10 - Sex tape?

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"Era tentar encontrar fugindo do encontro"

(A Poesia dos Desafetos, página 214)

- Alguém veio te ver - Rhonda, a mãe de Melodee, anunciou para a filha.

Arthur adorava ver a namorada naquele lugar. Entrar no ateliê era como estar numa exposição famosa de arte, onde você se pergunta se aquela coisa no canto é apenas uma cadeira para os visitantes sentarem ou é fruto de um processo criativo intenso. E não era somente o lugar que deixava o garoto fascinado, mas também o estado de espírito de Melodee ali dentro.

Melodee estava trocando as cordas de seu violão e deu uma olhada de relance para a porta. Por um segundo, encontrou os olhos de Arthur. Ele deu um pequeno sorriso, embora a expressão dela tenha sido indecifrável para ele.

- Querem que eu traga alguma coisinha para vocês comerem?

Arthur apenas balançou a cabeça, Melodee nem respondeu.

- Não? Vocês têm certeza?

Rhonda aguardou por uma resposta, que não veio.

- Ok, sou a única que sabe falar no cômodo. Preciso de gente que fale, vou procurar seu pai - E saiu.

Arthur não sabia por onde começar. Mel tinha uma caneta presa na orelha e um risco azul na bochecha. Estava terminando a troca das cordas, e Arthur gostava de ver o processo. O violão era um instrumento que enganava. O som poderia ser suave e alegre, e era sempre muito bonito ouvir uma pessoa tocando, mas existia um esforço por trás daquilo. Os dedos de Melodee viviam marcados, até um pouco machucados de tanto tocar, mas ela amava. Trocar as cordas era uma tarefa bem mecânica. Melodee usava um alicate para auxiliá-la.

- Não consegui falar com você - Ele disse.

- Você tentou? - Melodee não disse isso de uma forma sarcástica, não era do feitio dela.

- Umas dez vezes ontem, e umas vinte hoje. Não recebeu as chamadas?

- Ah.

Ela deixou o violão de lado, olhou para a mesa entre eles, depois para baixo dela, no chão. O ateliê era uma bagunça. Ou talvez fizesse sentido, talvez fosse uma daquelas bagunças organizadas que só quem criou consegue encontrar as coisas que quer. Nem era um ateliê, na verdade, apenas um quarto onde a mãe de Mel costumava usar para pintar uns quadros. Melodee acabou herdando o cômodo, já que a mãe não tinha mais tempo para usá-lo. Melodee, de vez em quando, se trancava ali para praticar no violão ou simplesmente escrever poesias e canções. Tinha apenas uma mesa meio instável no centro, algumas cadeiras que não combinavam entre si e uma série de prateleiras com objetos diversos. Na mesa, havia uma quantidade impressionante de papel amassado, duas xícaras de chá vazias, cordas de violão arrebentadas, o próprio violão e nenhum celular, Arthur notou, que era o que Melodee procurava. Ele bateu o olho no aparelho numa prateleira atrás da namorada, entre um pote com pilotos hidrocor e uma pequena pilha de cds.

- Aqui - Ele disse, ficando ao lado de Melodee. Arthur pegou o celular e o entregou aos dedos da namorada.

- Obrigada. Acho que desliguei e acabei esquecendo.

Melodee ligou o celular. Estava na hora de comprar um celular novo, embora ela amasse o seu, velho de guerra, mesmo com ele demorando eras para iniciar.

- Eu meio que surtei ontem - Arthur disse.

- Oi?

- Ontem. Quando você me contou sobre a vaga de emprego.

- Humn...

- Me desculpe.

- É mais como um estágio. É uma vaga de Trainee.

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