho mágico tem um ataque de riso quando ela pergunta se existe uma mais bonita.

Hahahahahah

Aquelas pessoas eram ridículas. Téo poderia estapeá-las pelo tanto que elas o irritavam. Tipo, gente, que tal trabalhar? Ou ir lavar uma louça? Ou, sei lá, tirar a cabeça do mundo da lua? Elas não pareciam muito interessadas em nada disso.

- O melhor momento é agora. Está todo mundo dançando, nem vão perceber quanto acontecer. Vocês sabem quem realmente merece a coroa - Téo podia ouvir uma voz feminina falando através da cortina.

- Claro que sabemos - Uma voz grossa respondeu.

- É uma luta de glória e honra. O que esse reino precisa é de liberdade e restauração dos valores antigos.

Será que tinha álcool naquele suco que ele bebericava? Téo quis gargalhar de tão patética que era aquela conversa. Aquelas pessoas não largavam o faz-de-conta nem quando estavam sozinhas. Não era uma festa, afinal? Vão se divertir, pelo amor de Deus!

Honra!

Glória!

Valores antigos!

Téo viu dois ou três caras do grupo pela abertura da cortina, mas eles nem o notaram ali. Por alguma razão bizarra, eles eram azuis. Rosto, braços, pernas, mãos e provavelmente os pés também. Usavam capacetes vikings, aqueles com chifres, e roupas para lutar contra o frio (imaginário, porque estava quente pra burro dentro da fábrica).

- Amiga, você vai arrasar! A nova aliança é bafônica! - Um dos vikings disse e Téo percebeu que todos eles eram gays.

- Tá, tá - disse a menina que Téo não conseguia enxergar - Eliminem vocês sabem quem.

Téo franziu o cenho na cadeira e se movimentou um pouco para levantar, mas sentou novamente. Que bobagem, gente. O grupo saiu de perto da cortina e Téo queria muito poder ignorar o que tinha ouvido, mas a curiosidade o roeu por dentro. Essa gente era doida, mas eliminar uma pessoa? Parecia uma armação embaixo do nariz de todos. Téo estava se sentindo patético de dar importância para aquilo, mas, afinal, ele era o duende da justiça, não era? Levantou da cadeira, atravessou a cortina e olhou pra multidão dançando. Não foi difícil enxergar os vikings azuis cortando caminho pelas pessoas, cada um por um lado, indo em direção a uma pessoa desavisada.