24 - O pior timing do mundo

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"A vida tinha outros planos para eles hoje. Sempre havia outros planos"

(A Poesia dos Desafetos, página 83)

> pelo amor de Deus, me diz que vc vem

Arthur estava nessa de fazer suspense desde que Melodee havia recebido a confirmação de que a vaga na Honório & Mirla era dela, porém, esse não era um bom momento para isso. Ele tinha que aparecer ou encarariam o Apocalipse em poucas horas.

A Honório & Mirla, a maior empresa de consultoria ambiental do Brasil (Melodee repetiu isso tantas vezes que Téo decorara), levava muito a sério a máxima de que tempo é dinheiro. Em menos de duas semanas, eles fizeram a coisa toda acontecer. Convocaram Mel para uma entrevista mais pessoal, assinaram a carteira dela, descolaram um passaporte em tempo recorde e deram a Mel uma data, um horário e um número de poltrona para um vôo direto para o Canadá. A melhor amiga de Téo já estava arrumando as malas. Num piscar de olhos, estariam conversando apenas virtualmente. O que o confortava era que estava claro que aquilo era o que Melodee queria. E a empresa queria Melodee. Eles não pouparam esforços para ter Mel com eles o mais rápido possível.

Vic deu a ideia da festa de despedida, e os pais de Melodee ficaram tão animados que decidiram fazer uma festa surpresa. Era a chance de finalmente darem uma festa para a filha, visto que Mel havia vetado todas as sugestões de festas desde seus seis anos de idade. Ela sempre descartava a festa.

Quer a boneca ou a festa? Boneca.

Quer o videogame ou a festa? Videogame.

Quer a viagem ou a festa? Viagem.

Quer o pônei ou festas garantidas para o resto da sua vida? Pônei. Definitivamente, o pônei.

Então, agora, ela teria sim essa festa, quisesse ou não. Téo e Vic hesitaram um pouco, mas também queriam esse tempo com Melodee. Queriam reunir todas as pessoas que gostavam dela, queriam que ela se sentisse querida, que ela fosse para o Canadá cheia de amor e carinho na bagagem.

Mas Arthur não havia dado as caras. Ainda. Téo mantinha alguma esperança.

Melodee tinha saído para uma reunião com o produtor da Hashtag, mas era tudo de mentirinha. Ele fazia parte do plano. Só precisavam tirar Mel de dentro de casa. Ela simplesmente não saía. Quando começou a arrumar as malas, ela mal saía do próprio quarto. Era como se quisesse absorver sua casa por inteiro, guardar a memória mais vívida possível para não esquecer de tudo nesse um ano que passaria fora. O produtor havia ligado avisando que a "reunião" já tinha terminado, ele enrolou Mel o máximo que pôde, mas ela já estava voltando para casa.

- Ele vem? - Vic se pôs ao lado de Téo.

- Tenho certeza que sim - Respondeu, confiante.

Estavam na sala de estar da casa de Mel, sala que estava enfeitada com bolas e alguns cartazes com vários recados escritos por todos os convidados para a festa de despedida. Téo e Vic ficaram encarregados de chamar os amigos de Mel sem que ela percebesse a movimentação. Foi bem difícil para Téo, visto que Melodee o lia com muita facilidade, mas Vic fez a maior parte do trabalho. Eram eles, os pais de Mel, a mãe de Téo e Liv, o pessoal do pré-vestibular, os amigos dela do curso técnico, alguns dos colegas do Ensino Médio, o pessoal da gravadora, incluindo os garotos da Hashtag (A Mel iria enlouquecer vendo esses caras na casa dela) e Gutti com meia dúzia de pessoas do Melodee Dantas Fã Clube. Mel era muito amigável, mas não deveria perceber. Ela não precisava ser extrovertida para se fazer notar. O jeito delicado dela falava por si só, e as pessoas simplesmente gostavam dela. Tiveram que deixar um monte de gente de fora da lista de convidados porque não ia caber todo mundo na casa.

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